sexta-feira, 13 de março de 2015

Schäuble, Varoufakis e as tontices colectivas / O que se vê no vídeo de Schäuble que irritou os gregos


Schäuble, Varoufakis e as tontices colectivas
DIRECÇÃO EDITORIAL 12/03/2015 / PÚBLICO

A nova dinâmica que a vitória do Syriza injectou na União Europeia está cristalizada na relação crescentemente difícil entre os ministros das Finanças Wolfgang Schäuble e Yanis Varoufakis. Há sete semanas que assistimos a um braço-de-ferro que envolve ideologia, estilo e método. E psicologia.

Do lost in Greek, passámos ao lost in German. Na segunda-feira, Schäuble contou uma história numa conferência de imprensa de que Varoufakis não gostou. Apareceu nas notícias em todo o mundo a expressão “tonto ingénuo”, que Schäuble teria chamado a Varoufakis. “Foolishly naive” em inglês. Num gesto com o seu quê de presumido, Varoufakis criou um incidente diplomático e exigiu esta quinta-feira um pedido formal de desculpas a Berlim. O gesto, além de presumido, foi precipitado. Não é isso que se ouve no vídeo que a imprensa grega publicou como “prova do insulto”. A tradução, que fizemos já depois de publicarmos a primeira notícia sobre a controvérsia, mostra o ministro Schäuble a falar de “uma longa e intensa conversa bilateral” com o seu homólogo grego. “Não se devem revelar conversas privadas, mas o que vou contar não me parece ser uma inconfidência.” Nessa conversa, conta Schäuble, Varoufakis queixou-se da forma como tem sido retratado pelos media e disse que “os media são terríveis”. “E eu respondi”, continuou o ministro alemão: “‘Na verdade, em matéria de comunicação, tu projectas uma imagem que causa uma forte impressão”, “tal como na substância”. Ao que Varoufakis terá respondido: “Errado. É uma impressão errada.” Nesse momento, alguém na assistência se ri e é então que Schäuble usa a palavra “tonto”. “Não se ria de uma forma tão tonta.” Há uma ligeira pausa e ouvem-se gargalhadas. E Schäuble acrescenta, em jeito de quem termina a história: “E então eu disse-lhe que se, de repente, ele fosse um ingénuo em matéria de comunicação, isso seria para mim uma total novidade”. Schäuble não usou mais a palavra “tonto”. E nunca em relação a Varoufakis. Pelo menos no “minuto da prova”. A Grécia, a Europa e os media não deveriam perder tempo com tontices deste calibre. A história de Schäuble é descabida numa conferência de imprensa, a reacção de Varoufakis é de quem não tem, afinal, muito jogo de cintura e nós, jornalistas, demorámos quatro dias a traduzir um vídeo de um minuto.


O que se vê no vídeo de Schäuble que irritou os gregos
PÚBLICO 12/03/2015 - 22:47

PÚBLICO analisou o vídeo de Schäuble que criou nova tensão entre Berlim e Atenas.
A imprensa grega diz que o ministro alemão das Finanças, Wolfgang Schäuble, "insultou" o seu homólogo grego, Yanis Varoufaki, ao chamar-lhe “tonto ingénuo”. Varoufakis exige um pedido de descupa e Schäuble diz que é um disparate dizer-se que insultou o colega.

Mas afinal o que se vê e ouve no vídeo do ministro das Finanças alemão, um excerto de declarações suas durante uma conferência de impressa esta segunda-feira em Bruxelas, após uma reunião de responsáveis da zona euro?

O PÚBLICO analisou o vídeo. O ministro Schäuble diz que teve “uma longa e intensa conversa bilateral” com o seu homólogo grego e acrescentou que “não se devem revelar conversas privadas, mas o que vou contar não me parece ser uma inconfidência”.

Nessa conversa, Varoufakis queixou-se sobre a forma como tem sido retratado pelos media e disse que “os media são terríveis”. “E eu respondi”, continuou Schäuble, “na verdade, em matéria de comunicação, tu projectas a imagem que causa uma forte impressão”, “tal como na substância”.


Ao que Varoufakis terá respondido: “Errado. É uma impressão errada.” Na assistência da sala da conferência de imprensa, alguém se ri e é nesse momento que Schäuble usa a palavra “tonto”. “Não se ria de uma forma tão tonta.” Há uma ligeira pausa e ouvem-se gargalhadas. E Schäuble acrescenta, em jeito de quem termina uma história: “E então eu disse-lhe que se, de repente, ele fosse um ingénuo em matéria de comunicação, isso seria para mim uma total novidade. Mas nunca se sabe”. No "minuto da prova" do suposto insulto, Schäuble não utiliza a palavra "tonto" para descrever o colega grego.

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