É este muitas vezes o dilema: Entre o “oásis desconhecido” e
mal tratado e conservado e a “descoberta” , que leva ao reconhecimento da sua importância
e portanto à manutenção e conservação, mas também, na época em que vivemos do
Turismo massificado, à Invasão e banalização…
OVOODOCORVO
Parque Botânico do Monteiro-Mor, um oásis desconhecido em
Lisboa e a precisar de mais atenção
ACTUALIDADE
Sofia Cristino
Texto
Paula Ferreira
Fotografia
2 Agosto, 2018
Situado num dos extremos de Lisboa, na freguesia do Lumiar,
o primeiro jardim botânico da cidade passa despercebido no meio de prédios e da
movimentada Calçada do Carriche. O Parque Botânico do Monteiro-Mor, agregado
aos museus nacionais do Traje e do Teatro, foi mandado plantar no final do séc.
XVIII e abrange uma área de 11 hectares, que inclui um jardim botânico, uma
zona florestal e hortas urbanas. E é a própria direcção dos museus a reconhecer
o estado de abandono do espaço. “Não há um grande conhecimento da existência
deste jardim, porque estamos numa zona periférica, num canto da cidade, e não
tem havido um instrumento de difusão do parque. Há falta de recursos técnicos
que nos impedem de fazer mais, mas, em Setembro, vai ser finalmente lançado o
roteiro do jardim. Já está a ser impresso”, avança José Carlos Alvarez,
director do Museu Nacional do Teatro e da Dança, desde 2001, e também do Museu
Nacional do Traje, desde 5 de Junho, quando a antiga directora anunciou a
demissão.
José Carlos Alvarez vai anunciando as novidades com algum
receio, porque assumiu o novo cargo, lembra, “apenas há dois meses” e ainda não
teve tempo de se inteirar de tudo o que diz respeito ao espaço verde, sob a
tutela da Direcção-Geral do Património Cultural (DGPC). “Vamos organizando
algumas actividades educativas com crianças, visitas guiadas e outras abertas
ao público em geral, em dias comemorativos. Não temos realizado tantas
iniciativas como o desejável. Às vezes, não o fazemos por motivos de preservação
do espaço, mas também por falta de recursos”, explica. “As actividades implicam
condições técnicas que o parque não reúne, como luzes, e falta de jardineiros
da Câmara de Lisboa. Há uma ideia de criar uma equipa de jardineiros,
centralizada neste parque, mas rotativa por outros jardins botânicos. Seria
mais rentável, mas ainda não está implementada”, informa.
Na entrada principal do jardim botânico, uma porta lateral
do Museu do Traje dá acesso a canteiros compostos por diversas espécies de
flores, saltando mais à vista as hortênsias, os lírios, os jarros e os
clorófitos. Há esculturas a suplicarem por limpeza e algumas flores
desvanecidas. É através de uma ponte de madeira que se acede à zona da
floresta, com árvores frondosas, percurso complementado por pequenos acessos de
escadas de pedra, dois lagos e uma cascata, também a darem sinais dos tempos.
Vêem-se, maioritariamente, carvalhos, choupos e pinheiros, mas também espécies
exóticas e raras. Este lugar, propício ao desenvolvimento de várias espécies
animais, é também um sítio privilegiado para a observação de aves.
Na mata, onde a altura de algumas plantas dificulta a
visualização das placas identificadoras, há ainda um prado e uma zona agrícola,
onde moradores da freguesia do Lumiar podem ter uma horta. A parte mais antiga
do jardim, idealizada em 1750 pelo naturalista italiano Domenico Vandelli a
mando do 3º Marquês de Angeja, no espaço da antiga Quinta do Monteiro-Mor,
encontra-se num dos patamares superiores, ao lado do Museu Nacional de Teatro e
Dança. Os labirintos de arbustos, de traçado típico dos jardins ingleses,
albergam um roseiral, embora se avistem poucas rosas e muitas plantas mortas.
“Esta parte está mais próxima do que era o jardim no início, o jardim botânico
é posterior”, explica Alvarez. Num dos “três parques botânicos mais importantes
da cidade”, foram plantadas as primeiras Araucarias a chegar a Portugal. Este
cenário serviria de inspiração a Almeida Garrett para escrever um dos seus
últimos livros, a colectânea de poesias Folhas Caídas, conta a O Corvo uma
funcionária.
Na primeira metade do século XIX, a quinta e o palácio
Angeja foram vendidos ao 1.º Duque de Palmela, que viria a fazer alterações ao
jardim original. A 4 de Fevereiro de 1975, a quinta foi vendida ao Estado,
tendo sofrido obras de recuperação devido à falta de manutenção recebida nas
décadas anteriores, um problema ainda por resolver e visível num breve passeio.
No Parque Monteiro-Mor, umas escadas que dão acesso ao restaurante do jardim,
encerrado no dia em que O Corvo visitou o espaço, estão interditas à passagem.
“O jardim engradece a zona do Lumiar do ponto de vista histórico e patrimonial,
mas carece de limpeza”, reconhece José Alvarez.
Informações:
Parque do Monteiro Mor
Largo Júlio de Castilho – Lumiar
3ª Feira: 14h00 – 18h00
4ª Feira a Domingo: 10h00 – 18h00 (última entrada às 17h30)
Encerrado à 2ª feira (dia) e 3ª feira (manhã)
Bilhete normal: € 3,00 (Museu); € 4,00 (2 Museus – Parque);
€ 2,00 (Parque).
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