terça-feira, 31 de julho de 2012

Uma questão de promiscuidades. A Opinião de António sérgio rosa de Carvalho. 19/07/2009 in Público.





Uma questão de promiscuidades
Por António Sérgio Rosa de Carvalho


"A cidadania não vai a votos. A cidadania exerce-se"! Num texto anterior publicado no PÚBLICO, afirmava isto, motivado pela necessidade de defender "um cordão sanitário" entre a jovem e frágil democracia participativa e a erodida e desprestigiada democracia representativa.

Algo mais, já então, me motivava. A consciência intuitiva de que Helena Roseta pertencia àquele grupo de políticos profissionais que, conscientes do cansaço, erosão e de um progressivo distanciamento dos votantes, encontrava nos "cidadãos" participativos uma fórmula "refrescante" e uma oportunidade de "reformatar" o discurso. A máscara caiu. A razão diz-nos que não é supreendente, mas o sentimento exalta uma indignação, perante um sentimento de manipulação, ou mesmo, e é preciso dizê-lo, de traição.

A enorme bofetada que Helena Roseta dá em todos aqueles que seguiram o seu discurso de independência implica também uma enorme machadada na jovem e frágil democracia participativa, e, consequentemente, directa e indirectamente, na credibilidade da já tão doente democracia representativa.

Ela, de forma brutal, projecta todos aqueles que acreditaram numa plataforma de participação transversal aos ciclos políticos, num espaço ecléctico e pluralista de manifestação de individuos-cidadãos, unidos apenas pela urgência dos temas, novamente, na polarização dos blocos políticos e dos aparelhos ideológicos.

Ela mata, assim, uma dialéctica estimulante e melhoradora da própria democracia ao, de forma facciosa e oportunista, querer monopolizar a cidadania para um campo da "esquerda", como se tal fosse possivel...

Esta atitude é comparável à afirmação de que o humanismo do séc. XXI, a consciência ambiental, a ecologia e a consciência urgente da necessidade imperativa da salvaguarda ecológica do planeta são exclusivos da "esquerda".

É por isto que eu afirmo claramente aqui que já sei em quem não vou votar... E, ao contrário do prof. Carmona,

digo-o: não vou votar no triunvirato Costa-Zé-Roseta.

Em quem vou votar, como muitos, não sei...

Portanto, apelos aos restantes para me convencerem, dizendo desde já que:

- não quero mais trapalhadas urbanísticas com histórias de permutas, trocas, baldrocas;

- não quero, pelo menos no primeiro mandato, mais obras públicas com orçamentos "em derrapagem";

- não quero mais encomendas a arquitectos do star system, a cobrarem fortunas por "maquetas" feitas de caixas de sapatos;

- não quero mais destruição do património arquitectónico, através da especulação imobiliária ou da "criatividade" corporativa dos arquitectos, não só nas avenidas românticas, mas em toda a Lisboa. Isto implica Largo do Rato, Terreiro do Paço, etc, etc.

Quero:

- reabilitação, reabilitação, reabilitação... urbana, com responsabilidade técnica e grande rigor na perspectiva da salvaguarda do património;

- a Baixa classificada como Património Mundial e a respectiva carta de valores e regras que isso implica;

- repovoamento do centro histórico;

- estratégia e planeamento na área do urbanismo comercial;

- gestão equilibrada na estratégia do trânsito e do estacionamento, incluindo uma Autoridade Metropolitana de Lisboa e um Regulamento de Cargas e Descargas;

- gestão dos espaços verdes;

- ao menos, a existência de uma política cultural e museológica para a cidade de Lisboa.

Bem, não tenho mais espaço... Acima de tudo, viva Lisboa! Lisboa merece mais.

Historiador de Arquitectura

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