POR O CORVO • 2
DEZEMBRO, 2016
http://ocorvo.pt/2016/12/02/carris-culpa-anterior-governo-e-turismo-por-escassez-de-transportes-na-graca/
Circular de
transportes públicos na Graça é uma tarefa difícil nos dias que
correm. Os habitantes desta zona central da freguesia de São Vicente
apontam a pouca ou inexistente oferta de alternativas de mobilidade,
e o elevado tempo de espera entre carreiras, como entraves principais
à circulação. A área é servida apenas pelo icónico eléctrico
28 e pela carreira de autocarro 734. Andar a pé, chamar um táxi ou
levar o carro parecem ser, para já, as únicas alternativas viáveis.
Texto: Pedro Arede
A Carris aponta a
falta de investimento do anterior Governo nas empresas públicas de
transportes e o aumento exponencial do turismo na cidade de Lisboa
como principais razões pela oferta insuficiente de transportes
públicos no bairro da Graça, zona central da freguesia de São
Vicente.
Servidos por um
número limitado de carreiras, os habitantes desta zona histórica da
cidade sentem a faltam soluções para colmatar as necessidades de
deslocação. A escassa oferta existente assenta sobretudo no
trajecto entre o Martim Moniz e a Graça, efectuado tanto pela
concorrida carreira do autocarro 734, como pelo icónico eléctrico
28, muito procurado por turistas.
As filas para entrar
numa ou noutra carreira são intermináveis. Inês Oliveira é
moradora na Graça e fala ao Corvo de uma oferta de transportes
públicos “castradora” e dessincronizada com o actual pulsar da
cidade de Lisboa e com as necessidades dos habitantes. “A Graça
deixou de ter o único transporte público de que dispunha. É
impossível entrar no 28, pois vem sempre sobrelotado e há filas de
dezenas de pessoas nas paragens. Em suma, a Graça, centro histórico
de uma capital europeia, não tem transportes públicos”, conclui.
Ao Corvo, a Carris
confirmou a existência de queixas por parte dos utentes da Graça,
“quer com a ocupação da Carreira 28 de elétrico, gerada pelos
fluxos turísticos, quer pelo condicionamento da carreira 734 às
terças-feiras e sábados, pela coincidência de percurso com o local
de realização da Feira da Ladra”.
Já quando
confrontada com a oferta desajustada relativamente às necessidades
dos cidadãos, nesta zona da cidade, a empresa pública de
transportes aponta o aumento do fluxo turístico e a falta de
investimento dos últimos anos como factores primordiais pelo
decréscimo da qualidade do serviço. “As alterações que se têm
verificado na caracterização da cidade e dos seus fluxos de
mobilidade, nomeadamente com um elevado incremento de turistas a
utilizar o transporte público, coincidentemente com o
desinvestimento de que foram alvo estas empresas de transporte, ao
longo dos últimos anos, condicionaram a qualidade e disponibilidade
do serviço de transporte público”, refere a Carris.
No entanto, em
sintonia com o executivo, a Carris acredita que as mudanças na
qualidade do serviço serão sentidas em breve. “O actual conselho
de administração, em consonância com a visão estratégica do
actual Governo para o sector dos transportes públicos, iniciou um
processo de reversão do modelo de gestão existente, projectando
novamente um paradigma de sustentabilidade global que permita
assegurar os fundamentos de uma mobilidade urbana, servida por um
transporte público de grande abrangência, utilidade e qualidade”,
garante ao Corvo.
Mas, se é verdade
que a maioria das queixas do habitantes da Graça se prende com a
oferta insuficiente de transportes públicos, é também preciso ter
em conta que aquela é uma zona histórica, em que muitos dos
arruamentos interiores criam, pela sua morfologia, restrições de
circulação. O que, por si só, pode originar tempos de espera
elevados entre carreiras.
A freguesia de São
Vicente tem duas realidades distintas. Estando as carreiras centradas
nos principais eixos de acesso e circulação automóvel (Sapadores e
eixo de ligação a Santa Apolónia), a cobertura planeada será mais
eficaz. Já a área central da freguesia tem um serviço e uma
cobertura escassa durante o dia e insuficiente no período noturno.
Ciente disso, a
Junta de Freguesia de São Vicente, presidida por Natalina Moura
(PS), tem acompanhado de perto a situação e acredita que a solução
ideal deverá ser pensada de forma integrada e prever o alargamento
da área de actuação dos serviços de transportes. “A solução
ideal passaria pela disponibilização de um serviço em minibus ou
similar, que ampliasse a área de serviço de transporte público.
Isto porque há vários pontos com cobertura deficiente e a carreira
734 e o eléctrico 28 interrompem o serviço entre a meia-noite e as
6h20”, conta ao Corvo. “Há pedidos efectuados neste sentido e
temos reforçado os mesmos junto das entidades gestoras”, diz.
Notando que, de
momento, “as alternativas recaem na circulação pedonal, no
automóvel privado ou serviço de táxi”, a presidente da junta faz
ainda questão de frisar que a “disponibilização do funicular da
Graça, cujo projecto está em curso, poderá ser mais um elemento de
alavancagem à circulação pedonal no bairro”.
Uma das alternativas
de locomoção surgiu através do serviço “São Vicente à Porta”.
Criado pela junta, consiste numa carrinha em circulação pela
freguesia, especialmente nas zonas sem serviço de transporte público
ou com cobertura deficiente. O seu objetivo é facilitar o acesso
directo da população mais envelhecida “ao comércio local e aos
principais serviços, como unidades de saúde, bancos, finanças ou
farmácias”.
Considerando que as
soluções têm de ser encontradas de forma integrada – tendo em
conta “as limitações e necessidades, não só de um bairro ou
zona, mas de forma conjunta para todas as áreas” -, a Junta de
Freguesia de São Vicente acredita ainda que a passagem dos
transportes públicos para uma gestão municipalizada trará
benefícios claros. Segundo Natalina Moura, vai permitir “uma
mudança de paradigma e uma oferta mais orientada para a satisfação
das necessidades dos munícipes”.
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