Sócrates compara investigação de
que é alvo ao “mundo fantástico da ficção científica”
ANA HENRIQUES 02/01/2015 - 20:12
Motorista nunca foi a Paris e venda do apartamento da mãe na Rua Braancamp
foi real, diz ex-primeiro-ministro em resposta a perguntas da TVI.
O ex-primeiro-ministro José Sócrates compara alguns aspectos da
investigação de que está a ser alvo ao “mundo fantástico da ficção científica”.
Detido
preventivamente na cadeia de Évora, o antigo governante socialista fez chegar à
TVI, através dos seu advogados, a resposta a vároas questões que lhe foram
postas pela estação televisiva. “Dou esta entrevista em legítima defesa, contra
a sistemática e criminosa violação do segredo de justiça, e contra a divulgação
de informações manipuladas, falsas e difamatórias”, começa por justificar José
Sócrates, que se diz vítima de “uma agressão feita cobardemente a coberto do
anonimato, como é típico dos aparelhos burocráticos onde reina o Governo de
ninguém”, e também de “um poder obscuro que é puro arbítrio, despotismo e
impunidade absoluta”.
O ex-primeiro-ministro
assegura nunca ter sido confrontado, pelo juiz de instrução criminal Carlos
Alexandre, nem com factos nem com provas de actividade criminosa da sua parte:
“Apesar da minha insistência, nem a acusação nem o juiz foram capazes de me
dizer quando e como é que fui corrompido, ou sequer em que país do mundo. Nem
por quem, a troco de quê. Nada, rigorosamente nada. A corrupção em nome da qual
me sujeitaram à infâmia desta prisão preventiva é pura invenção”. Segundo José
Sócrates, este processo “é todo ele uma caixinha de presunções, em que as
presunções assentam umas nas outras, numa construção elaborada mas
absolutamente delirante”, que chega a comparar ao “mundo fantástico da ficção
científica” no que respeita ao alegado transporte, por parte do seu motorista,
João Perna, de malas de dinheiro para Paris.
“O facto de a
acusação ter posto a correr nos jornais esta pura invenção diz muito sobre os
métodos de uns e de outros e mostra bem até onde estão dispostos a ir para me
atingir. Para alguns vale tudo”, comenta o antigo governante, para quem a
prisão do seu ex-motorista foi usada “para aterrorizar uma pessoa que julgavam
vulnerável, de modo a tentar obter sabe-se lá que informação”. Sócrates nega
que o seu ex-motorista alguma vez tenha ido à capital francesa. “Nunca o meu
carro foi além de Espanha”, garante. Igualmente “absurda e sem fundamento” será
a presunção de que o luxuoso apartamento de Paris onde diz ter residido durante
dez meses seja, afinal, sua propriedade, e não do empresário seu amigo Carlos
Santos Silva. “Confirmo que face a algumas dificuldades de liquidez que
atravessei em certos momentos recorri várias vezes a empréstimos a Santos
Silva, que mos concedeu para pagar despesas diversas – mas sempre foi minha
intenção pagar-lhe, apesar da grande amizade pessoal que nos une”, conta. “Não
me parece que pedir dinheiro emprestado a um amigo seja crime”.
Sobre a venda da
casa da sua mãe no prédio da Rua Braancamp, em Lisboa, onde ele possui também
um apartamento, ao seu amigo Santos Silva, o antigo líder socialista acha
espantoso que alguém possa ver no negócio uma venda simulada, quando o seu novo
proprietário até já arrendou o imóvel a terceiros. “Do dinheiro da venda [cerca
de 600 mil euros], a minha mãe fez-me doação dos 75% que podia dar-me em vida”,
descreveu, explicando que, com a morte dos seus dois irmãos, passou a ser o
único herdeiro da progenitora. “Esta venda não aumentou em nada o meu
património ou o da minha família. O que fiz foi trocar o imóvel que a minha mãe
já tinha pela liquidez correspondente ao seu verdadeiro valor”. As suspeitas
que recaem sobre a venda são, na sua opinião, apenas “outra história mal
contada por quem conduz esta investigação” contra ele.
“A prisão
preventiva foi usada para investigar mas também para aterrorizar, para
despersonalizar e para calar”, refere ainda José Sócrates, que defende a
ilegalidade da medida. “Quem quis esta prisão infundada sabe bem que a prisão
funciona como prova aos olhos da opinião pública: ‘Está preso, alguma coisa
deve ter feito’”
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