Guterres afirma
que existe um conflito sério entre pessoas e natureza
Há uma grande
diferença no diálogo sobre alterações climáticas graças ao impulso dos jovens,
considera o secretário-geral das Nações Unidas.
Lusa 21 de
Setembro de 2019, 17:17
Guterres e Greta
Thunberg na Cimeira da Acção Climática para a Juventude, em Nova Iorque
REUTERS/CARLO ALLEGRI
O
secretário-geral da Organização das Nações Unidas (ONU), António Guterres,
disse hoje, na abertura da Cimeira da Acção Climática para a Juventude que,
pela primeira vez na história, existe um “conflito sério entre pessoas e
natureza”.
António Guterres
afirmou também que o mundo precisa de um novo modelo de desenvolvimento, ligado
às alterações climáticas, que garanta justiça e igualdade entre as pessoas, mas
também uma relação boa entre a população e o planeta. O secretário-geral
declarou-se e foi apresentado como “ouvinte principal” em vez de orador na
abertura da cimeira, que se iniciou hoje na sede das Nações Unidas em Nova
Iorque, e fez estas observações depois de quatro jovens activistas, entre os
quais Greta Thunberg, terem falado.
António Guterres
mencionou que os conflitos políticos e geográficos acontecem há milhares de
anos, mas a novidade é que as populações estão em conflito com o planeta e as
consequências estão a atingir os mais vulneráveis. Este conflito “pode ser
absolutamente destrutivo para o futuro das nossas comunidades e das nossas
sociedades”, alertou. Para António Guterres, não faz sentido que existam, em
várias partes do mundo, subsídios para a utilização de combustíveis fósseis,
financiados com o dinheiro dos contribuintes.
“Não faz sentido
que o nosso dinheiro seja usado para provocar furacões ou para branquear os
corais ou para destruir comunidades”, observou o político português. O fim dos
subsídios pode significar um alívio nas contas dos contribuintes, permitindo um
maior movimento na economia verde e a criação de empregos decentes.
António Guterres
afirmou que é possível criar uma estratégia de duplo ganho
("win-win") ao combinar acção climática com uma globalização justa,
com a Agenda 2030 e os objectivos de desenvolvimento sustentável. Por outro
lado, lembrou que há uma grande diferença no diálogo sobre alterações
climáticas há dois anos a esta parte e que a principal fonte de uma mudança no
impulso foi a juventude.
“Esta alteração
no impulso foi em grande parte devido à vossa iniciativa e à coragem com que
começaram o movimento e transformaram, de um pequeno movimento em frente a um
parlamento [...] em milhões de todo o mundo a dizerem claramente que não querem
só que os políticos mudem de comportamento, mas que também sejam
responsabilizados”, disse António Guterres a todos os jovens.
O
secretário-geral da ONU relembrou que há dois anos, quando começou os trabalhos
para a Cimeira da Acção Climática, se sentia muito negativo e pessimista sobre
o estado do ambiente e o combate às alterações climáticas, porque “havia uma
sensação de apatia e era muito difícil pôr todos a dialogar” a nível político.
A impressão negativa mudou “de repente” com o impulso dos movimentos de jovens.
Apesar de o mundo estar em situação “dramática” e crítica em termo de ambiente,
natureza e recursos naturais, o secretário-geral destaca o entusiasmo vindo
desta faixa etária, incentivando os jovens a prosseguirem o combate às
alterações climáticas.
“Cada vez mais,
responsabilizem mais a minha geração. A minha geração tem fracassado até agora
em preservar a justiça no mundo e em preservar o planeta”, declarou o português
de 70 anos. O problema dos líderes políticos é falarem demasiado mas ouvirem
muito pouco, concluiu.
Depois do
encontro dos jovens, é a vez de, na próxima segunda-feira, os líderes mundiais
também se reunirem em Nova Iorque, numa cimeira convocada pelo secretário-geral
da ONU destinada à fixação de objectivos mais ambiciosos na contenção do
aquecimento global.
Sem comentários:
Enviar um comentário