Polícia francesa
"perplexa" com a "sofisticação" do atentado
Por Diogo Vaz
Pinto
publicado em 8 Jan
2015 in
(jornal) i online
Media franceses oferecem as suas instalações e meios à redacção
sobrevivente para que o "jornal continue a viver"
A polícia
francesa está "perplexa" com "o nível de execução e sofisticação
do atentado" de ontem à redacção do jornal "Charlie Hebdo", o
qual "não tem paralelo na recente história do terrorismo na Europa",
confirmou ao i fonte próxima da investigação . Como alguns media franceses
assinalavam, os autores do ataque demonstraram não apenas frieza como precisão
na forma como executaram um plano, sabendo de antemão que, na manhã de ontem,
os jornalistas do "Hebdo" estariam concentrados na reunião de
planeamento do próximo número do semanário. Convém notar que as instalações se
situam no centro de Paris. Segundo relatos, ouviram--se cerca de "50
tiros". Levaram o seu tempo - mais de dez minutos -, depois fugiram,
aparentemente sem deixar rasto.
Além do aparato
ao estilo militar, tanto na forma como vestiam como nas armas, num dos vídeos
que parece capturar o momento em que uma das vítimas foi morta há um atacante
que pode ser observado a apanhar um sapato que perdera junto ao carro de fuga -
trata-se de um sinal que, como destacou o ex-conselheiro em contraterrorismo da
Casa Branca Richard Clarke, em declarações à "ABC News", demonstra
uma descontracção que um amador não teria num momento daqueles. "Eles
exibiram disciplina de fogo, não desataram aos tiros em todas as direcções. São
tipos que não aparentam ter entrado numa acção selvagem, enfebrecidos, mas que
estavam a cumprir uma operação militar", disse Clarke.
Além das 12
vítimas mortais, incluindo dois polícias, dos restantes 11 feridos, quatro
ficaram entre a vida e a morte após dois homens vestidos de negro e
encapuçados, empunhando metralhadoras kalashnikov, terem invadido na manhã de
ontem a redacção do jornal satírico francês, abrindo fogo sobre os jornalistas.
No exterior, um terceiro homem cobria a retaguarda. Os autores do ataque
estavam ainda a monte ao fecho desta edição, embora o jornal francês "Le
Monde"avançasse, ao início da noite, que os três suspeitos já teriam sido
identificados pelas autoridades.
Entre os mortos
estão quatro ilustres cartoonistas que visaram repetidamente os extremistas
islâmicos e o profeta Maomé nas suas sátiras, o que de imediato alimentou a
especulação de que o ataque terá sido levado a cabo por militantes islâmicos. Frank
D., um polícia destacado para a segurança do jornal - que, além de inúmeras
ameaças, tinha já em 2011 sido alvo de um atentado -, terá sido a primeira
vítima. O segundo polícia acorrera ao local após chegarem à central os relatos
do tiroteio. Foi abatido pelos suspeitos já em fuga, na calçada em frente ao
edifício. A sua morte foi registada por um vídeo que entretanto caiu no loop
dos telejornais. Chamava-se Ahmed Merabet. No momento antes de desaparecerem,
os atacantes ainda gritaram: "Vingámos o profeta Maomé! Matámos o 'Charlie
Hebdo'!"
Até ao fecho
desta edição, tudo o que se sabia é que se terão deslocado para a região
nordeste de Paris. O Citroën preto em que seguiam foi localizado perto do metro
de Porte de Pantin, nos subúrbios, depois de os terroristas terem trocado para
outro veículo roubado.
Os mortos do
"Charlie Hebdo" são o editor do semanário, Stéphane Charbonnier,
conhecido como Charb, e os cartoonistas Cabu (Jean Cabut), Tignous (Bernard
Verlhac), Georges Wolinski e Bernard Maris, economista e catedrático, membro do
conselho de governadores do Banco de França, além de outros três jornalistas
cujos nomes não foram divulgados. Morreu ainda uma pessoa que estava na
recepção do edifício e Michel Renaud, fundador de "Rendez--vous de Carnet
de Voyage", um festival de artes e viagens na cidade de Clermont-Ferrand. Estava
de visita à redacção.
Charb dirigia o
jornal desde 2009 e contava frequentemente com protecção policial. Tanto ele
como outros membros da redacção tinham-se já habituado a constantes ameaças.
No Twitter, a
última entrada do "Hebdo" é uma caricatura do autoproclamado chefe do
Estado Islâmico, Abu Bakr al-Baghdadi, acompanhado pelo comentário
"meilleurs voeux" (melhores votos).
O presidente
François Hollande declarou imediatamente que o ataque era um acto de terrorismo
e uma agressão à liberdade de imprensa, e elevou o nível de alerta de segurança
para o escalão máximo em toda a região parisiense. Segundo o jornal "Le
Figaro", todas as redacções de Paris estão a ter protecção policial extra.
Entretanto, e
quando vários meios de comunicação social europeus, para lá das notícias,
expressavam mensagens de solidariedade para com o "Charlie Hebdo", os
grupos empresariais Le Monde, Radio France e France Télévision ofereceram as
suas instalações e meios à redacção sobrevivente do semanário, para que "o
jornal continue a viver".
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