quinta-feira, 9 de junho de 2016

Cerveja no Arco do Cego só vai poder ser vendida até às 21h


Cerveja no Arco do Cego só vai poder ser vendida até às 21h
LILIANA BORGES 09/06/2016 - / PÚBLICO

Face às reclamações dos moradores do Arco do Cego, em Lisboa, devido ao ruído e lixo acumulado, a câmara irá estender a restrição de horário a mais três estabelecimentos e avança com um plano de intervenção.

Depois de muita contestação por parte dos moradores nas imediações do jardim do Arco do Cego, a Câmara de Lisboa decidiu avançar, como propunha o CDS, com mais restrições ao horário de funcionamento dos estabelecimentos da zona envolvente, que agora têm de fechar até às 21h, e com um plano de intervenção. A decisão foi aprovada por unanimidade, esta quarta-feira, durante uma reunião de câmara.

Inaugurado há mais de uma década, o jardim do Arco do Cego é o local de eleição de um elevado número de jovens que elogia o ambiente e os baixos preços de bebidas alcoólicas, especialmente de cerveja, praticados nos estabelecimentos locais. No entanto, durante os últimos tempos, a convivência entre os moradores e quem frequenta o jardim não tem sido pacífica.

Não é a primeira vez que a Câmara de Lisboa decidiu optar pela restrição de horários na zona uma vez que já tinha sido imposta a dois espaços comerciais, ambos na avenida D. Filipa de Vilhena. No entanto, desta vez, a câmara irá estender a decisão a mais três outros estabelecimentos com o propósito de diminuir a concentração naquele espaço durante a noite de forma a diminuir o volume de ruído na zona. No documento de trabalho da Câmara de Lisboa ao qual o PÚBLICO teve acesso, a autarquia recorda que já se reuniu com o Instituto Superior Técnico (IST), a instituição de ensino superior mais perto do jardim, “no sentido de sensibilizar para o agravamento dos problemas face à proibição de venda de álcool dentro do IST”.

Assim, a câmara justifica a decisão com base na “ineficácia das medidas pedagógicas na resolução dos problemas identificados”, quer com o IST, quer com associações de moradores e comerciantes, forças policiais, serviços municipais e outros estabelecimentos de ensino na área.

Por isso, a autarquia irá avançar com obras de reestruturação do espaço, que será delimitado “com vedação a definir”. Nesta primeira fase serão também introduzidas sete árvores e pelo menos mais dois bancos. Ao mesmo tempo, a câmara está ainda a avaliar com a Carris a possibilidade de adaptar o edifício adjacente ao jardim do Arco do Cego, a antiga gare dos eléctricos, para a construção de uma casa de banho pública.

“É um ponto de viragem naquilo que é a vivência no Arco do Cego”. É assim que João Gonçalves Pereira, vereador do CDS-PP, classifica a aprovação da proposta do seu partido. Na sua opinião, com esta mudança a Câmara de Lisboa “conseguiu resolver o problema nocturno”. Com a extensão da limitação no horário de funcionamento a mais espaços, a autarquia pretende restringir a compra de bebidas alcoólicas a baixo preço no espaço envolvente durante a noite.

Ao PÚBLICO, João Gonçalves Pereira elogiou “a preocupação em relação a este assunto por parte do vice-presidente da Câmara de Lisboa”, o socialista Duarte Cordeiro, e acredita que a decisão deverá ser encarada como uma oportunidade para os donos dos estabelecimentos. “Os comerciantes têm agora uma nova oportunidade de resolver eles próprios a situação”, sublinha João Gonçalves Pereira. O vereador acredita que “se os proprietários perceberem que o mercado se deve adaptar, aumentando os preços das bebidas”, existirá uma “dispersão” do problema.

Além disso, apesar de ser uma decisão cautelar, o vereador do CDS sublinha que se trata de uma solução transitória e não deve ser encarada como algo definitivo. “Daqui a um ano, por exemplo, a câmara poderá avaliar a situação e repor os horários até agora praticados”, adianta.

No entanto, e apesar de terem votado a favor da medida, nem todos os grupos partidários acreditam na eficácia da solução camarária. É o caso do PCP. Ao PÚBLICO, Carlos Moura acredita que esta restrição de horário não resolverá o problema. Para o vereador, a solução passaria pela alteração “do desenho do próprio espaço”.

Também António Prôa, vereador do PSD, tem dúvidas que a decisão “seja eficaz” e de que “seja este o caminho”. Para o vereador social-democrata, poderá haver uma diminuição pontual do problema, mas é preciso investir numa resposta mais definitiva. Uma das apostas, seria, por exemplo, “promover a criação de mais espaços que permitam dar à cidade mais locais de convívio”.“Parece-me que isto se trata essencialmente de um problema de concentração. Se existissem mais espaços semelhantes, a concentração não seria tão grande, o que aliviaria o jardim”, analisa.

António Prôa mostrou-se ainda preocupado com as consequências que a restrição do horário de funcionamento pode trazer aos comerciantes. “Temos de ter alguma cautela. Esta decisão pode ser injusta para estes comerciantes e pode não ser eficaz.” “As pessoas podem sempre ir comprar a outro sítio, ir a um supermercado, trazer de casa e o problema mantém-se”. “O investimento deveria ir para uma análise da cidade”, defende o vereador.

Contactada pelo PÚBLICO, fonte oficial da Câmara de Lisboa afirmou que "se estas medidas não forem suficientes podem ser aplicadas outras mais severas".



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