domingo, 12 de fevereiro de 2017

"Marcelo está a descredibilizar-se", defende José Eduardo Martins / Marcelo considera que a coligação de esquerdas superou as expectativas /Apoiante de Marcelo diz que "já não há ninguém" no PSD contente com o PR


"Marcelo está a descredibilizar-se", defende José Eduardo Martins

O ex-deputado social-democrata diz que "ninguém pode ser feliz pegando fogo ao sítio onde nasceu". O recado é para o Presidente da República, oriundo do PSD.

PÚBLICO 11 de Fevereiro de 2017, 16:53

As críticas dos sociais-democratas a Marcelo Rebelo de Sousa e à sua excessiva colagem ao Governo têm sido feitas em surdina. Mas agora, José Eduardo Martins levanta a voz para assumir, no Diário de Notícias, que o Presidente da República se "descredibilizou" e revelou parcialidade ao assumir a defesa do ministro das Finanças.

José Eduardo Martins, que foi apoiante de Marcelo quando era candidato a Belém, sentiu-se "um bocadinho envergonhado" por ter ouvido o Presidente dizer que "ou há um documento escrito pelo senhor ministro das Finanças em que ele defende uma posição diferente da posição do primeiro-ministro ou não há. Se não há é porque ele tinha a mesma posição do primeiro-ministro".

Atendendo a que se assumia como um indefectível de Marcelo, o ex-deputado diz que, se até já ele é crítico, então "não pode haver ninguém no PSD que esteja contente" com o Presidente. "Até aqui as pessoas [dentro do PSD] encolhiam os ombros [sempre que ouviam o chefe de Estado defender o Governo]. Mas agora a coisa piorou muito."

José Eduardo Martins avisa que "ninguém pode ser feliz pegando fogo ao sítio onde nasceu" e conclui: "Custa-me muito dizer isto mas tenho de o fazer. Se há apoiante de Marcelo no PSD sou eu. Mas está a descredibilizar-se. A ele e à função presidencial".

Marcelo considera que a coligação de esquerdas superou as expectativas
Numa entrevista ao El País, o chefe de Estado explica que, "depois dos primeiros meses difíceis", com um crescimento do PIB quase nulo, "o Governo demonstrou que mantinha o défice controlado".

LUSA 12 de Fevereiro de 2017, 0:48

O Presidente da República considera que em Portugal "a coligação de esquerdas superou as expectativas", numa entrevista ao jornal espanhol El País divulgada hoje no portal do diário espanhol e que deverá ser publicada na íntegra na edição em papel de domingo.

"Portugal vive uma experiência inédita", afirma Marcelo Rebelo de Sousa, acrescentando que "ninguém sabia como se iria desenvolver o compromisso à volta do programa de esquerda moderada do Partido Socialista com partidos que, em teoria, têm dúvidas sobre a NATO, sobre o euro, sobre as políticas económicas de Bruxelas".

O chefe de Estado explica que, "depois dos primeiros meses difíceis", com um crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) quase nulo, "o Governo demonstrou que mantinha o défice controlado", havendo "uma recuperação do emprego e um maior crescimento do PIB".

"Porquê? Porque o Governo decidiu com as negociações do orçamento de 2016 aceitar o essencial do compromisso europeu de Bruxelas", conclui Marcelo Rebelo de Sousa.

O artigo do El País refere que o Presidente da República é uma figura "atípica", que cumpriu o que prometeu na campanha eleitoral: "construir pontes, fechar feridas".

Marcelo Rebelo de Sousa observa que o Governo português tinha "um complexo problema bancário" e "muitos problemas conjuntos", mas deu "passos para a frente" e foram "superadas as expectativas iniciais". "Agora, há que ir mais longe no crescimento e reformas estruturais da administração" pública, sublinha.

Marcelo Rebelo de Sousa considera que "o Presidente tinha de mostrar uma posição de apoio ao Governo" - não um "apoio incondicional", mas um apoio "com condições claras" - e que houve "um ambiente distendido, não tão crispado, uma boa cooperação entre Presidente, Governo e Parlamento".

O chefe de Estado defende que Portugal e Espanha têm de ser "um exemplo de estabilidade política e económica", numa altura em que noutros países europeus "há dúvidas sobre políticas europeias essenciais".

"O egoísmo dos tempos de crise, que cerra portas, não abre novas perspectivas num momento em que é necessária a inovação. Necessitamos de mais cultura política", afirma.

Por outro lado, Marcelo Rebelo de Sousa minimiza o diferendo entre Portugal e Espanha sobre a central nuclear de Almaraz: "Não há uma família em que os irmãos ou os cônjuges não tenham um ponto, dois pontos de divergência. Há que resolvê-los. Não é um drama", afirmou.

A 16 de Janeiro, Portugal apresentou à Comissão Europeia, em Bruxelas, uma queixa relacionada com a decisão espanhola de construir um armazém de resíduos nucleares em Almaraz, sem avaliar o impacto ambiental transfronteiriço.

O Governo português defende que, no projecto de um aterro de resíduos junto à central nuclear de Almaraz, "não foram avaliados os impactos transfronteiriços", o que está contra as regras europeias.


Os ambientalistas portugueses e espanhóis estão contra o prolongamento da licença de exploração de Almaraz e desconfiam que a decisão de construção desse aterro seja o primeiro passo para prolongar a vida da central para além de 2020.

Apoiante de Marcelo diz que "já não há ninguém" no PSD contente com o PR
11 DE FEVEREIRO DE 2017
10:55
João Pedro Henriques

José Eduardo Martins diz que o Presidente da República se "descredibilizou" com a falta de imparcialidade que revelou ao proteger o ministro das Finanças. Marcelo foi longe de mais e, garante, perdeu a compreensão do PSD

O caso CGD/Domingues/Centeno atinge, por tabela, a relação do PSD com o seu ex-líder e atual Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa. Da lua-de-mel que existiu em tempos já não sobra nada ou quase nada.

Um dos seus mais empenhados apoiantes dentro do partido, José Eduardo Martins, não gostou nada de ver Marcelo sair em defesa do ministro das Finanças, acusado pelo PSD e pelo CDS de mentir ao Parlamento no caso das polémicas em torno da passagem de António Domingues pela presidência da Caixa Geral de Depósitos.

"Ou há um documento escrito pelo senhor ministro das Finanças em que ele defende uma posição diferente da posição do primeiro-ministro ou não há. Se não há é porque ele tinha a mesma posição do primeiro-ministro, para mim é evidente", disse o Presidente da República - declaração que enfureceu Martins.

Declarando-se "um bocadinho envergonhado", José Eduardo Martins afirma que, se até já ele se tornou crítico, então "já não pode haver ninguém no PSD que esteja contente" com Marcelo. "Até aqui as pessoas [dentro do PSD] encolhiam os ombros [sempre que ouviam uma declaração do PR em defesa do governo]. Mas agora a coisa piorou muito."

Para José Eduardo Martins, sabe- -se que, historicamente, é normal os presidentes da República fazerem um primeiro mandato "a agradarem a quem não votou neles". Mas Marcelo foi, no seu entender, longe de mais, o que é incompreensível porque "ninguém pode ser feliz pegando fogo ao sítio onde nasceu".

Demissão "fora de questão"

"Custa-me muito dizer isto mas tenho de o fazer. Se há apoiante de Marcelo no PSD sou eu. Mas ele está a descredibilizar-se - a ele e à função presidencial", afirma o dirigente laranja (que é tudo menos um apoiante de Passos Coelho, embora atualmente esteja a preparar o programa eleitoral para quem for o candidato do seu partido à Câmara Municipal de Lisboa).

Ontem, o primeiro-ministro voltou a reafirmar a confiança no seu ministro das Finanças, dizendo que uma demissão "está fora de questão". "Por isso, confiança no ministro das Finanças, admiração de todo o país pelo trabalho que tem vindo a ser feito, não vou perder tempo a dedicar-me àquilo que são tricas, e sobretudo vamos fazer aquilo que temos de fazer, que é termos uma CGD forte e bem administrada."


Afirmando que Centeno "conseguiu o menor défice de sempre da nossa democracia, honrou o nosso compromisso de virar a página da austeridade e está a criar condições para que as empresas possam investir", o primeiro-ministro sublinhou ainda o seu "excelente trabalho" relativamente "a um desafio que tinha sido adiado pelo anterior governo e que tem a ver com a estabilização do sistema financeiro". "Uma após outra, serenamente, cada uma das instituições financeiras tem vindo a encontrar a boa solução", disse, referindo os casos da OPA do BPI, da capitalização do Millennium e da autorização da UE à CGD para se capitalizar.

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