Grécia apela ao diálogo após
queixas a Juncker por Portugal e Espanha
LEONETE BOTELHO e
RITA SIZA 01/03/2015 - PÚBLICO
Depois de um dia de contactos diplomáticos no eixo
Portugal-Espanha-Bruxelas e palavras duras do primeiro-ministro espanhol, o
Governo grego veio desculpar-se e falar em "más interpretações" do
discurso de Tsipras.
Foi um domingo em
cheio. Ao longo de todo o dia, houve contactos entre as delegações de Portugal
e de Espanha e o gabinete do presidente da Comissão Europeia Jean-Claude
Juncker. Ninguém escreveu cartas, mas houve mensagens, emails e muitos
contactos telefónicos. E palavras duras de Mariano Rajoy. Ao fim do dia, o
Governo grego veio tentar minimizar a polémica: afinal, tudo não passou de “más
interpretações” do discurso do primeiro-ministro Tsipras na véspera, em Atenas.
“O novo Governo
grego não categoriza os países e os povos como amigos ou inimigos”, afirmou uma
fonte do executivo helénico à agência Reuters, ao fim da tarde. “Qualquer má
interpretação do discurso do primeiro-ministro grego não ajuda o diálogo”.
Palavras repetidas
à agência espanhola Efe, mas com uma nova expressão: "O executivo grego
não está à procura de inimigos externos". Era a resposta directa ao
presidente do Governo espanhol que, num acto de pré-campanha do PP em Sevilha,
tinha sido duro com Tsipras. "Ir à procura de um inimigo externo é um
truque que já vimos muitas vezes ao longo da história, mas que não nos resolve
os problemas, apenas os agrava", afirmou Mariano Rajoy. "A única
forma de resolver os problemas é ser sério, dizer a verdade, não prometer o que
não depende de ti e não podes cumprir, e governar”.
"O novo
Governo grego não classifica os países e os cidadãos da Europa como amigáveis
ou hostis. Por isso, não procura inimigos externos, mas sim soluções para toda
a Europa através da cooperação e o diálogo entre os povos e os governos",
acrescentaram fontes gregas à Efe.
Era a água na
fervura que fazia falta e que pode ter sido o resultado da intervenção da
Comissão Europeia, que durante o dia se recusou a fazer comentários à polémica,
sublinhando apenas o seu papel de “mediador”. "Para a Comissão
Europeia", disseram fontes comunitárias citadas pela Efe, "é difícil
comentar os comentários dos outros, especialmente porque a Comissão quer agir
como um mediador e facilitador de acordos". "Não somos surdos nem
cegos e ouvimos o mundo todo. Sabemos que há vozes construtivas e vozes menos
construtivas. Mas não vamos comentar", ressalvaram as mesmas fontes.
Ao PÚBLICO, a
porta-voz do presidente da Comissão Europeia, Mina Andreeva, confirmou que
houve “vários contactos entre as delegações de Portugal e Espanha e o gabinete
do presidente Jean-Claude Juncker”, que nas suas palavras “tem conhecimento das
reclamações” dos dois Governos ibéricos relativamente às declarações do
primeiro-ministro da Grécia perante o comité central do Syriza.
Quem tomou a
inciativa?
A polémica
rebentou pela manhã em Espanha, quando a agência Efe divulgou que fontes do
Governo espanhol anunciaram ter enviado um protesto conjunto de Espanha e
Portugal aos presidentes da Comissão Europeia, Jean-Claude Juncker, e do
Conselho Europeu, Donald Tusk, depois de Tsipras ter dito perante o comité
central do partido Syriza que as "forças conservadoras europeias
minaram" cada passo para um acordo com a Grécia, para evitar que o exemplo
grego criasse escola em Espanha e Portugal.
À Lusa, fonte do
Governo espanhol confirmou que foi enviado um protesto conjunto de Portugal e
Espanha e acrescentou que a iniciativa partiu de Lisboa. "Espanha aderiu à
iniciativa portuguesa", disse a mesma fonte de Madrid.
Em Portugal,
aquilo que terá sido uma fuga de informação indesejada foi recebida com
incómodo. Do gabinete do primeiro-ministro veio o desmentido da existência de
qualquer carta ou que Pedro Passos Coelho tivesse falado com Jean-Claude
Juncker ou Donald Tusk. Mas foram confirmados contactos com “instituições
europeias através dos canais diplomáticos” para sublinhar a “perplexidade
perante acusações infundadas”.
O PÚBLICO sabe
que as mensagens de desagrado, tanto pelo telefone como por via electrónica,
foram transmitidas pelos respectivos representantes permanentes em Bruxelas. A
Representação Portuguesa (Reper), dirigida pelo embaixador Fezas Vital,
recusou-se no entanto a confirmar ter sido o canal diplomático do Governo
português. “Não temos nada a acrescentar
à posição que o gabinete do senhor primeiro-ministro transmitiu hoje”,
respondeu ao PÚBLICO o porta-voz da Reper.
O que o gabinete
de Passos Coelho não desmentiu é que tenha tido a iniciativa de fazer chegar o
assunto à Comissão Europeia. Mas o incómodo nos dois países já vinha da
véspera.
Portugal
respondeu logo no sábado a Tsipras, através do porta-voz do PSD, Marco António
Costa, que afirmou que a "conturbação e dificuldades internas do Syriza
não justificam a invenção de histórias nem de desculpas para envolver
terceiros". "Está na hora de os responsáveis assumirem as suas
próprias responsabilidades e não continuarem a sacudir a água do capote e
enjeitar as responsabilidades que são próprias das suas decisões", frisou
o vice-presidente do PSD.
Neste domingo,
apenas se ouviu da maioria lusa mais uma voz a criticar Alexis Tsipras. Nuno
Melo, eurodeputado e dirigente do CDS, escreveu no Facebook um post em que
acusa o primeiro-ministro grego de “entrar no domínio da alucinação”. “
Ficcionando adversários externos, Tsipras pode tentar resolver a contestação
que já tem na rua e sente no interior do Syryza. Não resolve é os problemas da
Grécia”
Governo grego diz que não procura
"inimigos externos" em resposta a Rajoy
01 Março 2015,
20:28 por Lusa / Jornal de Negócios
O Executivo grego
afirmou este domingo que não está à procura de "inimigos externos",
respondendo desta forma ao presidente do Governo espanhol, Mariano Rajoy, que
contestou as críticas a Espanha e Portugal feitas pelo primeiro-ministro
helénico.
"O novo
Governo grego não classifica os países e os cidadãos da Europa como amigáveis
ou hostis. Por isso, não procura inimigos externos, mas sim soluções para toda
a Europa através da cooperação e o diálogo entre os povos e os governos. Portanto,
qualquer má interpretação não ajuda ao diálogo", disseram fontes do
Executivo helénico à agência de notícias espanhola EFE.
Esta foi a via
encontrada por Atenas para responder às declarações de Rajoy que, hoje, num
comício de pré-campanha do Partido Popular em Sevilha, reagiu a uma crítica
prévia de Alexis Tsipras, primeiro-ministro grego, que acusou Espanha e
Portugal de tentarem levar a Grécia ao "abismo" para "evitar um
risco político interno".
Rajoy realçou:
"Procurar um inimigo fora é um truque que temos visto muitas vezes ao
longo da história, mas não resolve os problemas, só os agrava, e a única forma
de resolver os problemas é ser sério, dizer a verdade, e não prometer o que
sabes que não podes cumprir porque não depende de ti".
As referidas
fontes governamentais gregas salientaram que Tsipras, no seu discurso, apenas
quis explicar com detalhe ao povo grego a "negociação dura de um Eurogrupo
decisivo que acabou em acordo".
Já Rajoy tinha
dito que o Governo espanhol não é responsável pela "frustração que gerou a
esquerda radical grega, que prometeu aos gregos aquilo que sabiam que não
podiam cumprir, como ficou demonstrado".
Em Portugal
também houve uma reacção às declarações de Tsipras, com uma fonte do gabinete
do primeiro-ministro, Pedro Passos Coelho, a indicar hoje à Lusa que o Governo
português manifestou a sua perplexidade perante "acusações
infundadas" do primeiro-ministro grego através de canais diplomáticos, mas
não escreveu qualquer carta de protesto.
Segundo a mesma
fonte, Pedro Passos Coelho, não falou nem com o presidente do Conselho Europeu,
Donald Tusk, nem com o presidente da Comissão Europeia, Jean-Claude Juncker,
nem lhes endereçou qualquer missiva de protesto sobre as acusações de Alexis
Tsipras de que Portugal e Espanha teriam tentado bloquear um acordo no
Eurogrupo.
O gabinete do
primeiro-ministro confirmou, contudo, a existência de "contactos através
de canais diplomáticos" para sublinhar a perplexidade do Governo português
perante acusações de Alexis Tsipras que classifica de infundadas.
No sábado, numa
reunião do comité central do seu partido, Syriza, Tsipras afirmou que, no
Eurogrupo, a Grécia se deparou "com um eixo de poderes, liderado pelos
governos de Espanha e de Portugal que, por motivos políticos óbvios, tentou
levar a Grécia para o abismo durante todas as negociações".
"O seu plano
era e é desgastar-nos, derrubar o nosso Governo e levá-lo a uma rendição
incondicional antes que o nosso trabalho comece a dar frutos e antes que o
exemplo da Grécia afecte outros países, principalmente antes das eleições em
Espanha", previstas para o final deste ano, acrescentou, citado pela
agência espanhola Europa Press.
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