sábado, 18 de junho de 2016

Remember we live here, say irate Lisbon locals amid tourist crush / Boom' turístico sacode a tradicional Lisboa

Remember we live here, say irate Lisbon locals amid tourist crush
Residents feel left behind as city trams fill with tourists and public partying grows.

By Henrique Almeida
Bloomberg News
Originally published August 14, 2015

Ever since tram number 24 stopped running up one of Lisbon’s famous hills two decades ago, residents have been demanding its return. So when the renamed Tram Tour began service in May on a shortened route known for hilltop views of the city, it might have been cause to rejoice.

Instead, the tram has become just the latest symbol for locals of tourists being attended to while they’re literally being left behind. Lisbon has been the fastest-growing city destination in southern Europe for overnight guests since the global financial crisis amid an unprecedented surge in the nation’s $11.6 billion tourism sector.

The tram is “a little insulting for Lisbon residents,” said Mario Alves, who is among the more than 2,500 people who have signed a petition demanding another tram service also meant for locals, which, at 6 euros ($6.7) a ride, costs more than twice other city transport and caters to visitors. “Other trams are often filled with tourists and some old city residents have to walk.”

The backlash isn’t limited to trams — resident groups across the city are asking for more regulation to limit the impact of the tourism inflow. Neighborhood officials are advocating that Lisbon join European cities such as Barcelona, which froze hotel openings. Better garbage collections in highly trafficked zones and a crackdown on public drinking are also necessary, they said.

While Lisbon hasn’t announced any similar plans, the nation’s economy minister agrees that something may have to give. While tourism is crucial to the economy, “there are aspects that need to be balanced out, such as noise in certain areas of Lisbon,” Antonio Pires de Lima said recently.

Mass influx
Long overlooked by visitors who favored Portugal’s southern Algarve region, Lisbon is attracting more tourists as a result of an ambitious online marketing campaign and relatively lower prices for tourists than in other similar destinations, a growing cruise-ship port and security concerns in other sunny destinations.

An estimated 3.6 million overnight foreign guests, or more than 6.5 times the city’s population, will visit it this year — an even higher multiple than Barcelona, which expects to receive 7.6 million international visitors.

The increase has helped lead Portugal out of recession and is forecast to account for 15.8 percent of Portugal’s 2015 GDP. Still, locals are increasingly feeling put out as tourists take over their streets, transport and even their apartments, changing the fabric of the city.

Pink Street crowds
The epicenter of the growing tension between residents and tourists has turned to the riverside Cais do Sodre neighborhood, which decades ago was one of the city’s forgotten districts. Its dark, back streets with a handful of brothels was filled with sailors and locals.

In 2011, everything changed. The quarter was given a makeover and its main street Rua Nova do Carvalho closed to traffic, painted fluorescent pink and nicknamed Pink Street. Hotels, tourist apartments, restaurants and bars set up shop in the area.

“These days, about 70 to 80 percent of our clients are tourists,” said Catarina Cabrita, a bartender at Champanharia do Cais in Pink Street. “Business is excellent.”

Living there is another matter, locals say.

“It’s gotten worse,” said Isabel Sa da Bandeira, who lives 100 meters from Pink Street and heads an organization called “People Live Here” aimed at reminding authorities of the residents around them. “This area used to be in bad shape but we could all sleep at night because everything was done behind closed doors. Now, the party is everywhere.”

Short-term rentals swell
And she really means everywhere as tourists start sleeping in locals’ apartments. One change of the 2011 European Union and International Monetary Fund aid package extended to Portugal to ease it out of the sovereign-debt crisis stipulated a gradual end to long-held rent controls.

As those protections end, landlords are turning away longtime tenants and selling properties to foreign investors — or renting directly to tourists for short stays. Sale prices measured in square meters have jumped 60 percent in some areas of Lisbon since 2011, said Paulo Silva, head of Aguirre Newman in Lisbon, a real estate consulting firm.

The money keeps pouring in — foreigners accounted for 90 percent of the 730 million euros invested last year in Portuguese real estate — nearly three times the 2013 amount. Portuguese property investment will increase to about 1 billion euros this year, according to Aguirre Newman data.

That could lead to an exodus of natives from the city, said Vasco Morgado, president of Santo Antonio civil parish, which includes several of Lisbon’s historic quarters.

“Landlords are putting pressure on residents to leave so they can rent the units to tourists,” said Morgado, pointing out a 35-meter street in his parish that is now home to five hostels. “Nobody is against tourism but there must be a balance because Lisbon has Lisbonites and Lisbonites can’t be considered as collateral damage. Tourists won’t want to come to Lisbon if there are no residents.”

Without legislation to restrain the growth, however, Lisbonites might need to learn how to live with it in the short term, at least, said Eduardo Abreu, a partner at the Lisbon- based Neoturis tourism consulting firm, calling the dissent “growing pains.”

“When a city goes through such an unprecedented tourism boom, it’s obvious that unpleasant situations occur,” Abreu said. “But Lisbon residents have to learn to live with tourists. After all, if you go to London, Paris or New York you will always find thousands of tourists in spots like Piccadilly Circus, the Eiffel Tower or Times Square. It’s inevitable.”

Henrique Almeida

Boom' turístico sacode a tradicional Lisboa
Fisionomia está mudando devido à condição de destino turístico da moda.
Turismo se transformou na principal atividade econômica da cidade.

GLOBO/16/06/2016

Ruas pavimentadas, edifícios revitalizados, dezenas de novos hotéis, milhares de turistas pelas vias estreitas, "tuk-tuks" que circulam por caminhos íngremes, bondes lotados de estrangeiros e velhas tascas transformadas em locais "gourmet".
Este é o panorama que o centro de Lisboa apresenta hoje, uma cidade frequentemente qualificada de tradicional, muito presa às suas raízes, com um caráter profundamente ligado aos bairros e cuja fisionomia está mudando de forma visível devido a sua condição de destino turístico da moda.
Os edifícios derruídos e em mau estado - normalmente no Centro Histórico - estão sumindo graças à reabilitação, e o turismo se transformou na principal atividade econômica da cidade. No entanto, um crescente número de vozes alerta para as consequências deste fenômeno e reivindicam limites para que a capital de Portugal não perca sua essência.
Os quatro milhões de visitantes estrangeiros registrados em 2015, um novo recorde - e que continua subindo -, contrastam com os pouco mais de 500 mil moradores que tem Lisboa, número que chega a 1,5 milhão se a área metropolitana for incluída.
Esta tendência representa também uma revolução no mundo imobiliário, que vive um "boom" praticamente inédito, em oposição à letargia da construção nos anos de crise.
Ao calor da explosão de lisboetas que alugam quartos em seus próprios apartamentos através de novas plataformas da internet, os preços tenderam a subir de forma exponencial e as imobiliárias estimam um aumento no preço do aluguel de 30% a 40% desde 2014.
Por trás do "boom" do setor imobiliário está fundamentalmente o investimento estrangeiro, responsável por quase 80% de toda a atividade. Segundo dados de um relatório da PricewaterhouseCoopers (PwC), os números são "impressionantes para o contexto português, que nunca tinha recebido" tantos fundos procedentes do exterior.
A própria prefeitura de Lisboa calcula que um apartamento de um quarto no centro ronda agora os 800 euros (pouco mais de R$ 3 mil), um valor praticamente igual ao salário líquido médio de um trabalhador português.
Esta pressão de alta de preços agravou a saída de moradores do centro histórico, totalmente voltado a atender turistas. Os armarinhos, os bares clássicos e até os açougues deram lugar às lojinhas de presentes, aos "gastrobares" e ao comércio das grandes marcas de roupa mundialmente conhecidas.
"Estamos transformando Lisboa em um parque temático, uma espécie de Disneyworld", advertiu o pesquisador urbano Luís Mendes, professor no Instituto de Geografia e Regulação do Território da Universidade de Lisboa.
Mendes acrescentou que existe uma "turistificação" da cidade que "está acelerando o processo de expulsão de antigos moradores dos bairros históricos para zonas periféricas".
Em sua opinião, uma lei antiga que permite aos proprietários encerrar o contrato com o inquilino com relativa facilidade e uma legislação sobre alojamentos turísticos informais demais são dois importantes fatores neste processo.
"A maior parte dos desalojamentos não é direto, e sim indireto, já que à medida que a região se revitaliza, desaparecem as lojas de bairro. E assim fica uma população pobre, com pouca mobilidade, sem serviços próximos e cuja rede de amigos estava no bairro", lamentou.
Tanto no Bairro Alto quanto em Alfama, dois dos bairros mais típicos da cidade, é cada vez mais difícil ouvir o português, segundo os presidentes das respectivas associações de moradores.
A multiplicação de rotas com companhias aéreas de baixo custo, a chegada em massa de cruzeiros, o reforço da estratégia de promoção internacional, preços competitivos em comparação a outras partes da Europa e a crise que vivem destinos como Tunísia e Egito são algumas das razões do sucesso turístico luso.

Uma pesquisa realizada pelo Observatório de Turismo de Lisboa com visitantes estrangeiros em 2014 concluiu que a característica mais significativa da cidade era, com ampla vantagem, a "autenticidade". Dois anos depois, essa marca parece agora correr risco de extinção.

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