Relatório do IPCC
é divulgado quarta-feira e alerta para futuro negro dos oceanos
A “saúde” dos
oceanos está em risco e os dedos estão todos apontados a um claro culpado: as
alterações climáticas. Um relatório especial feito pelo IPCC ao longo de dois
anos é apresentado esta quarta-feira no Mónaco e faz um diagnóstico dos oceanos
e dos glaciares, apontando melhorias e alertando para as consequências futuras.
Claudia Carvalho
Silva
Claudia Carvalho
Silva 24 de Setembro de 2019, 15:50
É sabido que as
alterações climáticas podem afectar quase todos os aspectos do nosso quotidiano:
da alimentação à escassez de água, dos fenómenos meteorológicos extremos aos
riscos para a saúde humana. Os oceanos e glaciares sofrerão também
consequências dramáticas, segundo apurou o Painel Intergovernamental para as
Alterações Climáticas (IPCC) num relatório especial sobre o impacto das
mudanças climáticas nos oceanos e na criosfera (as partes geladas do planeta).
Será apresentado esta quarta-feira, no Mónaco – o PÚBLICO estará presente na
conferência.
Foi em Junho de
2017 que o relatório começou a ser alinhavado, com a selecção dos autores que
fariam parte deste relatório que é agora apresentado, mais de dois anos depois.
O foco está apontado ao impacto das alterações climáticas nos oceanos, mas
também nas zonas costeiras e regiões polares. Juntamente com o relatório
divulgado o ano passado sobre como era ainda possível limitar o aumento da
temperatura global a 1,5ºC em relação aos níveis pré-industriais, estes dois
documentos “são os mais actualizados” no que toca a alterações climáticas, considerou
o presidente do IPCC, Hoesung Lee.
Como os oceanos
estão há duas décadas a absorver parte das emissões dos gases com efeito de
estufa, ficam mais quentes, mais ácidos e menos salgados – a sua concentração
de oxigénio também tem baixado, afectando os ecossistemas marinhos. Os corais
vão-se perdendo, o nível médio dos oceanos vai subindo, os acontecimentos
climáticos extremos derivados do El Niño tornar-se-ão mais frequentes.
Se as reduções de
dióxido de carbono não forem reduzidas, também a criosfera vai desaparecendo.
Este termo refere-se a todos os componentes gelados da Terra: seja neve, glaciares,
plataformas de gelo, icebergues, gelo dos mares, lagos e rios – ou qualquer
outra superfície gelada, mesmo que sazonalmente. O relatório aborda também os
futuros cenários nas regiões montanhosas em altitude, a destruição de habitats,
os efeitos na biodiversidade polar e marinha e a forma como a pesca será
afectada. Terá ainda projecções quanto à subida das águas do mar: quais as
regiões mais afectadas, quais as implicações para as infra-estruturas de
cidades costeiras mais vulneráveis e para os milhões de pessoas que se tornarão
refugiados climáticas.
O relatório do
IPCC surge do esforço de 104 autores – 31 mulheres e 73 homens –, oriundos de
36 países. Mesmo não havendo nenhum investigador português envolvido neste
relatório sobre os oceanos, o tema está na ordem do dia e Portugal acolherá em
Junho de 2020 a Conferência dos Oceanos das Nações Unidas, co-organizada com o
governo do Quénia. A última conferência dos Oceanos foi há dois anos, em Nova
Iorque, e esta próxima está agendada para 2 a 6 de Junho, em Lisboa.
É o terceiro
relatório do IPCC este ano. Já em Maio foi apresentado um relatório com as
directrizes nacionais a seguir no que diz respeito aos gases com efeito de
estufa e, em Agosto, o IPCC divulgou um relatório especial em que dava conta de
que a Terra não aguenta mais o uso e abuso dos solos – que sofrem de uma dupla
pressão por parte do homem e das alterações climáticas. Estima-se que entre um
quarto e um terço de todas as emissões de gases com efeito de estufa provenham
do uso do solo. A agricultura, florestação e outros usos da terra são
responsáveis por 23% de todas as emissões de gases com efeito de estufa (CO2,
metano, óxido nitroso). A produção alimentar é também uma das questões em
debate nesta quarta-feira.
A apresentação
deste relatório quase coincide com a Cimeira da Acção Climática da ONU,
realizada em Nova Iorque na segunda-feira, e antecede a Conferência das Nações
Unidas sobre as Alterações Climáticas (COP25), a acontecer em Dezembro, no
Chile.
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