Em apenas três meses economia destruiu 28 mil postos de trabalho
Taxa de desemprego volta a aumentar pelo segundo mês consecutivo,
interrompendo um ciclo de 20 meses de recuos
Raquel Martins e Raquel Almeida Correia / PÚBLICO
/ 7-1-2014
O mercado de
trabalho em Portugal continua a revelar sinais de abrandamento. O desemprego
aumentou em Novembro pelo segundo mês consecutivo — interrompendo um ciclo de
20 meses de recuos —e o emprego voltou a cair, com a população empregada a
recuar mais de 28 mil pessoas em apenas três meses, pondo em causa a
recuperação verificada anteriormente. Estas foram as principais tendências
detectadas pelo Instituto Nacional de Estatística (INE) nas estimativas mensais
do emprego ontem divulgadas.
Os números
parecem dar razão às dúvidas levantadas pela Comissão Europeia (CE) e pelo
Fundo Monetário Internacional (FMI), que, em Outubro do ano passado, alertavam
que o ritmo de criação de emprego que se estava a verificar em Portugal poderia
não ser sustentável.
Na comparação com
2013 — o pior ano de que há registo —, os números apresentam uma melhoria. A
população empregada aumentou 0,7% em comparação com Novembro de 2013 e a
desempregada caiu 12,2%. O problema é quando se centra a análise na evolução
mensal.
Os dados agora
divulgados pelo INE (corrigidos dos efeitos sazonais) mostram que, depois do
aumento da população empregada entre Fevereiro e Agosto de 2014 (na ordem das
73 mil pessoas), os três meses seguintes deram lugar a uma destruição de postos
de trabalho. “Esta evolução decrescente iniciou-se em Setembro, após um período
de sete meses consecutivos de crescimento continuado no emprego”, nota o
documento do INE.
Entre Agosto e
Novembro, a população empregada reduziu-se de 4459,5 mil pessoas para 4431,3
mil, ou seja, menos 28 mil pessoas. O recuo foi mais acentuado em Outubro,
enquanto em Novembro desceu 0,1%, o que, em termos absolutos, correspondeu a
menos 2,9 mil pessoas.
Nesse mês, os
jovens foram os principais penalizados por este recuo no emprego (a queda foi
de 1,5%, o que representa menos 3,8 mil postos de trabalho para os jovens entre
os 15 e os 24 anos), assim como as mulheres (a população empregada feminina
caiu 0,2% em 4,3 mil pessoas). Entre os adultos, o emprego estagnou e entre os
homens aumentou.
Desemprego
aumenta
Além da queda do
emprego, Novembro trouxe também um aumento da população desempregada, dois
factores que determinaram uma subida da taxa de desemprego para 13,9% (um
acréscimo de 0,3 pontos percentuais face ao mês anterior). O INE dá conta de
713,7 mil pessoas desempregadas — mais 17,4 mil do que em Outubro.
Trata- se do
segundo aumento mensal do desemprego, depois de em Outubro a taxa ter registado
um crescimento de 13,3% para 13,6%, interrompendo um ciclo de 20 meses de
abrandamento.
Embora o
desemprego entre a população adulta tenha aumentado 2,2%, a subida foi mais
gravosa entre os jovens. Na população dos 15 aos 24 anos, o desemprego cresceu
3,7% e a taxa de desemprego passou de 33,3% em Outubro para 34,5% em Novembro.
Os dados de
Outubro e Novembro revelam uma tendência para a qual as instituições
internacionais já tinham alertado, assim como o Banco de Portugal. No Boletim
de Inverno, a instituição dizia que o dinamismo do mercado de trabalho em 2014
foi fortemente influenciado pelos estágios profissionais e pelas alterações na
metodologia usada pelo INE no Inquérito Trimestral ao Emprego. E chegava às
suas próprias conclusões: o emprego por conta de outrem não terá crescido os 6%
estimados pelo INE, mas sim 2,5% no terceiro trimestre do ano, sendo que 0,9
pontos deste valor foram resultado dos estágios.
Em reacção aos
números do INE, o ministro da Economia, António Pires de Lima, afirmou-se
“muito confiante” de que a economia portuguesa vai crescer mais do que em 2014
(a estimativa do Governo aponta para 1%) e que o desemprego vai descer ao longo
do ano. “É certo que o desemprego aumentou ligeiramente em Novembro”,
reconheceu, sublinhando que “os dados têm de ser analisados numa perspectiva de
meses homólogos”. Já António Costa, líder do PS, frisou que esta é “mais uma má
notícia e demonstra que, de facto, a política seguida não é sustentável em
termos de criação de emprego, promoção do crescimento e desenvolvimento”.
Também as
confederações da indústria e do comércio, que ontem se reuniram com o líder
socialista, notaram que os números são a prova de que a economia ainda não
cresce a um ritmo suficiente que permita sustentar a recuperação do mercado de
trabalho.
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