domingo, 27 de fevereiro de 2022

Transportes gratuitos na gaveta de Moedas

 


OPINIÃO

Transportes gratuitos na gaveta de Moedas

 

Em 126 dias de governo da Câmara de Lisboa, a proposta do Bloco já passou 70 na gaveta da coligação de direita. Decidimos avançar para tribunal contra o presidente da CML.

 

Beatriz Gomes Dias

26 de Fevereiro de 2022, 6:44

https://www.publico.pt/2022/02/26/opiniao/opiniao/transportes-gratuitos-gaveta-moedas-1996887

 

Os transportes públicos são a espinha dorsal da mobilidade nas cidades. Com uma rede ampla e eficiente de transportes públicos com custos acessíveis a todas as pessoas, conseguimos resolver alguns dos maiores problemas que as cidades enfrentam: o trânsito e as emissões de gases, que poluem as ruas e aceleram o aquecimento global. Em Lisboa o caso é grave. Todos os dias entram na cidade 370 mil carros, que se juntam aos 160 mil que já circulam nas suas ruas, fazendo com que se desloquem diariamente na capital tantos carros como habitantes.

 

Veio da esquerda o maior avanço das últimas décadas para incentivar o uso do transporte público: a unificação de centenas de títulos de transporte num passe único e a enorme redução do seu preço. Foi um dos maiores aumentos de rendimento para as famílias nos últimos anos e foi um passo de gigante para a neutralidade carbónica. No Parlamento, o PSD opôs-se e votou contra.

 

Nas últimas eleições autárquicas, o Bloco de Esquerda defendeu a gratuitidade dos transportes públicos para toda a gente, a implementar num plano faseado e quantificado, começando pelas pessoas desempregadas, pessoas com deficiência, jovens e maiores de 65 anos. A coligação liderada por Carlos Moedas declarou que também queria transportes públicos gratuitos para “os mais novos e os mais velhos”.

 

Como seria expectável, o Bloco de Esquerda, cumprindo o seu programa eleitoral, redigiu uma proposta com a colaboração de vários especialistas em transportes e pediu o agendamento da sua apresentação ao presidente da Câmara de Lisboa. Durante a discussão do orçamento da Câmara Municipal de Lisboa (CML), Carlos Moedas anunciou querer avançar com a sua medida de transportes públicos gratuitos para “os mais novos e os mais velhos”.

 

Contudo, este anúncio da gratuidade dos transportes públicos não passou de uma declaração de intenções. Não só Carlos Moedas não apresentou ainda qualquer proposta, como tem bloqueado a proposta do Bloco de Esquerda, impedindo o seu agendamento. Em 126 dias de governo da CML, a proposta do Bloco já passou 70 na gaveta da coligação de direita, onde está guardada desde 13 de dezembro, num inequívoco incumprimento do que está previsto no regimento da Câmara.

 

A falta de democracia e de capacidade de diálogo é tal, que o gabinete de Carlos Moedas enviou um ofício a todos os outros partidos dizendo que todas as matérias em que a direita também tenha proposta só serão agendadas quando a direita quiser.

 

Assim, uma medida tão importante como os transportes públicos gratuitos, um tema em que parecia haver maioria na CML para aprovar e decidir um caminho comum, foi sequestrada pela direita, sem data para sair da gaveta.

 

O Bloco de Esquerda não aceita entorses à democracia e às suas regras e, por isso, face à imutável posição de Carlos Moedas já apresentou uma queixa formal na Provedoria de Justiça, que considerou não ter competência para decidir. Assim, decidimos avançar para tribunal contra o Presidente da CML, por incumprimento das regras da autarquia. Não aceitamos vetos de gaveta.

 

Parece longínquo mês de outubro de 2021, tempo em que Carlos Moedas jurava ser um homem de consensos. Pelo contrário, os novos tempos da direita parecem ser de falta de diálogo e de incumprimento das regras da democracia.

 

CÂMARA DE LISBOA

Bloco vai avançar com queixa contra Moedas por não agendar propostas

 

Proposta em causa refere-se à criação de um programa de transportes públicos gratuitos — uma medida em que o executivo também diz estar a trabalhar. Depois de uma queixa à Provedoria de Justiça, que considerou não ser a entidade competente para avaliar o assunto em apreço, o Bloco vai avançar para os tribunais.

 

Cristiana Faria Moreira

24 de Fevereiro de 2022, 7:00

https://www.publico.pt/2022/02/24/local/noticia/bloco-vai-avancar-queixa-moedas-demora-agendamento-propostas-1996452

 

O Bloco de Esquerda vai avançar com uma queixa na Justiça contra o presidente da Câmara de Lisboa pela demora no agendamento de uma proposta da vereadora bloquista sobre a criação de um programa de transportes públicos gratuitos.

 

A decisão surge depois de a vereadora Beatriz Gomes Dias ter apresentado uma queixa à Provedoria de Justiça contra o autarca, Carlos Moedas, pelo facto de não ter ainda agendado a discussão em reunião do executivo de uma iniciativa dos bloquistas, entregue em Dezembro passado. No seu entender, esta demora “desrespeita o Regimento da Câmara Municipal de Lisboa”.

 

De acordo com este documento, “a ordem do dia de cada reunião é estabelecida pelo presidente da câmara, devendo as propostas de inclusão na ordem de trabalhos ser apresentadas pelos vereadores ao presidente da câmara com a antecedência mínima de seis dias relativamente à data da reunião”. Devem também “ser incluídas até à segunda reunião após a sua apresentação, sob pena de ficarem automaticamente agendadas para a terceira reunião após a sua apresentação”. Ora, de acordo com a queixa a que o PÚBLICO acedeu, tal não aconteceu com as iniciativas subscritas por Beatriz Gomes Dias.

 

Queixa-se a vereadora de que apresentou quatro propostas que “foram enviadas por email no dia 13 de Dezembro de 2021, ao cuidado do Gabinete do Presidente da Câmara de Lisboa, com o conhecimento do Departamento de Apoio aos Órgãos e Serviços Municipais e da Divisão de Apoio à Câmara Municipal”, assim como para os vereadores das outras forças políticas, e que entre esse dia e 21 de Janeiro — período durante o qual se realizaram cinco reuniões — não foram agendadas para discussão.

 

“Apesar das diversas tentativas em obter informação sobre o estado da inclusão dos assuntos […], o Presidente da Câmara Municipal de Lisboa optou sempre por não fornecer a respectiva informação”, refere a queixa, que acrescenta ainda que nesse período foram incluídos nas ordens de trabalho assuntos indicados por outros vereadores.

 

Com esta conduta, Moedas “opta por dar tratamento diferenciado aos vereadores e vereadoras que compõem o órgão colegial, criando desigualdades, no que se considera ser um incumprimento das disposições previstas no Estatuto do Direito de Oposição, aprovado pela Lei n.º24/98, de 26 de Maio, e na própria Constituição da República Portuguesa”, nota a queixa que foi remetida à Provedoria de Justiça no passado dia 18.

 

A resposta chegou três dias depois, referindo a Provedora não ser a entidade competente para avaliar o assunto em apreço. Esta é uma “matéria estranha à intervenção da Provedora de Justiça”, uma vez que é “um órgão de defesa dos cidadãos e das suas organizações contra os poderes públicos e não de adjudicação de conflitos institucionais entre poderes públicos”, lê-se na resposta enviada por este órgão.

 

Na sequência desta resposta, o Bloco de Esquerda decidiu que “vai interpor uma acção administrativa no tribunal administrativo para cumprimento do direito administrativo, do regimento e do direito de oposição”, refere a vereadora Beatriz Gomes Dias ao PÚBLICO. "Todos os canais de comunicação esgotaram-se. É um bloqueio inaceitável às propostas do Bloco de Esquerda e à democracia”, afirma a eleita ao PÚBLICO.

 

Transportes públicos gratuitos

“Após diversas reclamações”, três das quatro propostas subscritas por Beatriz Gomes Dias acabaram agendadas no passado dia 9 de Fevereiro, mas uma permanece ainda por marcar, precisamente a que esteve na origem da queixa apresentada à Provedoria de Justiça. Refere-se à criação de um Programa Municipal para a Gratuitidade dos Transportes Públicos, que envolva Carris, Metro de Lisboa e CP. O projecto dos bloquistas é que se inicie “o caminho para a gratuitidade com as pessoas desempregadas, jovens até aos 23 anos, seniores com 65 anos ou mais e as pessoas com deficiência”.

 

Uma proposta que é semelhante a uma das medidas que foi bandeira de Carlos Moedas durante toda a campanha eleitoral e na qual a Câmara de Lisboa diz estar a trabalhar. Em reacção a esta queixa, o município notou que na reunião de câmara de 9 de Fevereiro, o presidente “apresentou um cronograma de reuniões e uma metodologia de trabalho sobre a gratuitidade dos transportes públicos na cidade de Lisboa e as diferentes formas de a implementar, para o qual foram convidados a participar todos os vereadores, num trabalho conjunto que tem por objectivo encontrar consensos sobre as formas de implementação da medida no mais curto prazo”. Um planeamento que “mereceu elogios de todos os partidos, à excepção do Bloco de Esquerda”, sublinha a câmara numa curta resposta ao PÚBLICO.

 

O município detalha ainda que desde o início do mandato, foram agendadas e votadas 12 propostas elaboradas pelos vereadores do PS, PCP, Livre, Cidadãos por Lisboa e BE.

 

TRANSPORTES PÚBLICOS

Moedas diz ter apresentado um “orçamento dos transportes públicos”

 

O autarca quer alargar a medida dos transportes públicos gratuitos para jovens e idosos à Área Metropolitana de Lisboa mas tudo dependerá das conversações com os restantes presidentes camarários, a empresa Transportes Metropolitanos de Lisboa e os deputados municipais.

 

Ana Bacelar Begonha

6 de Janeiro de 2022, 15:30

https://www.publico.pt/2022/01/06/local/noticia/moedas-apresentado-orcamento-transportes-publicos-1990971

 

Em visita à estação de recolha de Miraflores da Carris, esta quinta-feira, o presidente da Câmara Municipal de Lisboa (CML), Carlos Moedas, reforçou a prioridade de se implementar a gratuitidade dos transportes públicos para jovens e idosos, referindo-se ao orçamento municipal para 2022 como o “orçamento dos transportes públicos”. Pretende também que esta aposta se estenda a toda a área metropolitana, em articulação com as outras autarquias.

 

“Temos trabalhado muito com a Carris e também com os Transportes Metropolitanos de Lisboa (TML) porque esta é uma medida que permite a descarbonização da cidade e que habitua as pessoas a andarem de transportes públicos. E, por isso, esta é uma medida, para mim, fundamental”, afirmou em declarações à imprensa. “Este orçamento é, de certa forma, o orçamento dos transportes públicos”, sublinha.

 

A introdução de “transportes públicos gratuitos para residentes menores de 23 e maiores de 65 anos” já constava do programa eleitoral da coligação “Novos Tempos" e já tinha sido apontada por Moedas como uma das medidas prioritárias do novo executivo da CML no seu discurso de posse, mas só agora tomou forma.

 

De acordo com o vice-presidente da CML, Filipe Anacoreta Correia, que anunciou a medida esta quarta-feira na apresentação do orçamento municipal para 2022, os passes gratuitos deverão abranger os jovens dos 13 aos 18 anos, os estudantes até aos 23 anos e os maiores de 65 anos residentes em Lisboa.

 

Esta proposta terá um custo plurianual de 12 milhões de euros, no qual se inclui a “compensação por perda de receita para os operadores”.

 

O executivo pretende adoptar a medida através da Transportes Metropolitanos de Lisboa (TML), empresa responsável pela gestão dos transportes e dos passes, de forma a abranger todos os meios de transportes públicos da cidade: os rodoviários, o metropolitano e também a rede ferroviária.

 

Carlos Moedas comprometeu-se também, na visita à Carris, a apresentar esta medida na próxima segunda-feira aos outros concelhos da Área Metropolitana de Lisboa (AML), que já se mostraram abertos a implementar a medida nas suas cidades, revelou o presidente da CML.

 

Descarbonização das cidades

“Penso que é algo com que muitos colegas também sonham e, por isso, se eu puder ajudar nesse caminho e influenciar nesse movimento nacional dos transportes públicos, acho que seria bom para todos”, afirmou. “Quero influenciar essa passagem em Portugal para aquilo que eu penso que é a melhor medida para a descarbonização das cidades”.

 

Quando questionado pelo PÚBLICO sobre o andamento das conversações com a TML, Moedas mostrou-se confiante, declarando que “vamos lá chegar, sem dúvida”.

 

Contudo, Anacoreta admitia, na apresentação do orçamento, a possibilidade de que a medida venha a ter de abarcar apenas a Carris, empresa tutelada pela CML, e de ser implementada de forma faseada, primeiramente ao nível dos idosos, “por razões técnicas”.

 

Relativamente à data de implementação da medida, o o autarca quer fazê-lo “o mais breve possível”, apontando para a sua efectivação no segundo semestre do ano, apesar de ter ainda pela frente cerca de dois a três meses de trabalho em conjunto com a Carris.

 

A coligação “Novos Tempos” vai precisar, pelo menos, da abstenção do PS, do Livre e da deputada independente Paula Marques para aprovar o orçamento da CML para este ano e, com ele, a introdução dos transportes gratuitos em Lisboa para as camadas mais jovens e velhas da população.

 

Em resposta aos jornalistas sobre como espera aprovar o documento, Moedas disse que, por este ser “um orçamento para as pessoas”, que não mistura “a ideologia e a política”, considera “que todos aqueles que fazem parte do executivo, estejam do lado que tem pelouros ou não, vão olhar para este orçamento com bons olhos”.

 

A proposta foi esta quarta-feira entregue a todos os vereadores municipais e será discutida na próxima reunião da Câmara Municipal no dia 20 de Janeiro, para depois ser votada na Assembleia Municipal.

 

Se aprovada, irá aumentar o conjunto de pessoas na cidade com acesso gratuito aos transportes, que até agora são apenas as crianças com menos de 12 anos e os ex-combatentes com mais de 65 anos.

 

A medida não vai obrigar à criação de novos passes, nem a alterações nos custos dos passes e bilhetes da restante população, mas a um único passe gratuito comum para os autocarros e os metros, garantiu o presidente da CML.

 

A visita do executivo da CML à transportadora durou cerca de 30 minutos e contou com paragens ao posto de abastecimento a gás natural, inaugurado o ano passado, e à central de comando de tráfego da Carris, onde se realiza a monitorização de ocorrências no trânsito, em articulação com a EMEL e a PSP e em comunicação directa com os condutores dos veículos da Carris.

 

Posteriormente, o executivo esteve em reunião à porta fechada com o Conselho de Administração da Carris, na qual continuaram as conversações sobre a medida sobre os transportes públicos gratuitos que pretendem implementar.

 

Texto editado por Ana Fernandes

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