sexta-feira, 24 de fevereiro de 2017

Mudanças na Baixa de Lisboa tornaram-na estranha aos 'seus'


Entre outros muito importantes destaques neste importante documento de referência, este:
"São 90 as lojas de “souvenirs made in China/Asia” - 11% no total de 788 de comércios e restauração-cafetaria (sem hotelaria), um numero assinalável em tão pouco
tempo – 10 vezes mais em 6 anos - a marcar negativamente a imagem da Baixa: com uma exposição idêntica em todas estas lojas, em placards sobrecarregados de artigos idênticos, sem elaboração nem primor, nada tendo a ver com a apresentação comercial lisboeta."
Qual é o mistério da capacidade de investimento destas lojas asiáticas?
Que vantagens fiscais e isenções de leis de trabalho usufruem estas lojas ? O que lhes permite e torna possível pagar rendas de 4.000 e 5.000 euros sem pestanejar ?
Que política fiscal para os negócios há no país, que favorecem uns e asfixiam outros?
Cada vez que a questão da invasão saturante das lojas asiáticas e a questão da qualidade dos seus produtos é levantada, de imediato neutraliza-se de forma inibidora o ritmo e a natural capacidade de discernimento do evidente, com o argumento da etnicidade."
OVOODOCORVO

Mudanças na Baixa de Lisboa tornaram-na estranha aos 'seus'
23 fev 2017 · 19:49

A Baixa de Lisboa tornou-se numa zona “estranha aos nacionais”, devido à perda de moradores e de espaços de comércio local, afirma o sociólogo e economista Guilherme Pereira, autor do estudo “Mudanças e globalização na Baixa pombalina”.

“Se tínhamos uma Baixa desertificada e envelhecida, agora temos uma Baixa estranha aos nacionais, em perda de moradores, de comércios locais, virada para os de fora, em que as ofertas e as ementas são para turistas, em que perdemos as lojas que nos atendiam - contei 117 encerradas nestes últimos anos”, declarou à Lusa o sociólogo e economista.

No âmbito do estudo “Mudanças e globalização na Baixa pombalina”, que faz uma comparação entre a atualidade – dados de 2016 e do início de 2017 – e um levantamento realizado entre 2008 e 2012, Guilherme Pereira verificou que das 900 lojas hoje observadas (junho e julho 2016), 50% já existiam entre 2010 e 2012, 45% são novas e as restantes 5% não foi possível apurar a data de abertura.

“As ruas do Ouro, Augusta e da Prata foi onde encerraram mais estabelecimentos – 43 dos 105 encerrados entre 2010 e 2016 e as novas lojas surgiram predominantemente nestas mesmas ruas - Augusta, do Ouro e da Prata –, bem como nas da Madalena e Fanqueiros, o que no conjunto totaliza 51% das novas atividades abertas”, apurou o sociólogo e economista, através do estudo publicado este mês.


A maior parte das novas lojas da Baixa estão instaladas em prédios não reabilitados, enquanto “os edifícios renovados, na maioria das vezes por demolição integral do interior, são configurados e abertos para hotéis e não tanto para habitação nem comércio”, revelou o estudo.

De acordo com Guilherme Pereira, a ideia da realização do estudo surgiu em 2008 quando se pronunciava uma renovação da Baixa e estava em curso uma candidatura da Baixa e Chiado a património da Unesco, pelo que a atualização dos dados entre 2016 e o início de 2017 foi “um balanço das mudanças entretanto operadas, muito maiores do que se supunha à partida”.

“A observação quotidiana, de passagem, desperta a análise mais atenta e aí surgem revelações, que não se esperavam”, afirmou o autor do estudo, referindo o “enorme número de lojas de ‘souvenirs low-cost’, que se multiplicaram por 10 em seis anos, enquanto as de artesanato nacional se reduziram e as de artesanato de outros países quase desapareceram”.

Questionado sobre os principais problemas existentes atualmente na Baixa pombalina, o sociólogo e economista apontou “a reabilitação para uso e mercados externos, o despejo de comércios – mesmo se viáveis e em pleno funcionamento –, a saída de moradores por alta de rendas ou por não renovação de contratos de arrendamento, a subida de rendas e dos preços de venda para bolsas estrangeiras e não para o mercado local”.

Neste sentido, Guilherme Pereira alertou que a Baixa pombalina está a tornar-se numa “zona alheia à cidade, à semelhança de outros bairros de Lisboa”.


Como recomendações para os problemas apurados no estudo, o sociólogo e economista propõe a reforma da lei do arrendamento, a definição de cotas de áreas de construção permitidas e licenciadas para comércio, serviços, hotelaria e habitação, o condicionamento do alojamento local, a classificação de lojas com história, a aprovação de projetos de reabilitação urbana que salvaguardem uma parte de área residencial, de comércios e de serviços a preços e rendas condicentes com a economia e a população local, assim como a garantia e fiscalização da construção antissísmica.

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