EDITORIAL
TAP, uma vitória para o médio prazo
Pedro Nuno Santos arriscou e merece reconhecimento pelo
sucesso que obteve. Mas a sua conquista equivale apenas a um pouco mais de
oxigénio para um doente nos cuidados intensivos.
Manuel Carvalho
22 de Dezembro de
2021, 21:30
https://www.publico.pt/2021/12/22/economia/editorial/tap-vitoria-medio-prazo-1989664
A aprovação do
plano de reestruturação da TAP pela Comissão Europeia deixa poucas margens para
dúvidas: o ministro Pedro Nuno Santos conseguiu preservar o essencial das
intenções do Governo, evitou uma reestruturação capaz de transformar a
companhia numa “tapezinha” e pôde ontem reclamar “um grande sucesso negocial”.
A autorização de Bruxelas aos planos do Governo fez-se à custa da leve redução
de 5% dos slots da companhia no aeroporto de Lisboa ou da alienação, “se houver
propostas adequadas”, da sucata em que se transformou a empresa de manutenção
no Brasil, mas ainda assim o ministro garantiu o essencial: uma frota com meios
para cumprir a missão estratégica que o Governo lhe atribui com notório enlevo
patriótico.
Pode-se
argumentar que esta brandura da Comissão para acolher tão brutal injecção
financeira do Estado se justifica pelo precedente concedido a outras companhias
europeias, com a devastação da pandemia na indústria, ou com o facto de, à
escala europeia, a TAP não oferecer grande luta aos gigantes alemães ou
franceses. Mas nem estes argumentos de contexto escondem o essencial: o
ministro — e o Governo — propôs-se desempenhar um papel e a atingir um
objectivo e saiu-se bem em ambos.
Este sucesso
táctico é um bónus para as ambições do PS nas próximas eleições. Pelo menos, a
TAP deixou de ser um fantasma na campanha eleitoral. A partir do momento em que
o PSD assume uma pose de Estado e promete cumprir o plano de reestruturação, a
questão da TAP arrisca-se a ser acomodada nas margens da discussão. Era
importante que não fosse assim.
Com um quadro de
pessoal menor, custos fixos reduzidos e sem o negócio ruinoso do Brasil, a TAP
pode ficar mais sustentável se o mercado regressar à normalidade. O futuro,
porém, é demasiado incerto e recomenda reflexão: a partir de agora, a companhia
terá de se fazer à vida e não contará com mais apoios do Estado; a pandemia
está longe de acabar; e ainda porque, enquanto a incerteza sobre a aviação
persistir, não se percebe que concorrente europeu pode estar interessado em
comprar a TAP sem pôr em causa a sua estratégia ligada ao interesse estratégico
do país ou à defesa do hub de Lisboa.
Sim, Pedro Nuno
Santos arriscou e merece reconhecimento pelo sucesso que obteve. Mas a sua
conquista equivale apenas a um pouco mais de oxigénio para um doente nos
cuidados intensivos. Os riscos da TAP para o país continuam a ser enormes e é
bom que não sejam esquecidos por causa de uma vitória táctica.
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