PORTO
Com uma “tristeza imensa”, Catarina Portas fecha A Vida
Portuguesa no Porto
A crise provocada pela pandemia leva a empresária a dizer
“Adeus Porto”: a loja fecha no final do ano. É a segunda A Vida Portuguesa com
encerramento confirmado em menos de dois meses.
Mara Gonçalves
18 de Dezembro de
2020, 18:26
O aniversário
ainda foi celebrado: a 20 de Novembro fez 11 anos que A Vida Portuguesa chegou
ao Porto. Mas a loja não resistiu ao “ano terrível de 2020”. Dois anos depois
de a marca ter mudado de espaço, agora na rua Cândido dos Reis, a pandemia veio
ditar o encerramento definitivo no final do ano. “A tristeza é imensa”, lamenta
Catarina Portas numa publicação no Facebook. “Adeus Porto!”
O anúncio, feito
nas redes sociais, surge pouco mais de um mês depois do encerramento de outro
espaço do grupo: a “mais nova das lojas de Lisboa”, inaugurada em 2016 na Rua
Ivens e especialmente dedicada “a produtos para a casa”, fechou a 7 de
Novembro.
“Foi uma decisão
longa e difícil, ponderada e tomada com calma e racionalidade, a de
‘redimensionar’ o negócio quando toda a economia portuguesa atravessa um
momento crítico”, anunciava a empresa no Facebook. A publicação, contudo,
deixava uma nota de optimismo: “os móveis e a decoração ficam cuidadosamente
arrecadados à espera de novas aventuras que certamente virão”.
Em Julho, numa
entrevista ao PÚBLICO, Catarina Portas revelava que a loja do Porto era aquela
que, “neste momento”, “mais estava a sofrer”. “Fica nos Clérigos, uma zona que
nos últimos anos, com a explosão do turismo no Porto, se tornou uma zona de
noite e de turistas. […] O facto é que as pessoas do Porto hoje em dia não vão
aos Clérigos. É tudo alojamento local, já não há gente a morar na Baixa.”
Depois de dois
anos e meio à procura de uma morada no Porto, A Vida Portuguesa chegou à cidade
em 2009, com uma loja no primeiro andar do prédio da Fernandes, Mattos &
Cia, numa esquina das ruas da Galeria de Paris e das Carmelitas. Em 2018,
tinha-se mudado para este espaço na rua Cândido dos Reis, que anteriormente
pertencia ao armazém da loja de tecidos Camões & Moreira, fundada em 1947.
“Obrigada a
todos, sócios, senhorios, fornecedores, fregueses, amigos. E mais do que tudo,
um agradecimento do fundo do coração a uma equipa empenhada e conhecedora
como poucas”, despede-se a empresária no Facebook.
Recusando a ideia
de que A Vida Portuguesa se teria tornado “uma loja para turistas” (“Nunca a
considerei uma loja de souvenirs. É uma loja para portugueses, mas é acessível
e os estrangeiros acham interessante porque descobrem coisas que nunca viram”,
dizia ao Público em Julho), a verdade é que a pandemia e a ausência de turismo
têm ditado dias difíceis ao projecto.
“Nós tínhamos
hordas de turistas asiáticos a entrar pela loja da Rua Anchieta, tínhamos as
prateleiras cheias de produto, porque aquilo desaparecia, e estávamos com
números nos 60 e tal por cento de turistas. O facto é que desapareceram e agora
estamos todos bastante aflitos.” Sem revelar a dimensão dos prejuízos, a
empresária apontava números relativos a 2019: “quase quatro milhões de
resultados”, uma média de vendas de “300 mil por mês”, 50 funcionários e 400
fornecedores.
O projecto nasceu
em 2007, com a abertura da primeira loja, no Chiado, em Lisboa, depois de
Catarina Portas ter feito uma investigação jornalística sobre a vida quotidiana
portuguesa a partir dos anos 1930. Nas prateleiras de móveis antigos
recuperados, reanimam-se bordados, loiças, mantas artesanais, brinquedos,
conservas, sabonetes e uma variedade de outros produtos tradicionais e de
fabrico nacional, resgatando ao esquecimento muitas marcas portuguesas.
Para além da loja
no Porto, que continuará de portas abertas até ao final do mês, A Vida
Portuguesa mantém em funcionamento os espaços na Rua Anchieta (Chiado) e no
Largo do Intendente, em Lisboa. Já a loja no Mercado da Ribeira está
temporariamente encerrada. É ainda possível adquirir os produtos vendidos pela
marca na loja online.
Notícia corrigida
a 21 de Dezembro: ao contrário do que se lia na notícia, por lapso, a empresa
Fernandes, Mattos & Cia não se encontra extinta, mantendo loja naquele
edifício.
tp.ocilbup@sevlacnog.aram
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