quarta-feira, 7 de janeiro de 2015

Em apenas três meses economia destruiu 28 mil postos de trabalho


Em apenas três meses economia destruiu 28 mil postos de trabalho
Taxa de desemprego volta a aumentar pelo segundo mês consecutivo, interrompendo um ciclo de 20 meses de recuos

 Raquel Martins e Raquel Almeida Correia / PÚBLICO / 7-1-2014

O mercado de trabalho em Portugal continua a revelar sinais de abrandamento. O desemprego aumentou em Novembro pelo segundo mês consecutivo — interrompendo um ciclo de 20 meses de recuos —e o emprego voltou a cair, com a população empregada a recuar mais de 28 mil pessoas em apenas três meses, pondo em causa a recuperação verificada anteriormente. Estas foram as principais tendências detectadas pelo Instituto Nacional de Estatística (INE) nas estimativas mensais do emprego ontem divulgadas.
Os números parecem dar razão às dúvidas levantadas pela Comissão Europeia (CE) e pelo Fundo Monetário Internacional (FMI), que, em Outubro do ano passado, alertavam que o ritmo de criação de emprego que se estava a verificar em Portugal poderia não ser sustentável.
Na comparação com 2013 — o pior ano de que há registo —, os números apresentam uma melhoria. A população empregada aumentou 0,7% em comparação com Novembro de 2013 e a desempregada caiu 12,2%. O problema é quando se centra a análise na evolução mensal.
Os dados agora divulgados pelo INE (corrigidos dos efeitos sazonais) mostram que, depois do aumento da população empregada entre Fevereiro e Agosto de 2014 (na ordem das 73 mil pessoas), os três meses seguintes deram lugar a uma destruição de postos de trabalho. “Esta evolução decrescente iniciou-se em Setembro, após um período de sete meses consecutivos de crescimento continuado no emprego”, nota o documento do INE.
Entre Agosto e Novembro, a população empregada reduziu-se de 4459,5 mil pessoas para 4431,3 mil, ou seja, menos 28 mil pessoas. O recuo foi mais acentuado em Outubro, enquanto em Novembro desceu 0,1%, o que, em termos absolutos, correspondeu a menos 2,9 mil pessoas.
Nesse mês, os jovens foram os principais penalizados por este recuo no emprego (a queda foi de 1,5%, o que representa menos 3,8 mil postos de trabalho para os jovens entre os 15 e os 24 anos), assim como as mulheres (a população empregada feminina caiu 0,2% em 4,3 mil pessoas). Entre os adultos, o emprego estagnou e entre os homens aumentou.
Desemprego aumenta
Além da queda do emprego, Novembro trouxe também um aumento da população desempregada, dois factores que determinaram uma subida da taxa de desemprego para 13,9% (um acréscimo de 0,3 pontos percentuais face ao mês anterior). O INE dá conta de 713,7 mil pessoas desempregadas — mais 17,4 mil do que em Outubro.
Trata- se do segundo aumento mensal do desemprego, depois de em Outubro a taxa ter registado um crescimento de 13,3% para 13,6%, interrompendo um ciclo de 20 meses de abrandamento.
Embora o desemprego entre a população adulta tenha aumentado 2,2%, a subida foi mais gravosa entre os jovens. Na população dos 15 aos 24 anos, o desemprego cresceu 3,7% e a taxa de desemprego passou de 33,3% em Outubro para 34,5% em Novembro.
Os dados de Outubro e Novembro revelam uma tendência para a qual as instituições internacionais já tinham alertado, assim como o Banco de Portugal. No Boletim de Inverno, a instituição dizia que o dinamismo do mercado de trabalho em 2014 foi fortemente influenciado pelos estágios profissionais e pelas alterações na metodologia usada pelo INE no Inquérito Trimestral ao Emprego. E chegava às suas próprias conclusões: o emprego por conta de outrem não terá crescido os 6% estimados pelo INE, mas sim 2,5% no terceiro trimestre do ano, sendo que 0,9 pontos deste valor foram resultado dos estágios.
Em reacção aos números do INE, o ministro da Economia, António Pires de Lima, afirmou-se “muito confiante” de que a economia portuguesa vai crescer mais do que em 2014 (a estimativa do Governo aponta para 1%) e que o desemprego vai descer ao longo do ano. “É certo que o desemprego aumentou ligeiramente em Novembro”, reconheceu, sublinhando que “os dados têm de ser analisados numa perspectiva de meses homólogos”. Já António Costa, líder do PS, frisou que esta é “mais uma má notícia e demonstra que, de facto, a política seguida não é sustentável em termos de criação de emprego, promoção do crescimento e desenvolvimento”.


Também as confederações da indústria e do comércio, que ontem se reuniram com o líder socialista, notaram que os números são a prova de que a economia ainda não cresce a um ritmo suficiente que permita sustentar a recuperação do mercado de trabalho.

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