quinta-feira, 23 de dezembro de 2021

TAP, uma vitória para o médio prazo

 


EDITORIAL

TAP, uma vitória para o médio prazo

 

Pedro Nuno Santos arriscou e merece reconhecimento pelo sucesso que obteve. Mas a sua conquista equivale apenas a um pouco mais de oxigénio para um doente nos cuidados intensivos.

 

Manuel Carvalho

22 de Dezembro de 2021, 21:30

https://www.publico.pt/2021/12/22/economia/editorial/tap-vitoria-medio-prazo-1989664

 

A aprovação do plano de reestruturação da TAP pela Comissão Europeia deixa poucas margens para dúvidas: o ministro Pedro Nuno Santos conseguiu preservar o essencial das intenções do Governo, evitou uma reestruturação capaz de transformar a companhia numa “tapezinha” e pôde ontem reclamar “um grande sucesso negocial”. A autorização de Bruxelas aos planos do Governo fez-se à custa da leve redução de 5% dos slots da companhia no aeroporto de Lisboa ou da alienação, “se houver propostas adequadas”, da sucata em que se transformou a empresa de manutenção no Brasil, mas ainda assim o ministro garantiu o essencial: uma frota com meios para cumprir a missão estratégica que o Governo lhe atribui com notório enlevo patriótico.

 

Pode-se argumentar que esta brandura da Comissão para acolher tão brutal injecção financeira do Estado se justifica pelo precedente concedido a outras companhias europeias, com a devastação da pandemia na indústria, ou com o facto de, à escala europeia, a TAP não oferecer grande luta aos gigantes alemães ou franceses. Mas nem estes argumentos de contexto escondem o essencial: o ministro — e o Governo — propôs-se desempenhar um papel e a atingir um objectivo e saiu-se bem em ambos.

 

Este sucesso táctico é um bónus para as ambições do PS nas próximas eleições. Pelo menos, a TAP deixou de ser um fantasma na campanha eleitoral. A partir do momento em que o PSD assume uma pose de Estado e promete cumprir o plano de reestruturação, a questão da TAP arrisca-se a ser acomodada nas margens da discussão. Era importante que não fosse assim.

 

Com um quadro de pessoal menor, custos fixos reduzidos e sem o negócio ruinoso do Brasil, a TAP pode ficar mais sustentável se o mercado regressar à normalidade. O futuro, porém, é demasiado incerto e recomenda reflexão: a partir de agora, a companhia terá de se fazer à vida e não contará com mais apoios do Estado; a pandemia está longe de acabar; e ainda porque, enquanto a incerteza sobre a aviação persistir, não se percebe que concorrente europeu pode estar interessado em comprar a TAP sem pôr em causa a sua estratégia ligada ao interesse estratégico do país ou à defesa do hub de Lisboa.

 

Sim, Pedro Nuno Santos arriscou e merece reconhecimento pelo sucesso que obteve. Mas a sua conquista equivale apenas a um pouco mais de oxigénio para um doente nos cuidados intensivos. Os riscos da TAP para o país continuam a ser enormes e é bom que não sejam esquecidos por causa de uma vitória táctica.

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