segunda-feira, 12 de agosto de 2013

Uma colónia britânica no extremo Sul da Península Ibérica no ano da graça de 2013 ?


A comédia do Rochedo

É incompreensível que dois estados da UE não se entendam numa questão como a de Gibraltar
É no mínimo anacrónica a existência de uma colónia britânica no extremo Sul da Península Ibérica no ano da graça de 2013 - exactamente três séculos após a assinatura do Tratado de Utrecht, através do qual a Espanha cedeu Gibraltar ao Reino Unido para sempre. Mas o mundo nem sempre é linear e a favor do Reino Unido falam os termos inequívocos daquele tratado e a vontade expressa de forma igualmente inequívoca, em dois referendos, pelos habitantes do Rochedo de continuarem a ser parte do Reino Unido. Mas, sendo a Espanha e a Grã-Bretanha parte da União Europeia, é no mínimo ridículo que o conflito sobre Gibraltar esteja a atingir proporções como estas. Foi pueril o comportamento de Gibraltar ao atrapalhar o acesso de barcos de pesca espanhóis a águas que considera suas e é cómica a ideia britânica de enviar navios de guerra para o estreito. A Espanha cobriu-se de ridículo ao propor uma aliança à Argentina, comparando as Malvinas a Gibraltar e ao afirmar que o tratado do século XVIII refere-se a cedência do território mas não... ao espaço aéreo (uma falha dos diplomatas setecentistas?). Convinha também pensar que quem quer Gibraltar de volta não pode querer ao mesmo tempo manter Ceuta.
Gibraltar escusava de ter provocado Madrid, que não pensou duas vezes antes de reacender uma cruzada nacional magnífica para desviar as atenções da opinião pública das misérias do escândalo Barcenas.
Nem a Espanha conseguirá alguma vez readquirir a soberania de Gibraltar agindo desta forma nem os britânicos acautelam os interesses dos habitantes da colónia ao não cuidarem bem das relações de vizinhança.

O que não se aceita é que, numa Europa sem fronteiras, duas capitais europeias não se consigam entender, quando o óbvio seria adequar as especificidades de Gibraltar ao contexto comunitário. Para começar, faziam melhor em acabar com a fronteira em vez de brincar às guerras.

Reino Unido ataca Espanha por causa de Gibraltar. Pela via legal
Por Diogo Vaz Pinto
publicado em 13 Ago 2013

David Cameron quer que os tribunais europeus ponham fim a medidas de controlo fronteiriço espanholas que diz serem "politicamente motivadas e desproporcionadas"
O primeiro-ministro britânico, David Cameron, está a analisar as suas opções na "acção legal" que deverá empreender contra Espanha devido ao aumento dos controlos fronteiriços no acesso a Gibraltar, medida que, segundo Londres, é "politicamente motivada e totalmente desproporcionada". O anúncio foi feito ontem pelo porta-voz de Cameron, que fez questão de sublinhar: "Esta será uma medida sem precedentes, pelo que queremos ponderá-la cuidadosamente antes de tomarmos a decisão de seguir para a frente com ela".

Madrid reagiu à declaração, afirmando que não irá abandonar os controlos nas suas fronteiras. "Os controlos são legais e proporcionais. Somos obrigados a fazê-los ao abrigo de Schengen. Não podemos renunciar a eles.", disse um porta-voz do Ministério dos Negócios Estrangeiros espanhol.

A crescente tensão na disputa diplomática que envolve os dois países prende- -se às rigorosas buscas que os guardas espanhóis têm levado a cabo na fronteira de Gibraltar, provocando engarrafamentos de várias horas. O governo da pequena península acusou Madrid de estar a retaliar depois deste ter construído um recife artificial de betão que, diz Gibraltar, tem como fim impedir as alegadas incursões de barcos de pesca espanhóis nas suas águas.

Espanha contesta a soberania do Reino Unido sobre Gibraltar, e o governo de direita de Mariano Rajoy quer reclamar junto de fóruns internacionais como as Nações Unidas (ONU) e o Tribunal Internacional de Justiça (Haia), adiantou o porta-voz do Ministério dos Negócios Estrangeiros no domingo. Madrid planeia uma frente comum com a Argentina, aproveitando o facto desta cumprir um período de dois anos como membro não-permanente no Conselho de Segurança da ONU, no sentido de contestar, em conjunto, a soberania britânica de Gibraltar e das ilhas Malvinas nos organismos internacionais. A presidente da Argentina, Cristina Fernández de Kirchner, aproveitou já esta semana uma reunião do conselho para exigir que a questão de Gibraltar seja colocada na agenda.

Questionado pelos jornalistas se o governo britânico está a considerar algum outro curso de acção adicional, o porta-voz de Cameron disse que havia outras opções na mesa, mas não quis especificar quais. Milhares de elementos da Marinha Real britânica deixaram ontem o país, destacados para o Mediterrâneo. O helicóptero de transporte HMS Ilustrious deixou a base naval de Portsmouth, em Hampshire, e irá juntar-se à frota de nove navios que partiu de Devonport há dias para participar nos exercícios militares anuais na região do Golfo Pérsico.


Uma medida adicional que Madrid está ainda a considerar é cobrar uma taxa de 50 euros a quem queira atravessar a fronteira de Gibraltar. Algo que nas actuais circunstâncias só poderia constituir uma provocação. Ora, o presidente da câmara de Londres, Boris Johnson, na sua habitual coluna semanal no "The Telegraph", começou ontem por uma exigência a Madrid: "Tirem as mãos do nosso rochedo." Para o autarca, esta não é uma disputa por questões de pesca, mas antes uma "descarada manobra de diversão" do governo de Rajoy para desviar as atenções dos seus falhanços em lidar com a crise económica que o país atravessa e das acusações de corrupção que enfrenta.

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