quarta-feira, 1 de abril de 2015

Falta de investimento compromete o futuro Temos os cofres cheios. Mas estamos mais ricos? Não. Estamos muito mais pobres. Depois de um gigantesco esforço de ajustamento, onde estamos afinal?


Falta de investimento compromete o futuro
Temos os cofres cheios. Mas estamos mais ricos? Não. Estamos muito mais pobres. Depois de um gigantesco esforço de ajustamento, onde estamos afinal?
GRAÇA FRANCO / 31-03-2015 / RR/SAPO

Os dados do INE sobre a mais recente evolução do desemprego e da economia em geral constituem uma espécie de balde de água fria. Afinal, não só não entrámos em 2015 com o desemprego a cair, algo que estava dado como certo, como, pelo contrário, ele não para de aumentar há quatro meses, tendo ultrapassado em Fevereiro, outra vez, a barreira dos 14 % da população activa (35 % quando falamos em desemprego jovem, ou seja, dez pontos acima do valor registado antes de iniciado o regaste).

Já seria mau, mas há pior: a queda a pique do investimento (30% só entre 2011/2012) não nos permitirá dar a volta à situação dos tempos mais próximos. E não é garantido que, mesmo em retoma económica, o desemprego não permaneça muito tempo em torno destes valores. Para cúmulo, o motor do crescimento está de novo no consumo e não é garantido que logo que a economia retome não venha a degradar-se de novo e rapidamente o velho défice externo.

Temos os cofres cheios. Mas estamos mais ricos? Não. Estamos muito mais pobres. Depois de um gigantesco esforço de ajustamento, onde estamos afinal? A resposta não é fácil e ainda há poucos meses parecia permitido algum optimismo, que os dados revelados nas últimas semanas vieram substituir por um quadro desolador. Não só o motor das exportações gerado no início da crise, já cedeu de novo lugar ao velho motor do consumo, como a queda do investimento constitui uma espécie de travão ao crescimento potencial da economia.

Se a economia começar a crescer consistentemente abaixo dos 2% nos próximos anos, como agora tudo parece apontar, lá se vão as expectativas de criação de emprego a médio prazo. O emprego não tem também parado de cair, com a população empregada a ficar-se agora pouco acima dos 4,3 milhões. Ou seja, nem sequer estamos num daqueles momentos em que os desistentes regressam ao mercado, fazendo aumentar a população activa de forma a permitir que o desemprego se agrave enquanto o emprego também já está a subir.

É verdade que o crescimento para este ano foi revisto em alta, para valores próximos de 2 %. Isto seria, em si mesmo, um dado positivo não fora saber-se, agora, que no fundamental a economia portuguesa está muito longe de ter mudado o que devia. Não só as exportações sobem bastante menos do que o inicialmente previsto, como as importações estão, pelo contrário, a subir demais colocando o défice externo a ameaçar voltar a agravar-se a qualquer momento.

Temos salários baixíssimos. Não é portanto por aí que poderá vir algum ganho de competitividade adicional. Dados comparados ontem revelados pelo Eurostat mostram que, sem contar com a administração pública e a agricultura, o salário médio por hora em Portugal estava, em 2014, pouco acima dos 13 euros (dez cêntimos abaixo do valor do ano anterior) ou seja menos de metade da média dos nossos parceiros da Zona Euro e quatro vezes menos do que os 54 euros registados na Noruega.


O problema da nossa competitividade não reside aqui, onde a Troika parece ter apostado todos os cavalos. Em contrapartida, temos uma economia altamente endividada e descapitalizada. A queda do investimento rondou os 30 por cento em termos reais entre 2011/2012, superando as piores expectativas e comprometendo o futuro. De acordo com os dados da Comissão Europeia (hoje citados pelo Público) o stock de capital por pessoa empregada em Portugal (que engloba normalmente o montante de equipamento/ maquinaria instalada etc…) não andará longe da metade do existente na média dos nossos parceiros. Isto não apenas significa que o progresso tecnológico está razoavelmente comprometido como limita o nosso “produto potencial”, atirando para valores próximos da estagnação (em torno dos 1,25% anuais, segundo as últimas estimativas do FMI para Portugal). Com crescimentos desta ordem o chamado desemprego estrutural, que em 98 ainda pouco superava os 5%, é bem possível que estabilize agora perto dos 15% da população activa. Alguém imagina o custo social de um desemprego assim?

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