Contra Santana Lopes
JOÃO MIGUEL
TAVARES / PÚBLICO / 8-1-204
Será que Pedro Santana Lopes se esqueceu? Ou será que ele pensa que nós nos
esquecemos?
Será que ele
ainda se recorda de ter sido corrido por Jorge Sampaio, pelo facto de liderar
um governo que se transformou em quatro meses na maior comédia política da
história da democracia portuguesa? Será que ele ainda se lembra das palavras do
Presidente da República a 30 de Novembro de 2004? Talvez valha a pena
recordá-las: “Entendi que a manutenção em funções do Governo significaria a
manutenção da instabilidade e da inconsistência.” Será que ele se lembra de ter
arrasado a credibilidade do Governo a um tal ponto que até o pacato Sampaio se
sentiu obrigado a dissolver o Parlamento?
Será que Santana
Lopes ainda se lembra de ter comparado o seu próprio governo a um bebé nascido
“de um parto difícil”, que teve de “ir para uma incubadora”, e ao qual “alguns
irmãos mais velhos”, “em vez de acarinhar”, davam “uns estalos e uns pontapés”?
Será que ele ainda se lembra daquele artigo de Cavaco Silva que defendia que
tinha “chegado o tempo dos políticos competentes afastarem os incompetentes”? Será
que ele ainda se recorda de o extraordinário Rui Gomes da Silva, então ministro
dos Assuntos Parlamentares, ter acusado o comentador da TVI Marcelo Rebelo de
Sousa de odiar o Governo e de “ser pior que todos os partidos da oposição
juntos”? Será que ele se esqueceu que Marcelo Rebelo de Sousa abandonou os
comentários na TVI e, após várias audições parlamentares, a Alta Autoridade
para a Comunicação Social concluiu que o seu governo tentou limitar a liberdade
de imprensa? Será que ele ainda se recorda de José Rodrigues dos Santos, então
director de informação da RTP, ter apresentando a sua demissão do cargo
alegando que a administração se intrometera na sua esfera de competências?
Será que ele se
lembra de o seu amigo pessoal Henrique Chaves se ter demitido apenas quatro
dias após ter tomado posse como ministro do Desporto? Será que ele se recorda
de Chaves o ter acusado em comunicado de “grave inversão dos valores da
lealdade e verdade”, e da inexistência de um “mínimo de estabilidade e
coordenação”? E lembrar-se-á de ter sido ele próprio a confirmar aos
jornalistas que Henrique Chaves se tinha demitido sem sequer primeiro o
informar desse facto? Já agora: será que Pedro Santana Lopes se recorda de ter
tido 28% nas legislativas de 2005 contra os 45% do Partido Socialista? Será que
ele tem a noção de que foi a sua espantosa incompetência que permitiu a maioria
absoluta a José Sócrates e pavimentou o caminho até à desgraça em que nos
encontramos?
Nesta primeira
semana de 2015 não tenho assistido a outra coisa senão a desmultiplicações de
Pedro Santana Lopes, a perorar em todos os jornais e em todas as televisões
acerca das eleições presidenciais e a manifestar à pátria o seu incontido
desejo de concorrer a Belém. É deveras irritante. Por isto: num país normal,
Santana Lopes deveria ter a perfeita noção de estar politicamente morto. Convinha
apresentar rapidamente Pedro a Peter e ao seu princípio. É que, para
infelicidade de todos nós, ele já foi promovido até ao seu nível de incompetência
– foi corrido de São Bento por causa disso e foi esmagado há dez anos por ter
sido um horrível primeiro-ministro. O que é que lhe passa pela cabeça para
agora achar que tem capacidades para ser Presidente da República? Pior: o que é
que nos passa a nós pela cabeça para o estarmos a levar a sério? Não nos esquecemos, pois não?
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