quarta-feira, 29 de junho de 2016

Parca clarificação nos destinos de Espanha


Editorial / PÚBLICO
Parca clarificação nos destinos de Espanha
DIRECÇÃO EDITORIAL 28/06/2016 – PÚBLICO

Apesar de todos lhe negarem apoio, só Rajoy parece ter condições para formar novo governo em Madrid.


Dois dias depois do “Brexit” sancionado em referendo no Reino Unido, o voto nas legislativas espanholas só clarificou com parca margem a crise de poder em Madrid. As eleições de Dezembro, destruindo o tradicional bipartidarismo, tinham deixado no ar a possibilidade de um governo mais à direita ou mais à esquerda, consoante o tipo de acordo pós-eleitorais que viessem a ser conseguidos. Porém, como se viu, a única coisa constante nos últimos meses foi um irritante impasse que desembocou em novas eleições. E o resultado destas, diferindo pouco do das anteriores, permite pelo menos perceber que os protagonistas do antigo bipartidarismo sobreviveram aos seus mais directos concorrentes: o PP subiu de 123 para 137 deputados, em parte à custa do Cidadãos (que baixou de 40 para 35); e o PSOE, que as sondagens davam já em terceiro lugar, ficou à frente da coligação Unidos Podemos (71 deputados), apesar de ter perdido lugares no congresso espanhol (passou de 90 para 85). Isto quer dizer que Rajoy tem, pelas urnas, legitimidade para formar governo, mas está longe de ter a tarefa facilitada. O PSOE garante, ainda que faça bluff, que não apoiará uma investidura de Rajoy nem se vai abster; e o Cidadãos afirma que não apoiará nenhum governo com Rajoy. Se contasse apenas a matemática, PP, Cidadãos, nacionalistas bascos e canários, juntos, têm meio congresso (175 deputados em 350), faltando-lhes apenas mais um voto para garantir a aprovação de um governo logo à primeira votação. Já a esquerda não pode almejar semelhante feito, não só porque a soma dos votos do PSOE, Podemos e aliados fica abaixo do necessário (156, antes tinham 159), como porque o PSOE mais depressa estancará a sua queda a liderar a oposição do que envolvendo-se em qualquer governo. Sendo assim, e apesar dos escândalos de corrupção que ainda mancham o PP, Rajoy parece destinado a governar Espanha. Com a oposição e os eleitores de atalaia.

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