Interior
de prédios da Duque de Loulé demolido por ordem da Câmara de
Lisboa
Risco
de “colapso iminente” é a explicão da autarquia. Licença
obrigava a manter o interior dos prédios rico em decoração art
déco
José António
Cerejo / 14-7-2015 / PÚBLICO
Estava escrito nos
astros: os três edifícios considerados um dos “mais elegantes
conjuntos habitacionais” da Lisboa do início do século XX, com os
números 86 a 96 da Av. Duque de Loulé, estão desde há um mês
reduzidos a pouco mais do que as fachadas.
O projecto aprovado
em 2009 obrigava à manutenção e recuperação do miolo dos
edifícios, mas já em Maio de 2012 a fiscalização camarária dera
conta de que tinham sido ilegalmente demolidas algumas paredes, antes
de as obras serem interrompidas no final de 2011.
Em Março de 2013, o
PÚBLICO relatou que uma boa parte dos telhados tinha sido retirada e
que o conjunto estava abandonado e em degradação acelerada. Nos
primeiros meses deste ano as máquinas voltaram e a quase totalidade
do que restava entre fachadas foi abaixo, acabando nos vazadouros de
entulho.
Questionada pelo
PÚBLICO, a câmara respondeu, por escrito, que “a 30 de Janeiro de
2014 os proprietários foram intimados à demolição dos edifícios
por existir a possibilidade iminente de colapso de paredes”. Os
serviços de Urbanismo da autarquia acrescentam: “Os trabalhos em
execução, devidamente autorizados, limitam-se ao estritamente
necessário para assegurar as condições de segurança estrutural
dos edifícios, nomeadamente a retirada de todas as estruturas e
elementos que derrocaram e o reforço das estruturas que resistiram,
não correspondendo à demolição integral dos mesmos”.
Quem olha através
dos vãos das janelas e de alguma porta entreaberta percebe, no
entanto, que em dois dos prédios nada sobrou para lá dos átrios de
entrada e que, mesmo no terceiro, na esquina com a Luciano Cordeiro,
muita coisa foi arrasada.
Passados 13 anos,
ficou assim satisfeita a pretensão inicial dos proprietários, que
então viram aprovado um pedido de informação prévia que
contemplava apenas a manutenção das fachadas. Foi a polémica
desencadeada depois da aprovação do projecto, em 2004, que levou a
câmara a recuar, não licenciando a obra. Já em 2009 foi aprovado
um outro projecto que obrigava à preservação dos interiores,
incluindo a “organização espacial do desenho original” e a
“maior parte dos elementos decorativos existentes”.
Adquirido pelo Grupo
Espírito Santo (GES) no final de 2012, o conjunto passou logo a
seguir para a Coporgest, participada em 25% pelo GES. Recentemente
foi comprado pela Imopatrimónio, uma empresa com sede no mesmo local
que a Coporgest e dirigida pelas mesmas pessoas.
De acordo com a
câmara, está agora aprovada para o local a construção de 97
fracções habitacionais e de três comerciais, “mantendo-se a
volumetria licenciada e a recuperação da totalidade do existente”.
O que significa “recuperar a totalidade do existente” não é
explicado. Quanto às demolições ilegais, a câmara diz que “para
o local existem processos de contra-ordenação em curso, em fase de
instrução”.
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