terça-feira, 17 de julho de 2012

A Baixa pombalina e os ciclos políticos. A Opinião de António Sérgio Rosa de Carvalho. Domingo 8/7/2007 in Público




A Baixa pombalina e os ciclos políticos
Por António Sérgio Rosa de Carvalho


A classe política vive tempos difíceis. Descredibilizada por uma sucessão de escândalos, ela mostra-se incapaz de se renovar, e perde terreno progressivamente para uma sociedade civil, que se manifesta em crise de confiança na "blogoesfera" e através dos movimentos de "cidadania".

O ambiente vivido nas eleições da Câmara Municipal de Lisboa (CML) é ilustrativo desta crise. Um número excessivo de candidatos disputam um eleitorado extenuado e tornado indiferente e amorfo pela erosão dos acontecimentos.

A "balcanização" das forças políticas na CML e a possibilidade da sua ingovernabilidade através da dispersão de votos e consequente "pulverização" das vontades e capacidade de decisão em minorias rivais só poderiam contribuir para uma continuação do adiamento da cidade e um agravamento dos seus problemas. Além do saneamento das finanças, do restabelecimento da credibilidade através de transparência, da reforma do "polvo tentacular" das empresas municipais e rigor na utilização dos recursos humanos, ficam os desafios da qualidade de vida no quotidiano.

E aqui falamos fundamentalmente do trânsito, estacionamento, qualidade de vida ambiental, vivência humana, dinâmica comercial, reabilitação urbana e consolidação da imagem histórica. Todos estes temas encontram-se reunidos num só desafio fundamental, que constitui o centro de gravidade de toda a Lisboa histórica: A Baixa pombalina.

Acima de tudo, é preciso terminar com o ciclo doentio e erosivo, devorador dos recursos e destruidor das vontades, que tem caracterizado os ciclos políticos... onde cada ciclo procura "reinventar a pólvora" sem conseguir estabelecer uma continuidade que transcenda a "própria política", sem conseguir estar verdadeiramente ao serviço dos temas prioritários da cidade.

É por isso que é absolutamente necessário que destas eleições saia um estatuto para a revitalização, reabilitação patrimonial e repovoamento da Baixa que seja autónomo e transversal aos ciclos políticos e que, nesse sentido, seja renovador da própria forma de estar na política.

Poderão existir algumas questões ainda a discutir na realização do plano, mas o princípio e a constituição da respectiva organização capaz de conseguir concretizá-lo são um imperativo indiscutível.
Historiador de arquitectura

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