quinta-feira, 28 de outubro de 2021

Margarida Martins - Revista Sábado / Margarida Martins é arguida por suspeitas de peculato e abuso de poder na Junta de Arroios

VÍDEO: "Depois vais-me buscar para levar para casa." As compras pessoais de Margarida Martins num carro da junta

 

A SÁBADO filmou e fotografou a recandidata à Junta de Freguesia de Arroios nas suas compras pessoais (sem pagar) ao sábado. Um carro da junta e um fiscal vão buscá-la e levá-la a casa. A Segurança Social reclama-lhe €47 mil e penhorou-lhe salário e casa. Fernando Medina reitera que mantém confiança pessoal e política.

 

https://www.sabado.pt/video/detalhe/video-depois-vais-me-buscar-para-levar-para-casa-as-compras-pessoais-de-margarida-martins-num-carro-da-junta?fbclid=IwAR3vryoofssnHJxbffOY_FHdYHG-2oNu5jX4v7URpqPvJn44_WeFDb-twJU

LISBOA


Margarida Martins é arguida por suspeitas de peculato e abuso de poder na Junta de Arroios

 

Gestão da ex-autarca Margarida Martins é alvo de uma investigação a alegados crimes económico-financeiros e de usufruto pessoal de bens públicos.

 

João Pedro Pincha e Ana Henriques

27 de Outubro de 2021, 11:46 actualizado a 27 de Outubro de 2021, 18:27

https://www.publico.pt/2021/10/27/local/noticia/margarida-martins-alvo-buscas-policia-judiciaria-junta-arroios-1982677

 

A ex-presidente da Junta de Freguesia de Arroios, Margarida Martins, foi constituída arguida por suspeitas de ter cometido crimes de peculato e abuso de poder no exercício de funções públicas, confirmou ao PÚBLICO o seu advogado Ricardo Sá Fernandes. 

 

A Polícia Judiciária esteve esta quarta-feira a fazer buscas na junta de Arroios, em Lisboa, no âmbito de uma investigação a alegados crimes económico-financeiros e de usufruto pessoal de bens públicos que terão ocorrido durante os mandatos de Margarida Martins, a ex-autarca socialista que perdeu as eleições a 26 de Setembro. 

 

As diligências estiveram a cargo da Unidade Nacional de Combate à Corrupção daquela polícia criminal, que procedeu à execução de dez mandados de busca — três domiciliárias e sete não domiciliárias — e realizou uma busca autorizada, visando a recolha de documentação relacionada com suspeitas de práticas criminosas, informou o Ministério Público (MP) em comunicado na tarde desta quarta-feira. 

 

O inquérito judicial é conduzido pelo Departamento de Investigação e Acção Penal (DIAP) de Lisboa, que está a investigar factos que podem constituir crimes de peculato, peculato de uso e participação económica em negócio.

 

De acordo com informações recolhidas pelo PÚBLICO, as buscas estarão sobretudo relacionadas com dois processos que há muito levantavam dúvidas na freguesia. Por um lado, a compra de cimento em doses consideradas excessivas. Por outro, a contratação de empresas para a manutenção de espaços verdes.

 

Neste último caso, o Tribunal de Contas enumerou várias ilegalidades num relatório de Outubro do ano passado. A junta dividiu os espaços verdes da freguesia por dois lotes, o que os juízes consideraram ser uma estratégia para fugir à necessidade de concursos públicos, e fez contratos por ajuste directo com várias empresas com os mesmos donos. Como o PÚBLICO revelou, antes de celebrar esses contratos, a autarquia fez consultas ao mercado que apenas envolviam empresas do mesmo grupo. A auditoria do Tribunal de Contas seguiu para o Ministério Público.

 

Ao PÚBLICO, Ricardo Sá Fernandes confirmou que os assuntos sob investigação se remetem aos factos já apreciados pelo Tribunal de Contas. O processo é referente a 2018, tendo o mandado de busca sido emitido a 15 de Outubro pelo juiz Carlos Alexandre. 

 

Já o chamado “caso dos cimentos”, como ficou conhecido nos meandros autárquicos da capital, diz respeito à compra deste material em quantidades muito superiores às necessidades. O caso, que começou por ser noticiado pelo Expresso, remonta a 2017, quando o segundo executivo de Margarida Martins tomou posse e começou a ver aparecer sete orçamentos por pagar a uma empresa de materiais de construção. O valor das compras foi considerado anormal, mas as facturas foram pagas, o que gerou mal-estar entre os eleitos e foi um dos motivos que levaram à demissão de três vogais no fim de 2018. 

 

Depois de ter feito um inquérito interno que apontava falhas no controlo de compras, a junta fez queixa ao Ministério Público, suspeitando de que houvera conluio entre um funcionário e a empresa de materiais, mas o inquérito judicial acabou por ser arquivado com críticas à própria autarquia. No despacho de arquivamento, o procurador acusa-a de “descontrolo nos procedimentos”, pois “não existia qualquer confrontação dos materiais, valores e quantidades com as obras e arranjos efectivamente realizados”. Os eleitos da assembleia de freguesia pediram a reabertura da investigação.

 

Margarida Martins foi presidente da Junta de Freguesia de Arroios entre 2013 e 2021. A poucos dias das eleições deste ano, a revista Sábado divulgou uma investigação que mostrava a autarca a fazer compras pessoais no Mercado 31 de Janeiro com recurso a um carro e a funcionários da junta. Candidata a um terceiro mandato pelo PS, a ex-dirigente da Abraço acabou derrotada por Madalena Natividade, da coligação Novos Tempos (PSD/CDS), que tomou posse na semana passada.

 

Ao princípio da tarde, o novo executivo emitiu um comunicado a sublinhar que as buscas incidiram sobre “compromissos assumidos no decorrer de anteriores mandatos” e que “tem prestado total colaboração com a investigação em curso”.

 

Não é a primeira vez que Margarida Martins está envolvida em investigações judiciais. Na edição de 1 de Abril de 2000, o PÚBLICO dava nota de que a TVI revelara que a Inspecção-Geral do Ministério do Trabalho e da Solidariedade detectara alegadas irregularidades nas contas e actividades da associação Abraço, que presta apoio a pessoas infectadas com VIH, então dirigida por Margarida Martins.

 

Em causa, lê-se na notícia, estavam os elevados salários de alguns dos membros da direcção, em particular o da presidente, e o alegado desvio de obras de arte que tinham sido doadas à associação. Também a delegação da Madeira estava envolvida na polémica, acusada de desvio de fundos atribuídos por instituições públicas. A denúncia partira de um ex-coordenador daquela delegação, que era também alvo de suspeitas.

 

Num artigo de opinião publicado na mesma edição, com o título “A caça às bruxas”, Margarida Martins negava as acusações e afirmava haver uma “conspiração” contra a associação. com Cristiana Faria Moreira

 

tp.ocilbup@ahcnip.oaoj


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