EDITORIAL COP26
A COP26 e o risco de voltarmos a falhar
Fracasso ou sucesso, de uma certeza já não nos livramos:
a maior das batalhas civilizacionais do nosso tempo está em marcha e ela é
imparável. O relógio está a contar.
Tiago Luz Pedro
31 de Outubro de
2021, 5:30
https://www.publico.pt/2021/10/31/opiniao/editorial/cop26-risco-voltarmos-falhar-1983127
A mãe de todas as
cimeiras, o momento do agora ou nunca, a nossa derradeira oportunidade. Não tem
faltado drama para descrever o muito que se joga por estes dias em Glasgow, na
26.ª Cimeira do Clima da ONU (COP26). Há boas razões para tal. O momento é
grave e há um risco sério de voltarmos a falhar.
Na última semana,
quando a ONU fez as contas aos planos climáticos já enunciados pelos 197 países
reunidos na COP, o roteiro ficou traçado: se tudo se mantiver como está,
esqueçamos Paris e a meta de conter até ao final do século o aumento da
temperatura em 1,5°C face aos níveis pré-industriais; 2,7°C é agora o número
que nos separa do abismo e só cortando para metade as emissões de CO2 até 2030
estaremos em condições de assegurar que o planeta pode perseverar.
Há óptimas razões
para inquietação e para se temer que Glasgow fique longe de repetir os avanços
do Rio de Janeiro (1992), Quioto (1997) ou Paris (2015). Numa cimeira destinada
a actualizar os planos dos vários países para reduzir as emissões de gases com
efeito de estufa, muitos não o fizeram e vários só prometem acção concreta para
lá de 2030. Dos quatro países mais poluentes do mundo, a Rússia não estará, a
China deixou Xi Jinping em casa e não se espera que a Índia de Modi se converta
tão cedo ao imperativo da neutralidade carbónica. Haja alguma esperança: os EUA
estão de volta ao Acordo de Paris, depois dos anos tenebrosos de Trump e do
ascenso do negacionismo climático.
Posto isto, o que
sobra? Há uma crise energética em curso, que mostra que já estamos a
desinvestir nos combustíveis fósseis mas que ainda não temos uma
infra-estrutura limpa suficientemente robusta para o compensar – vai ser preciso
acelerá-la, canalizando para aqui o actual volume obsceno de subsidiação
pública ao petróleo, carvão e gás natural; há notícias promissoras e objectivos
realizáveis, como uma redução rápida das emissões de metano ou um mercado de
carbono que é preciso estimular; mas há, sobretudo, uma consciência crescente,
cada vez mais activa e global, de que é aqui que a Humanidade joga o seu
destino e que não agir agora pode ser tarde de mais.
Fracasso ou
sucesso, de uma certeza já não nos livramos: a maior das batalhas
civilizacionais do nosso tempo está em marcha e ela é imparável. O relógio está
a contar. Ou redobramos a ambição e geramos consensos para enfrentar um
problema que é global ou caminhamos em passo acelerado para a catástrofe
climática e social.
tp.ocilbup@zulogait
Sem comentários:
Enviar um comentário