EUA entram na
corrida ao Porto de Sines contra a China
Concurso para a
concessão do novo terminal de contentores em Sines vai ser lançado ainda este
mês. Investimento previsto atinge os 642 milhões de euros e ministra diz que
ganhará quem melhor servir os interesses de Portugal.
Luísa Pinto 21 de
Setembro de 2019, 6:38
Há novos
operadores e geografias a manifestar interesse em ficar com a futura concessão
do terminal de contentores que vai surgir em Sines, o terminal Vasco da Gama,
cujo concurso público internacional vai ser lançado ainda este mês, confirmou
ao PÚBLICO o Ministério do Mar. Para além de vários operadores chineses já
terem demonstrado esse interesse, também os Estados Unidos da América (EUA)
entraram oficialmente na corrida, ao assumirem a natureza estratégica do Porto
de Sines “como destinatário de gás natural liquefeito dos EUA (GNL)”,
inscrevendo mesmo na acta da ultima reunião da Comissão Bilateral Permanente
Estados Unidos - Portugal, que se realizou em Washington a 11 de Setembro, “que
há interesse dos EUA em ver o investimento norte-americano no planeado terminal
de contentores Vasco da Gama”.
Ao PÚBLICO, a
ministra do Mar, Ana Paula Vitorino, confirma tanto o interesse dos chineses
como dos americanos e garante que “a proposta vencedora será aquela que
melhores benefícios ofereça a Portugal, independentemente da origem do operador”.
Desde que foi
anunciado aquando da apresentação “Estratégia para o Aumento da Competitividade
da Rede de Portos Comerciais do Continente - Horizonte 2026”, no início de
2017, têm surgido manifestações de interesse em Sines oriundas de várias
geografias para o novo terminal. O interesse chinês no projecto tem sido,
porém, o mais insistente e documentado.
Entre os
operadores chineses interessados está o maior operador de terminais de
contentores e um dos operadores globais com mais terminais e maior volume à
escala global (e que maior crescimento tem registado nos últimos anos): a COSCO
Shipping Ports. De acordo com o Ministério do Mar, o interesse deste operador
“ficou ainda mais evidente numa recente visita da ministra do Mar a Xangai,
quando se reuniu com a direcção da COSCO na própria sede da empresa chinesa”.
Nessa mesma deslocação a Xangai, um outro operador chinês – o SIPG (Shanghai
International Port Group) – fez questão de reunir com a ministra e de conhecer
ao detalhe o projecto para o novo Terminal Vasco da Gama.
O interesse
chinês no Terminal Vasco da Gama foi mais recentemente acentuado com uma visita
do ministro dos Recursos Naturais da China, Lu Hao, ao Porto de Sines,
acompanhado pela ministra do Mar, onde conheceu no terreno o projecto e a
futura localização do Vasco da Gama.
Já relativamente
ao interesse dos Estados Unidos neste projecto, ele tem sido a “razão pela qual
tem existido uma constante interacção entre o Ministério do Mar e o embaixador
dos Estados Unidos em Lisboa”, confirma fonte do gabinete da ministra,
informando que o embaixador norte-americano “já visitou por várias vezes o
Porto de Sines acompanhado por empresários e entidades norte-americanas”.
O Porto de Sines
tem um peso de 1,5% na economia portuguesa, 2% no emprego e representa mais de
56% da carga contentorizada movimentada nos portos comerciais do continente.
Sines tem vindo a registar importantes índices de crescimento neste tipo de
carga, tendo nos últimos 15 anos crescido desde os 20 mil TEU (unidade de medida
da carga contentorizada) que registava em 2004 para mais de 1750 milhões de TEU
que registou em 2018, o que representa uma taxa média anual de crescimento de
mais de 37,6%. O principal responsável por estas taxas de crescimento é o
Terminal XXI, infra-estrutura que já está concessionada à PSA- Port of
Singapore Authority e cuja ampliação da concessão também já foi aprovada.
O novo terminal
de contentores será construído e financiado exclusivamente por fundos privados
através da concessionária que vier a ser seleccionada no concurso público
internacional. De acordo com o estabelecido nas bases de concessão aprovadas, o
terminal Vasco da Gama terá uma capacidade de movimentação anual de três
milhões de TEU e um cais com um comprimento de 1375 metros, com três posições
de acostagem simultânea dos maiores navios do mundo (400 metros de comprimento,
60 metros de boca e capacidade de 24.000 TEU), uma área de terrapleno de 46
hectares, 15 pórticos de cais e fundos de -17,5 metros.
De acordo com os
dados apresentados pelo Governo, o vencedor do concurso deverá investir 642
milhões de euros, podendo fazê-lo de forma faseada e ficar com a concessão
durante 50 anos. O decreto de lei que definiu as bases de concessão estabelece,
no entanto, que no final dos primeiros quatro anos de concessão terão de estar
disponíveis 940 metros de cais (já com os dez pórticos) e 25 hectares de
terraplenos. O resto do cais e do terrapleno terá de estar operacional no final
do 14.º ano, sendo que não estão fixados prazos para a construção da plataforma
ferroviária que também está prevista.
Estima-se que a
construção do Terminal Vasco da Gama gere um impacto económico total de 524
milhões de euros e que crie 1350 postos de trabalho directos na fase de exploração.
tp.ocilbup@otnip.asiul
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