sábado, 24 de agosto de 2013

Lisboa assinala hoje os 25 anos do incêndio que destruiu o Chiado.

Sim, comemoram-se 25 anos, mas poderemos relembrar esta data sem reflectir sobre aquilo que está a acontecer no presente, no que respeita a destruição sistemática de todo um Património Pombalino, em nome de uma assim chamada, “Reabilitação Urbana”?
Recordando o processo de Betonização do Chiado, na (re) publicação do “post” logo imediatamente a seguir a  este …

António Sérgio Rosa de Carvalho

Lisboa assinala hoje os 25 anos do incêndio que destruiu o Chiado
Por Catarina Durão Machado in Público
Livros, exposições e um simulacro recordam uma das maiores catástrofes de que há memória na capital portuguesa. Foi há 25 anos que o Chiado ardeu e ainda não se sabe porquê

Passam hoje 25 anos desde o dia em que um incêndio de origem duvidosa deflagrou no Chiado, uma das zonas mais emblemáticas de Lisboa. O fogo, que irrompeu por volta das 5h nos Armazéns do Grandella, na Rua do Carmo, destruiu 18 edifícios e uma área equivalente a quase oito estádios de futebol.

As estruturas de madeira das paredes dos prédios pombalinos acabaram por servir de fornalha e o incêndio propagou-se depressa pelas ruas do Carmo, Nova do Almada, Garrett, Crucifixo, Ouro e Calçada do Sacramento. Os bombeiros depararam-se com várias dificuldades, entre elas o acesso dos autotanques à Rua do Carmo, onde a Câmara Municipal de Lisboa, à época liderada por Nuno Krus Abecasis, tinha colocado vários canteiros de flores de betão, com assentos para os transeuntes, ao longo da rua, já então pedonal. Várias bocas-de-incêndio não se encontravam em condições de funcionar e o próprio equipamento dos bombeiros apresentava falhas.

Bilhas de gás, computadores e aparelhos de ar condicionado foram os principais causadores das explosões que se fizeram sentir nessa madrugada e manhã de 25 de Agosto de 1988. O incêndio causou dois mortos: um bombeiro e um residente de 70 anos, encontrado entre os escombros. Mais de meia centena de pessoas ficaram feridas, a maioria bombeiros. Famílias desalojadas foram cinco, até porque a área ardida era escassamente habitada.

Em 1988, o Chiado era sobretudo uma área de comércio e escritórios, pelo que as principais consequências do incêndio, para lá da destruição dos edifícios, prendem-se com o desaparecimento de cerca de dois mil postos de trabalho e de inúmeros estabelecimentos comerciais que existiam desde os séculos XVIII e XIX e inícios do século XX.

Nunca se chegou a apurar a origem do incêndio. Em declarações à agência Lusa, na quarta-feira, a inspectora-chefe da Polícia Judiciária (PJ), Helena Gravato, afirmou: "Quando houve abertura de portas para começar o ataque, dá-se uma deflagração mais violenta que apanhou todo o edifício, de forma que as provas que existiam no sítio onde evoluiu o incêndio foram praticamente todas destruídas."

O inquérito da PJ foi arquivado em Julho de 1992, quase quatro anos depois do incêndio. Na época, falava-se da hipótese de fogo posto pelo próprio dono dos Armazéns do Grandella, Manuel Martins Dias, que nunca foi acusado. A hipótese de fogo posto foi também sustentada pelo bombeiro Alcino Marques, actualmente com a categoria de chefe principal no Regimento de Sapadores Bombeiros de Lisboa, que participou no combateu ao incêndio. "Pelos indícios que houve e pelas buscas que foram feitas tudo leva a crer que o fogo foi posto sem se identificar o autor", contou à Lusa.

Hoje, o Chiado é uma das zonas mais caras do país. Num espaço comercial, o metro quadrado chega a custar 90 euros. Desde a requalificação da maior parte dos edifícios, em 1999, com projecto do arquitecto Álvaro Siza Vieira, o Chiado viu as suas rendas aumentarem de ano para ano e acolheu as principais marcas da moda nacional e internacional.

Siza Vieira visita o Carmo

Para evocar a memória dos 25 anos do incêndio, a Câmara de Lisboa realiza esta manhã um simulacro no Chiado que envolverá mais de 310 operacionais e 20 figurantes. Por esse motivo, o trânsito vai estar condicionado entre as 8h30 e as 10h45 nessa zona. Será depois descerrada uma placa comemorativa na Rua do Carmo, seguindo-se a actuação da banda do regimento sapadores.

Pelas 16h, os fotógrafos Alfredo Cunha, Fernando Ricardo, José Carlos Pratas Henriques e Rui Ochoa lançam o livro de fotografias O Grande Incêndio do Chiado, no espaço Fnac nos Armazéns do Chiado.

Logo a seguir, pelas 17h, Siza Vieira participa numa visita à obra dos Terraços do Carmo, acompanhado pelo presidente da autarquia, António Costa. Após a visita segue-se, na Galeria Chiado, no Palácio do Loreto, a apresentação do livro Chiado em Detalhe, da autoria de Siza Vieira. Amanhã, a partir das 17h, as fotografias de O Grande Incêndio do Chiado ficarão expostas no museu do Regimento de Sapadores Bombeiros de Lisboa. Com Catarina Sampaio Rolim

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