domingo, 22 de setembro de 2019

EUA entram na corrida ao Porto de Sines contra a China



EUA entram na corrida ao Porto de Sines contra a China
Concurso para a concessão do novo terminal de contentores em Sines vai ser lançado ainda este mês. Investimento previsto atinge os 642 milhões de euros e ministra diz que ganhará quem melhor servir os interesses de Portugal.

Luísa Pinto 21 de Setembro de 2019, 6:38

Há novos operadores e geografias a manifestar interesse em ficar com a futura concessão do terminal de contentores que vai surgir em Sines, o terminal Vasco da Gama, cujo concurso público internacional vai ser lançado ainda este mês, confirmou ao PÚBLICO o Ministério do Mar. Para além de vários operadores chineses já terem demonstrado esse interesse, também os Estados Unidos da América (EUA) entraram oficialmente na corrida, ao assumirem a natureza estratégica do Porto de Sines “como destinatário de gás natural liquefeito dos EUA (GNL)”, inscrevendo mesmo na acta da ultima reunião da Comissão Bilateral Permanente Estados Unidos - Portugal, que se realizou em Washington a 11 de Setembro, “que há interesse dos EUA em ver o investimento norte-americano no planeado terminal de contentores Vasco da Gama”.

Ao PÚBLICO, a ministra do Mar, Ana Paula Vitorino, confirma tanto o interesse dos chineses como dos americanos e garante que “a proposta vencedora será aquela que melhores benefícios ofereça a Portugal, independentemente da origem do operador”.

Desde que foi anunciado aquando da apresentação “Estratégia para o Aumento da Competitividade da Rede de Portos Comerciais do Continente - Horizonte 2026”, no início de 2017, têm surgido manifestações de interesse em Sines oriundas de várias geografias para o novo terminal. O interesse chinês no projecto tem sido, porém, o mais insistente e documentado.

Entre os operadores chineses interessados está o maior operador de terminais de contentores e um dos operadores globais com mais terminais e maior volume à escala global (e que maior crescimento tem registado nos últimos anos): a COSCO Shipping Ports. De acordo com o Ministério do Mar, o interesse deste operador “ficou ainda mais evidente numa recente visita da ministra do Mar a Xangai, quando se reuniu com a direcção da COSCO na própria sede da empresa chinesa”. Nessa mesma deslocação a Xangai, um outro operador chinês – o SIPG (Shanghai International Port Group) – fez questão de reunir com a ministra e de conhecer ao detalhe o projecto para o novo Terminal Vasco da Gama.

O interesse chinês no Terminal Vasco da Gama foi mais recentemente acentuado com uma visita do ministro dos Recursos Naturais da China, Lu Hao, ao Porto de Sines, acompanhado pela ministra do Mar, onde conheceu no terreno o projecto e a futura localização do Vasco da Gama.

Já relativamente ao interesse dos Estados Unidos neste projecto, ele tem sido a “razão pela qual tem existido uma constante interacção entre o Ministério do Mar e o embaixador dos Estados Unidos em Lisboa”, confirma fonte do gabinete da ministra, informando que o embaixador norte-americano “já visitou por várias vezes o Porto de Sines acompanhado por empresários e entidades norte-americanas”.

O Porto de Sines tem um peso de 1,5% na economia portuguesa, 2% no emprego e representa mais de 56% da carga contentorizada movimentada nos portos comerciais do continente. Sines tem vindo a registar importantes índices de crescimento neste tipo de carga, tendo nos últimos 15 anos crescido desde os 20 mil TEU (unidade de medida da carga contentorizada) que registava em 2004 para mais de 1750 milhões de TEU que registou em 2018, o que representa uma taxa média anual de crescimento de mais de 37,6%. O principal responsável por estas taxas de crescimento é o Terminal XXI, infra-estrutura que já está concessionada à PSA- Port of Singapore Authority e cuja ampliação da concessão também já foi aprovada.

O novo terminal de contentores será construído e financiado exclusivamente por fundos privados através da concessionária que vier a ser seleccionada no concurso público internacional. De acordo com o estabelecido nas bases de concessão aprovadas, o terminal Vasco da Gama terá uma capacidade de movimentação anual de três milhões de TEU e um cais com um comprimento de 1375 metros, com três posições de acostagem simultânea dos maiores navios do mundo (400 metros de comprimento, 60 metros de boca e capacidade de 24.000 TEU), uma área de terrapleno de 46 hectares, 15 pórticos de cais e fundos de -17,5 metros.

De acordo com os dados apresentados pelo Governo, o vencedor do concurso deverá investir 642 milhões de euros, podendo fazê-lo de forma faseada e ficar com a concessão durante 50 anos. O decreto de lei que definiu as bases de concessão estabelece, no entanto, que no final dos primeiros quatro anos de concessão terão de estar disponíveis 940 metros de cais (já com os dez pórticos) e 25 hectares de terraplenos. O resto do cais e do terrapleno terá de estar operacional no final do 14.º ano, sendo que não estão fixados prazos para a construção da plataforma ferroviária que também está prevista.

Estima-se que a construção do Terminal Vasco da Gama gere um impacto económico total de 524 milhões de euros e que crie 1350 postos de trabalho directos na fase de exploração.

tp.ocilbup@otnip.asiul

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