domingo, 31 de dezembro de 2023

Recordando: A "marca fétiche" pessoal e a orgulhosa e arbitrária assinatura do Arquitecto Criador no Património de todos nós, por António Sérgio Rosa de Carvalho./25/06/2012.



 Igreja de São Julião antes das obras.

 


Igreja de São Nicolau

  É conhecida a "história" que se conta à volta dos possíveis remorsos que Eugénio dos Santos teria exprimido no seu leito de morte ...
Eugénio dos Santos no seu "master plan" da Baixa Pombalina teria inserido as Igrejas totalmente na malha urbana, "sacrificando" assim simbólicamente as paróquias, ao grande Projecto Iluminista.
Assim se integravam totalmente os Templos na cidade Moderna Renascida, cidade essa que seria habitada por uma nova Burguesia Iluminada e Mercantilista, ilustração de que o Plano antecipava uma Total Reforma da Sociedade.
Ora isto é importante no que respeita o ritmo inserido das janelas ( guilhotinas ) das Igrejas na totalidade dos blocos Pombalinos. Assim tal como nas fotografias da Igreja de São Julião antes das obras ou como por exemplo, na da Igreja de São Nicolau o demonstram, o respeito pela EXISTÊNCIA -  linguagem, ritmo e tipologia das janelas é essencial para o respeito da Filosofia e intenções originais do Plano, ESPECIALMENTE QUANDO SE CONTINUA A AFIRMAR QUE SE PRETENDE CANDIDATAR A BAIXA A PATRIMÓNIO MUNDIAL !


 Vejamos agora o que Gonçalo Byrne  e Manuel Salgado (  apoiou e aprovou ) desenvolveram nas obras da Igreja de São Julião .
Depois da utilização da gravura original de Reinaldo Manuel resolveram rasgar os janelões Mansarda originalmente planeados ( aí nada a apontar pois os mesmos foram desenvolvidos em linguagem e tipologia correctas ) mas depois resolveram "tratar" e transformar as janelas como simples aberturas ( algumas realmente cegas tais como na gravura) e outra com inserção de apenas vidro em profundidade criando o mesmo efeito - redutor e abstracto - pela não existência de caixilhos à superfície da fachada.
Ora esta intervenção é mais uma vez, tal como Gonçalo Byrne, nos tem habituado ( Ver Museu Machado de Castro ) redutora e interpretativa.
Exercerá talvez a sua função no interior do Museu, mas altera completamente o espírito original e a Filosofia e Intenção de Leitura Urbana  do Plano Pombalino.
Embora as "aberturas' ainda lá estejam, com profundidades e cantarias ( e no futuro podem ser repostas ) o discurso Urbano Pombalino foi alterado  - e foi vítima de uma espécie de Acordo Ortográfico da "Linguagem Pombalina" - transformando uma fachada contínua Pombalina e reduzindo-a quase em metáfora  à abstração da sua própria gravura de concepção ...









 E claro, não podia faltar a "marca fétiche" pessoal e a orgulhosa e arbitrária assinatura de Byrne, estratégicamente bem colocada.
"Isto" é grave, muito grave ... Como se pode continuar a afirmar que se pretende candidatar a Baixa Pombalina a património Mundial com este tipo de Intervenções ?
António Sérgio Rosa de Carvalho.


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