domingo, 22 de março de 2015

Os Pirenéus testam a resistência da Europa / Marine Le Pen conta vitórias para se tornar a líder da direita francesa / Da França à Andaluzia: à espera de tempestades / ‘Abandoned’ French working class ready to punish left’s neglect by voting for far right /Espanha e França começam a votar fim do bipartidarismo.

Os Pirenéus testam a resistência da Europa
A Europa está com os olhos postos em França e a França pode já estar com um pé fora da Europa
EDITORIAL / PÚBLICO
22-3-2015

Hoje os espanhóis na Andaluzia e os franceses nas eleições departamentais vão provavelmente consolidar a tese de que terminou o bipartidarismo nos dois lados dos Pirenéus. Em Espanha, as eleições autonómicas provavelmente só permitirão uma leitura nacional a 29 de Maio. Mas do outro lado da fronteira a Frente Nacional (FN) pode confirmar já hoje na primeira volta a tese de que a vitória nas eleições europeias não foi um acto isolado.
Se as europeias foram lidas como um voto de protesto, as departamentais em França serão um voto de implantação territorial para a FN, e, como reconhece a própria Marine Le Pen, “não há sucesso presidencial se não houver uma malha territorial”. Ou seja, é a FN a pavimentar a estrada que a poderá levar à Presidência da República em 2017 — o que seria preocupante ou mesmo dramático para o projecto europeu. O partido nacionalista e populista quer o regresso ao franco, defende a saída da União Europeia, o fim de Schengen e é anti-imigração. E todas estas crenças são pinceladas por laivos de xenofobia, racismo e intolerância. O PÚBLICO foi visitar Fréjus, a maior cidade conquistada pela FN nas eleições municipais há um ano, e encontrou um presidente de câmara cuja primeira medida de governação foi retirar a bandeira da União Europeia do edifício da câmara.
Numa altura em que muitos europeus não se revêem e não encontram respostas na clássica dicotomia direita/esquerda, vão nascendo por esta Europa forças políticas radicais que ameaçam fazer implodir o sonho da integração europeia. Mario Draghi do BCE formula a questão com uma simplicidade desconcertante: “Os países têm de se sentir melhor dentro [do projecto europeu] do que se estivessem fora.” E essa percepção não está a acontecer em várias partes da Europa, a começar pela Grécia, que hoje é governada por um partido de extrema-esquerda.
Numa entrevista este fim-de-semana ao semanário Expresso, Marine Le Pen diz que “o euro e a austeridade estão indissociavelmente ligados”. É este ciclo e esta percepção que é preciso serem quebrados. E mesmo assim não chega. É preciso mudar a forma e a legitimidade no processo de tomada de decisões sobre o próprio projecto europeu. É embaraçoso, para não dizer vergonhoso, episódios como aquele que aconteceu no final desta semana, quando no meio de uma reunião do Conselho Europeu Tusk, Juncker, Draghi, Dijsselbloem, Hollande e Merkel se fecharam numa sala com Tsipras para discutir o futuro da Grécia no euro. O primeiro-ministro belga veio dizer que estava furioso: “Não demos nenhum mandato nem à França nem à Alemanha para negociar em nosso nome.” Passos Coelho, claro está, veio dizer que não está “nada incomodado”. O bom aluno até é bom aluno quando não o deixam entrar na sala. São estas e outras incongruências em Bruxelas que ajudam a criar um ambiente fértil para Le Pen e companhia.


Marine Le Pen conta vitórias para se tornar a líder da direita francesa
A Frente Nacional é o partido dos que não se sentem ouvidos por nenhuma outra força política. Na primeira volta das eleições departamentais, hoje, pode ter 30%. O PS deve sofrer uma derrota histórica

Clara Barata / 22-3-2015 / PÚBLICO

Inédito: a Frente Nacional de Marine Le Pen, um partido com falta de militantes, apresenta- se em 93,1% dos círculos eleitorais das departamentais francesas: 1912 dos 2054 que estão em jogo. E as sondagens dão-lhe a vitória a nível nacional, com cerca de 30%, e a possibilidade de, na segunda volta, daqui a uma semana, conquistar quatro a cinco conselhos gerais, que são os órgãos de gestão deste nível da administração regional.
É mais uma malha na rede que Marine Le Pen está a tecer para conquistar a Presidência da República, já nas eleições de 2017. Para ela, a presidência conquista-se a partir de baixo, implantando-se no poder local, com o objectivo de vir a tornar-se o principal partido da direita, suplantando a UMP de Nicolas Sarkozy e obrigando-o a fazer alianças. A direcção nacional da UMP sempre se tem recusado, mas a nível local e dos militantes a partilha de ideias e a aceitação de que é preciso aliar-se com Le Pen é cada vez maior.
“Não há sucesso presidencial se não houver uma malha territorial. O homem político é um animal territorial”, teoriza a filha de Jean-Marie Le Pen. “Daqui a alguns meses vamos lançar-nos nas regionais, depois partiremos ao assalto do Eliseu e da Assembleia Nacional”, afirmou, discorrendo sobre o calendário das próximas eleições em França.
Nas eleições municipais de há um ano, a Frente Nacional (FN) obteve 12 municípios. Agora, no nível acima da administração territorial, espera eleger muitos conselheiros gerais, que se tornarão uma força indispensável para governar os departamentos. “Não faço prognósticos. Uma vitória num departamento seria uma surpresa feliz”, disse Marine Le Pen, modesta.
Na segunda volta, a 29 de Março, o vencedor deve ser a UMP, embora sem grandes méritos próprios. É que tudo indica que haverá um verdadeiro massacre dos candidatos de esquerda. O PS pode ser eliminado logo à primeira volta em 1000 dos 1456 cantões (círculos eleitorais) em que se apresenta. Não só devido a uma abstenção que deve bater recordes, mas porque os socialistas terão a concorrência de outras listas à sua esquerda em 90% dos círculos eleitorais, pois não conseguiram fazer acordos com outras forças.
O medo de Valls
O primeiro-ministro, Manuel Valls, constituiu-se como o principal adversário do avanço que todas as sondagens dizem ser imparável da FN, que fez seu slogan o desejo de ser “o maior partido de França”. “Uma FN que teve 25% nas eleições europeias, que pode ter 30% nas departamentais, não poderá ganhar as presidenciais? Não em 2022, ou 2027, mas já em 2017”, afirmou, dando o tom para o que tem sido o discurso do PS: o medo de um novo “21 de Abril de 2002”, quando Jean-Marie Le Pen passou à segunda volta das presidenciais, eliminando o ex-primeiro-ministro socialista Lionel Jospin, protagonista de reformas sociais como a semana de trabalho das 35 horas.
Valls diz querer “desconstruir” os enganos da FN e usa palavras de grande dramatismo para tentar acordar os eleitores de esquerda do “torpor”: falou da sua “angústia”, do receio de que “França seja esmagada contra a FN”, como um barco sem leme atirado contra os rochedos. “É preciso que os franceses abram os olhos, os candidatos da FN são à imagem do que é a família Le Pen”, afirmou, denunciando as declarações “anti-semitas, racistas e homofóbicas” de “dezenas e dezenas” deles.
Os candidatos da FN parecem-se muito com os seus eleitores. Têm uma idade média de 49,4 anos, são tão jovens como os ecologistas e vêm quase todos do sector privado, diz o Le Monde. E continua a ter falta de militantes com formação superior: 14%. Mas muitos são trânsfugas de outros partidos, que vieram ter com Marine Le Pen por causa do esforço de “normalização” que tem feito. Um exemplo é Julien Odoul, que foi do PS e centrista. Foi manequim, esteve na capa da revista gay Têtu e agora vai defender “a França dos esquecidos” no departamento de Yonne.


Apesar de Le Pen repetir o mantra “nem esquerda nem direita”, a FN é uma formação de extrema-direita, nacionalista e populista, anti-imigração e contra a União Europeia e o euro. Com ela na liderança, no entanto, atraiu muitos franceses que não se revêem no discurso dos outros partidos e se sentem casa com o seu discurso nacionalista com pendor


Da França à Andaluzia: à espera de tempestades
São duas eleições que testam a resistência dos grandes partidos

Jorge Almeida Fernandes / 22-3-2015 / PÚBLICO

Com paisagens políticas e dimensões diferentes, as eleições departamentais de hoje em França e as autonómicas na Andaluzia têm algo em comum. Testam a resistência dos partidos tradicionais perante a ofensiva de novas forças políticas (Espanha) ou perante a ascensão da extrema-direita (França). Em ambos os países, a bipolarização tende a dar lugar a um mapa com três ou quatro forças de peso equivalente, o que desestabiliza as alianças tradicionais.
As eleições andaluzas são o primeiro acto do longo ciclo eleitoral que prossegue em 24 de Maio, com as eleições autonómicas em 13 regiões e municipais em todo o país, uma maratona que culminará nas legislativas de Dezembro que ameaçam transfigurar o quadro político espanhol. As departamentais francesas são encaradas como uma espécie de ensaio geral para as presidenciais de 2017. Em ambos os casos, deverão debilitar os governos do socialista François Hollande e do conservador Mariano Rajoy.
Incógnitas da Andaluzia
A Andaluzia, feudo político do PSOE desde a Transição, é a comunidade mais povoada do país, a que mais dinheiro recebe em relação ao que entrega ao Estado, a que tem a mais alta taxa de desemprego e de pobreza. E uma das regiões onde mais grave é a corrupção. O mais recente escândalo foi o da fraude maciça de falsos cursos de formação. “O PSOE andaluz converteu-se numa enorme máquina clientelar que agora sonha mandar em Madrid”, diz um empresário.
A socialista Susana Díaz, presidente da região, fez uma jogada de alto risco ao romper a aliança com a Esquerda Unida e antecipar as eleições. Queria prevenir a ascensão do Podemos e aproveitar a crise do Partido Popular (PP) para lhe impor uma derrota no primeiro acto do ano eleitoral. Esse triunfo seria o trampolim para conquistar a liderança do PSOE, defenestrando, com o apoio de alguns “barões”, o recém-eleito Pedro Sánchez.
Terá sido um erro de cálculo. Deverá ficar longe da maioria absoluta e, em termos de alianças, tem a vida mais complicada: além do Podemos, emergiu o partido centrista Ciudadanos (C’s), de Albert Rivera, pouco dispostos a sacrificar o seu actual capital político numa aliança com o PSOE andaluz. Rajoy abriu uma porta: deve governar quem tiver mais votos, ou seja, o PP estaria disposto a viabilizar a investidura de Díaz. Mas abre-se um horizonte de instabilidade.
Há uma grande volatilidade na conjuntura política. Se o PSOE não tem perspectivas animadoras, pior estará o PP se as sondagens se confirmarem: poderá perder na Andaluzia 20 dos seus 50 deputados. “Seria um autêntico descalabro, com consequências imediatas na política geral espanhola”, escreve o jornalista Enric Juliana. A votação será também um teste à solidez do eleitorado do Podemos e a primeira prova eleitoral para o C’s.
Trata-se da abertura de um novo ciclo político? Saberemos hoje à noite. E há um elemento suplementar de interesse: as negociações que se seguirão. A Andaluzia pode ser um caso particular, já que Díaz recusa a opinião do PSOE e diz que será ela, e apenas ela, a decidir quando e com quem se aliará. Os grandes partidos confrontam-se com a necessidade de mudar a sua cultura política. É-lhes estranha a experiência de coligações e evitam falar no problema. Anota a jornalista Soledad GallegoDíaz que fazer coligações é complexo. Exige quatro pilares: “A capacidade de manter a coesão interna de cada uma das partes, a repercussão no seu próprio eleitorado, a partilha do poder e a capacidade de influir em políticas concretas.”
As sondagens não prevêem o futuro, são uma fotografia do presente, previnem os profissionais. Se actuais tendências se mantiverem, poderão ser necessários três partidos para formar um Governo nacional.
Uma particularidade da situação espanhola é que, apesar da ascensão do Podemos, a grande maioria dos espanhóis permanece “ideologicamente moderada”, entre centroesquerda e centro-direita. O voto no Podemos não é ideológico. Rajoy aposta na recuperação económica para vencer em Dezembro. Mas os cidadãos continuam “zangados” e pessimistas. Exigem mudanças na vida pública. O PP e o PSOE perderam muito, mas talvez não de “forma irreversível”, relativiza José Juan Toharia, presidente do instituto Metroscopia. Têm pouco tempo para um processo de renovação. “Recuperar parte da credibilidade perdida, embora difícil, não parece impossível.”
Um novo Pasok?
As eleições departamentais francesas rodam em torno de duas incógnitas: o grau de sucesso da Frente Nacional (FN) de Marine Le Pen e a “catástrofe iminente” do Partido Socialista. A direita, a UMP de Nicolas Sarkozy, aliou-se com o centro (UDI) e será a grande beneficiária, arrancando ao PS a hegemonia regional.
A FN obterá um grande resultado na primeira volta: quer proclamar-se como “primeiro partido francês”. Na segunda volta terá dificuldades, dado o sistema eleitoral e o seu isolamento numa votação triangular. À partida, a aliança UMP-UDI não terá dificuldade em a bater. Mas será bom aguardar o teste da segunda volta, onde o partido de Le Pen será, de qualquer modo, um actor de primeiro plano.
A FN tem possibilidade de vencer em dois ou três departamentos, o que seria uma “bomba”. Mesmo que não tenha maioria em nenhum conselho departamental, poderá vir a ser o árbitro em muitos deles. O que colocará à UMP a delicada questão dos acordos com a FN.
“O certo é que estas eleições serão uma viragem maior na história da FN”, resume Sylvain Crépon, estudioso da extremadireita. “As eleições europeias são um escrutínio sobretudo simbólico, uma espécie de desabafo. As departamentais são uma trave mestra do edifício que a FN quer construir.” Tratase da implantação territorial e da “respeitabilidade”, requisitos “para preparar as próximas batalhas nacionais, as presidenciais e as legislativas de 2017.”
Dramática é a situação do PS. Marine designou o primeiroministro Manuel Valls como “adversário principal”. Valls concentrou a campanha na “desconstrução” do incoerente programa da FN e na ameaça que ela constitui para a República, denunciando as tiradas” antisemitas e racistas” de muitos dos seus candidatos.
O grande problema é outro. O PS corre isolado e, mais do que isso, dilacerado. O Governo é diariamente atacado pela sua minoria de esquerda. Benoît Hamon, ex-ministro da Educação de Valls, acusa-o de ser “uma ameaça à República” e causador “de um imenso desastre democrático em 2017”. Por outro lado, a esquerda batalha dividida, o que é uma “política suicidária”. Cada candidato do PS tem ao lado um candidato da aliança entre a Frente de Esquerda e ecologistas a atacá-lo.

Françoise Fressoz, editorialista do Monde, observa que os socialistas se “lançaram numa espiral de morte”, com os seus barões a disputar “os restos da velha casa socialista”. Não são raros os que evocam o exemplo do Pasok grego. Se não souber mudar, o PS pode morrer, avisou Manuel Valls em 2009.


The president of the far-right National Front (FN) party, Marine Le Pen (right), with FN Vaucluse deputy Marion Marechal Le Pen at the market in Avignon. Photograph: Anne-Christine Poujoulat/AFP/Getty Images

‘Abandoned’ French working class ready to punish left’s neglect by voting for far right
Analyst says the immigration fears of blue-collar voters have been ignored by the Socialist party

Kim Willsher

At an election meeting just days before France’s regional elections, a Japanese journalist asked Marine Le Pen a question: why was her far-right Front National party tipped to do so well?

Polls suggest that the FN vote will reach unprecedented levels, with up to 30% of the vote, just ahead of the opposition Union for a Popular Movement (UMP) party and leaving the ruling Socialist party trailing.

“The Front National is alone against everyone. The French people have realised for some time now that the Front National’s analysis is right, and the other political parties have failed,” Le Pen responded. The FN had gone from “a party of opposition … to a movement of government” by addressing “the economy, immigration and Islamic fundamentalism”, she added.

From Le Pen, a damning analysis of this type might be expected. But from a member of the leftwing commentariat? A new “state of the nation” tome, L’Insécurité culturelle, by analyst Laurent Bouvet, has caused a storm in Paris salons by suggesting that the country’s working class is ready to vote FN in droves because it has been abandoned by the left and deceived by the country’s Socialist government.

Bouvet accuses the left of sparking an identity crisis – “cultural insecurity” – among its core blue-collar electorate, by almost exclusively focusing on the problems of minority groups instead of French society as a whole. This has left the workers feeling cast adrift and alienated, he says.

“The economic crisis, unemployment, social problems, globalisation make people afraid, but if it was just about economics we would see these people voting for the radical left, which they are not,” Bouvet told the Observer.

Bouvet is a political science professor and member of the leftwing thinktank the Jean Jaurès Foundation, which advises the Socialist party (PS) and aims to “promote the study of workers’ movements and international socialism and promote democratic and humanist ideas”. He says his latest, decidedly politically incorrect, message is one the left does not want to hear.

Bouvet says PC blinkers have prevented the Socialists from addressing working-class anxieties about immigration and the rise of Islam – even in its moderate form – in areas where the so-called Français de souche (born-and-bred French) find themselves outnumbered by those with a different religion and cultural habits. Branded les petits blancs (white trash), and accused of racism or patronised if they express their fears, they have turned en masse to the FN, he says.

“With no political offer from the left, working-class French people feel they have been abandoned economically, socially and culturally. The FN has stepped into the breach: it says to these people: ‘you are the most important and we will fight for you’.

“The left is trying to make up to what it calls ‘real minorities’ who it believes are discriminated against. In doing so it has become indifferent, even scornful, of the wider French working class. They say to these native French ‘you have not understood, you are racist and sexist’, and so these people have said, so be it. They are ready to admit voting FN because the left has abandoned them and the FN is interested in them.”

Bouvet is particularly scathing of the Socialist “ideas laboratory” Terra Nova, unveiled before Hollande’s successful 2012 presidential election, which suggested the Socialists could win by emulating Barack Obama’s mobilisation of the African, Latino and female vote, and by abandoning its traditional alliance with the middle and working classes.

In a document entitled The France of Tomorrow, Terra Nova said the country would be “younger, more diverse, more feminised”, and declared: “The working class is no longer at the heart of the leftwing vote”.

François de Closets, 81, a former AFP journalist and essayist on French society, agrees with Bouvet’s analysis that the French “political elite” has ignored and, worse, scorned the working classes.

“For the left, for the bobos (bourgeois bohemians), only the gay or ethnic minorities were interesting. It is fascinating to think that a whole generation of researchers whose job it is to observe French society has through ideological blindness not seen this section of France in danger of being attracted to Le Pen,” de Closets said in a recent interview.

“Since the 1990s we’ve seen the workers vote for the FN,” he added. “The party is a chameleon that feeds on anger, discontent and fears. The FN saw the increasing irritation of the working classes faced with immigration.

“When you are on high, well-placed, with a recognised status, the fact of being French doesn’t add much and you can, as an intellectual exercise, consider yourself post-national or European. France is only where you were born. But when you at the bottom of the ladder, poor, in a precarious situation, all that remains is your country. National identity doesn’t have the same significance for a bourgeois or for a proletariat,” de Closets added.

Bouvet argues that Hollande’s government has hugely disappointed the working class by missing the opportunity to enact a “great symbolic social reform” as previous Socialist administrations did with introducing retirement at 60 in 1980, a minimum wage in 1988 and the 35-hour working week in 1997.

“What they were waiting for was a great fiscal reform, a redistribution, which is what Hollande had promised. And symbolically, instead of fiscal reform, taxes have gone up under the Socialists. This matters. Working-class people have said, look how the left governs, and they are disappointed, deceived.

“I’ve been accused of doing the work of the FN, but for me it’s saying things that must be said. It’s better to put these things on the table than sweep them under the carpet. It’s better to air these things in order to fight the FN, which I believe is a danger for the republic.”

Since the book was published in January – before the attacks on Charlie Hebdo newspaper and a Jewish supermarket by Islamist terrorists – Bouvet has been interviewed in the press, television and on radio as well as on social media networks.

A socialista Susana Días acreditava que apanhando os rivais de surpresa chegaria à maioria absoluta
Espanha e França começam a votar fim do bipartidarismo
As eleições departamentais hoje em França e as autonómicas na Andaluzia têm algo em comum

Pedro Sánchez quer ver começar na Andaluzia um ciclo de vitórias que termine com a sua chegada ao poder

Sofia Lorena / 22-3-2015 / PÚBLICO

Os cientistas nunca escolheriam a Andaluzia, mas são os políticos que podem marcar eleições. Os novos actores preferiam não ter ido a jogo tão cedo e logo neste campo. Alguns dos velhos ainda menos. Por tudo isto e mais algumas razões, Susana Días, presidente do governo da região autonómica da Andaluzia, decidiu antecipar a ida às urnas. E, assim, são os andaluzes os protagonistas do primeiro teste real ao terramoto político que é anunciado por cada nova sondagem.
No ano de todas as eleições — autónomas e municipais em Maio, catalãs em Outubro, legislativas em Novembro ou Dezembro —, coube à única região que resistiu ao bipartidarismo, governada há 33 anos pelos socialistas, dar o pontapé de partida. Isto quando no último inquérito do instituto Metroscopia para o jornal El País, há duas semanas, quatro partidos surgem com menos de quatro pontos de distância entre si, em empate técnico.
Em Janeiro, quando anunciou o fim da coligação com a Esquerda Unida, a socialista Susana Días acreditava que apanhando os rivais de surpresa chegaria à maioria absoluta. Nenhuma sondagem lhe dá os 55 lugares que lhe permitiriam governar sozinha no parlamento regional. E quase todas indicam que, desta vez, um pacto com a Esquerda Unida não será suficiente.
As sondagens dizem que os socialistas do PSOE e os conservadores do Partido Popular deixaram de ser os únicos com uma palavra a dizer nos destinos da Espanha. Dizem até que um partido que nasceu há pouco mais de um ano, o Podemos, ganharia as legislativas se estas se realizassem hoje. Mas não, são só os andaluzes que vão às urnas.
Voltemos por um momento ao inquérito mensal do Metroscopia. O Podemos, que nasceu do movimento dos indignados e o ano passado elegeu cinco deputados para o Parlamento Europeu, surge em primeiro pelo terceiro mês consecutivo (22,5% dos votos, menos 5% do que em Fevereiro) — a primeira vez que o partido de Pablo Iglesias conseguiu mais intenções de voto do que o PSOE e o PP foi em Novembro. Se em Fevereiro os eleitores davam ao Partido Popular o segundo lugar, em Março é o PSOE (20,2%) que passa a segundo e o PP (18,6%) desce para terceiro. Em quarto, num dado quase tão surpreendente como foi a irrupção do Podemos, aparece o Cidadãos, com 18,4% das intenções de voto (antes, nunca ultrapassara os 12%).
Nenhum politólogo tem uma explicação cabal para a ascensão meteórica do partido liderado por Albert Rivera, fundado em 2005 na Catalunha com um programa anti-independência. Certo é que Rivera, com 36 anos, os mesmos de Pablo Iglesias, se tornou numa estrela mediática. Os espanhóis estavam desesperados por alternativas. Nesse sentido, o Cidadãos também bebe do sucesso do Podemos, mesmo se apenas os une a defesa de uma reforma da política e dos partidos. Descrevendo-se como centrista, o Cidadãos consegue grande parte do seu apoio (no país e na Andaluzia) entre ex-eleitores do PP.
Se desde 2012, ano do 15M, quando oito milhões de espanhóis acamparam em praças de todo o país a pedir uma democracia diferente, mais de dois terços dos espanhóis querem uma mudança de lideranças, era natural que depois de uma alternativa à esquerda surgisse uma ao centro ou à direita.
E assim chegámos à Andaluzia, terra onde o PSOE governa desde que há democracia — sozinho ou em coligações com a Esquerda Unida ou os nacionalistas do Partido Andaluzista. Certezas, ou antes o que se repete a cada sondagem: os socialistas vão vencer com 45 a 47 lugares do parlamento de 119; o PP será segundo, com cerca de 25% e 34 deputados, três anos depois de ter conseguido eleger 50 e ser, pela primeira vez, o partido mais votado.
A partir daqui é tudo mais incerto: o Podemos surge em terceiro, mas com uma votação que vai dos 15% (15 deputados) aos 19%; a seguir, com intenções de voto que vão dos 6% aos 11% (12 lugares) aparece o Cidadãos, com um candidato, Juan Marín, que antes das municipais de 2007 fundou o Partido Cidadãos Independentes de Sanlúcar (Cádiz) e em 2011 se uniu à formação de Riveras.
A Esquerda Unida, habituada a ser terceiro partido, pode aguentar melhor o embate do que se pensava antes da campanha, quando as sondagens lhe davam entre 6% e 7% e quatro ou cinco deputados. O desconhecido Antonio Maíllo, que assumiu a coordenação regional do partido em 2013, beneficiou das semanas na estrada e dos dois debates a três e pode afinal conservar os 11% de 2012, ainda que com a nova distribuição de votos isso lhe custe quatro dos actuais 12 deputados.
Quase tão desconhecido como Riveras e Maíllo era Juan Manuel Moreno, à frente do PP Andaluz há um ano. Os debates correram-lhe bem, mostrando-se preparado e com uma postura tranquila que contrastou com a agressividade (dizem comentadores e telespectadores) de Susana Días. Para o bem e para o mal, o núcleo duro nacional nunca o abandonou (o primeiro-ministro, Mariano Rajoy, participou em cinco actos de campanha), insistindo no discurso da responsabilidade junto dos seus eleitores históricos mais zangados com a política de austeridade (que aqui teve consequências ainda mais graves do que no resto do país) e repetidos casos de corrupção que envolvem a máquina no partido.
A presença dos líderes nacionais mostra bem a importância da Andaluzia enquanto laboratório do novo tabuleiro político. No palco do comício para 16 mil pessoas onde o Podemos fez os últimos apelos ao voto não esteve só Pablo Iglesias, mas as figuras mais importantes do partido. O principal bastião socialista do país é o pior cenário para o primeiro teste eleitoral pós-europeias do partido. Sem ser uma novata (foi a votos antes de votar, com 18 anos, nas listas da Esquerda Unida), a candidata, Teresa Rodríguez, professora de liceu de 34 anos, era desconhecida da maioria dos andaluzes.
Depois dos votos
Susana Díaz, que assumiu a liderança do governo quando um escândalo de desvio de fundos forçou o afastamento de José Antonio Griñan, foi quem menos desejou a presença do líder nacional do seu partido, Pedro Sánchez, que na sexta-feira partilhou o palco com a candidata pela segunda e última vez. Sanchéz quer ver começar na Andaluzia um ciclo de vitórias que termine com a sua chegada ao poder; Díaz tem ambições nacionais e, apesar de garantir que vai cumprir o mandato, não queria o líder a lembrar aos andaluzes que esteve quase a disputar com ele as primárias para a liderança do partido.
A socialista passou a campanha a pedir maioria absoluta e a recusar negociar com o PP e com o Podemos, sem nunca dizer se o fará com o exparceiro, a Esquerda Unida, ou se admite coligar-se com o Cidadãos. Com alguém terá de negociar e esse processo, depois de contados os votos dos 6,5 milhões de eleitores que decidam votar, mais até do que a ida às urnas, será o verdadeiro laboratório do vendaval partidário espanhol.
Com quem estão dispostos os socialistas a governar num país sem experiência de grandes coligações? Que cedências poderão fazer os partidos emergentes em nome da estabilidade governativa e da chegada ao poder? Quando as sondagens para as eleições gerais antecipam que nenhum partido pode reclamar com tranquilidade o direito a governar, estas questões não dizem respeito só aos andaluzes. À espera das respostas estão os 47 milhões de espanhóis.

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