domingo, 29 de janeiro de 2023

O Papa Francisco deve estar magoado

 


EDITORIAL

O Papa Francisco deve estar magoado

 

Os professores e auxiliares educativos e os pensionistas e reformados também terão razões para sentirem que há uma discrepância entre o país onde vivem e o país do altar do Papa.

 

Amílcar Correia

27 de Janeiro de 2023, 20:29

https://www.publico.pt/2023/01/27/sociedade/editorial/papa-francisco-estar-magoado-2036731

 

O preço do palco e altar onde o Papa Francisco irá celebrar missa na Jornada Mundial da Juventude, em Lisboa, magoou o presidente da fundação que a organiza, D. Américo Aguiar, e o Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa. Quando o Papa souber que a estrutura irá custar 4,2 milhões de euros, e que pouco dela restará quando acabar o evento, também ele se irá sentir magoado.

 

Os professores e auxiliares educativos e os pensionistas e reformados que se manifestaram esta semana em várias cidades portuguesas também terão razões para sentirem que há uma discrepância entre o país onde vivem e o país do altar do Papa.

 

Desta autêntica rábula temos a reter o seguinte: D. Américo Aguiar e Marcelo Rebelo de Sousa não são empreiteiros e não são donos da obra, não sabiam do preço da estrutura e concordam, como diz o último, que os gastos não respeitam o período actual nem a “visão simples, pobre, não triunfalista” do Papa Francisco.

 

De resto, sempre que o assunto Igreja Católica se intromete na agenda de Marcelo Rebelo de Sousa, é bem certo que irá surgir um imbróglio irritante. Desta feita, foi uma fonte não identificada na SIC e uma nota do Patriarcado de Lisboa a garantirem que o Presidente sabia do custo deste altar faustoso. Nenhum dos dois quer, agora, responsabilizar-se pelo fausto diante de um Papa jesuíta.

 

Podemos reter, igualmente, que Carlos Moedas herdou um vazio do executivo anterior quanto ao planeamento do evento, ao passo que José Sá Fernandes, ex-vereador e actual coordenador das jornadas em nome do Governo, afirma que havia trabalho feito e que a articulação entre as várias partes envolvidas tem tido “altos e baixos”.

 

Em suma, ninguém assume qualquer responsabilidade pela total ausência de organização e planeamento de um evento que vai implicar um avultado investimento, num contexto de aflição para quem se vê, de repente, a viver numa tenda numa praia de Matosinhos ou em situação de pobreza energética, mais uma, a juntar às outras.

 

Porque é que só descobrimos a apenas seis meses da concentração de jovens católicos em Lisboa esta desorganização e extravagância? Resta-nos fingir que vamos tentar tudo para reduzir custos e compatibilizar a “projecção de Portugal no mundo” com as “circunstâncias económicas e sociais vividas neste momento”, como disse D. Américo Aguiar. Temos tido uma boa experiência no desperdício do erário público. Só falta culpar Fernando Medina.

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