Economista francês Thomas Piketty
rejeita Legião de Honra
AFP 01/01/2015 - PÚBLICO
Autor de O Capital no Século XXI, crítico das políticas económicas de
Hollande, diz que não cabe ao Governo decidir quem é "honorável"
Thomas Piketty,
influente economista francês e autor de O Capital no Século XXI, livro que se
tornou um sucesso internacional, rejeitou a Legião de Honra, a mais alta
distinção do país, com críticas aos socialistas no poder.
“Acabei de tomar
conhecimento de que fui nomeado para a Legião de Honra. Recuso esta nomeação
porque penso que não cabe ao Governo decidir quem é honorável”, afirmou o
economista à AFP, dizendo que o executivo “faria bem melhor em se dedicar ao
relançamento do crescimento em França e na Europa”.
Em tempos próximo
do Partido Socialista francês, Piketty é agora um crítico habitual da política
económica de François Hollande, de quem foi apoiante na campanha presidencial
de 2012. Criticou-o, entre outras coisas, por ter enterrado a promessa de fazer
uma reforma profunda do complexo sistema fiscal francês para melhorar a
progressividade aplicada aos rendimentos.
Considerado um
dos grandes especialistas em desigualdade, o seu nome consta da lista de
nomeados nesta quinta-feira para a Legião de Honra, a par do também economista
Jean Tirole, Prémio Nobel no ano passado. “Ninguém me avisou desta nomeação, se
não tinha-os dissuadido imediatamente”, justificou Piketty.
O sucesso de O
Capital no Século XXI consagrou-o a nível internacional, embora o livro tenha
sido recebido em França de forma menos entusiástica. Publicado em Setembro de
2013, traduzido em diversas línguas e com mais de 1,5 milhões de exemplares
vendidos, visa demonstrar ao longo das suas 969 páginas a tendência espontânea
do capitalismo para uma acumulação cada vez maior da riqueza nas mãos de uns
poucos.
As suas
explicações para o crescimento das desigualdades teve um eco considerável em
países como o Reino Unido ou os EUA. Do outro lado do Atlântico, Piketty foi
recebido pelos conselheiros do Presidente Barack Obama e elogiado por Paul
Krugman e Joseph Stiglitz, dois Prémios Nobel muito críticos das políticas
europeias de austeridade orçamental. Na imprensa britânica, o jornal Guardian
descreveu-o como “certamente o intelectual mais influente de 2014” e a Economist
qualificou-o como “Marx dos tempos modernos”, ao passo que o Financial Times
afirmou que é o autor “do livro de economia do ano”, apesar de noticiado que
encontrou vários erros nas fórmulas e nos dados usados pelo economista.
Em França, onde o
Capital foi igualmente um sucesso de vendas, torna-se cada vez mais clara a
distância entre o economista e a liderança socialista. Em Junho, numa
entrevista ao Le Monde, Piketty denunciou o “nível de improvisação” da política
económica do executivo, na mesma altura em que o ministro das Finanças
ironizava: “É demasiado pesado para mim, e demasiado grosso”, afirmou ao
explicar que não tinha ainda lido a obra.
Criado por
Napoleão, a Legião de Honra é a distinção máxima atribuída pelo Estado francês,
mas a recusa de Piketty em aceitá-la não é inédita. Entre os mais famosos estão
os escritores Paul Sartre, Simone de Beauvoir e Albert Camus, a actriz Brigitte
Bardot ou o abade Pierre, um símbolo da defesa dos sem-abrigo em França que
gerou clamor quando em 1992 disse que não aceitava a distinção.
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