quarta-feira, 6 de maio de 2015

Grécia com a economia em quebra e um acordo outra vez adiado


Grécia com a economia em quebra e um acordo outra vez adiado

SÉRGIO ANÍBAL e MARIA JOÃO GUIMARÃES 05/05/2015 – PÚBLICO

Pouca esperança para um acordo no Eurogrupo de segunda-feira, quando a Grécia diz que a liquidez é uma questão premente.

Após uns dias de moderado optimismo, há mais um prazo adiado nas negociações entre a Grécia e os seus parceiros europeus – a reunião do Eurogrupo da próxima segunda-feira já não parece ser vista como aquela em que os membros da zona euro anunciam finalmente um acordo para o pagamento da última tranche do empréstimo à Grécia. De Bruxelas vem o aviso: a economia grega está em queda.

Mesmo partindo do princípio de que vai haver acordo antes de a Grécia entrar em incumprimento do pagamento de alguma das prestações que deve, Bruxelas reviu em baixa a sua projecção de crescimento para o país, para apenas 0,5%, um valor que não só será inferior aos 0,8% registados em 2014, como fica muito abaixo dos 2,5% que eram previstos pela Comissão Europeia há apenas três meses.

O executivo liderado por Jean-Claude Juncker justifica este corte radical nas previsões de crescimento com “a incerteza que se verifica desde o anúncio de eleições antecipadas em Dezembro”. Bruxelas diz que “a falta de clareza nas políticas do Governo, em comparação com os compromissos assumidos pelo país nos acordos com a UE e o FMI, aumenta ainda mais a incerteza”, deteriorando os níveis de confiança dos consumidores e das empresas.

Outro factor importante é o aumento das taxas de juro exigidas ao Estado grego pela sua dívida, o que significa que as condições de financiamento da economia se tornaram agora muito mais difíceis.

O crescimento muito mais lento previsto pela Comissão tem também reflexos nas projecções para o desemprego. Em vez de cair para 22% até ao final de 2016, como era previsto em Fevereiro, ficará agora em 23,2%, continuando acima dos 25% este ano.

Nas contas públicas, as previsões tornaram-se também muito mais pessimistas. Em Fevereiro, Juncker e os seus pares acreditavam que a Grécia ia registar um excedente orçamental de 1,1% em 2015, o que lhe permitiria baixar a dívida pública de 176,3% do PIB em 2014 para 170,2% este ano. Agora, já aponta para um novo défice de 2,1% e para uma dívida pública que ultrapassa pela primeira vez a barreira dos 180% do PIB no final deste ano.

A Comissão Europeia faz questão de salientar que as previsões agora apresentadas – e que apontam para um crescimento de 2,9% em 2016 – são feitas confiando num cenário em que o Governo grego chega a acordo com os seus parceiros da zona euro e com o FMI para a libertação das últimas tranches do empréstimo da troika, o que permitiria ao país evitar uma ruptura na sua capacidade para se financiar.

Pagamentos ao FMI
A Grécia tem de pagar ao FMI 200 milhões de euros esta quarta-feira (dia 6 de Maio) e 750 milhões de euros na próxima terça-feira (dia 12). O Eurogrupo reúne-se na segunda-feira, 11, e esta era a data apontada para um possível acordo. Especialmente depois de um porta-voz do Governo de Alexis Tsipras, Gabriel Sakellaridis, ter dito que o executivo planeava pagar todas as suas dívidas, mas que “a liquidez é uma questão premente” e que Atenas “não vai ficar à espera até ao final de Maio para uma injecção de liquidez”.

O ministro alemão das Finanças, Wolfgang Schäuble, elogiou esta terça-feira o que classificou como a nova postura “construtiva” de Atenas, mas disse estar “céptico” de que os avanços pudessem ser tão rápidos que viessem a tempo de um acordo na segunda-feira.

Céptico estará também o ministro das Finanças da Grécia, Yanis Varoufakis, que fez descer a importância do encontro. “Vamos certamente ter uma discussão frutuosa, que irá confirmar o grande progresso conseguido e será mais um passo na direcção de um acordo final”, declarou, após uma reunião com o comissário da Economia, Pierre Moscovici, em Bruxelas. Moscovici usou a palavra “útil” para descrever a reunião de segunda-feira.

Nos últimos dias, as conversações continuaram no chamado grupo de Bruxelas (ex-troika), e responsáveis gregos multiplicam-se em visitas: Varoufakis em Bruxelas, para uma reunião com Moscovici, e em Paris, para se encontrar com o seu homólogo francês, Michel Sapin (Varoufakis estará hoje em Roma e na sexta-feira em Espanha), e o número dois de Tsipras, Yannis Dragasakis, acompanhado do responsável pelas negociações Euclid Tsakalotos, foi a Frankfurt reunir-se com o presidente do BCE, Mario Draghi, um dia antes de este fazer a sua revisão do financiamento de emergência aos bancos (do qual não eram antecipadas alterações).

Fontes dizem que o Governo de Tsipras cedeu nas privatizações e se prepara para ceder a exploração de aeroportos regionais e partes do porto do Pireu. Segundo o diário grego Kathimerini, Atenas está pronta para finalizar um acordo de 1,2 mil milhões de euros com a operadora alemã Fraport para os aeroportos regionais e reabrir o concurso de parte do porto do Pireu.

Mas isso não parece ser suficiente para os outros países da zona euro, nem para o FMI. Para além da dificuldade em se chegar a um acordo entre Atenas e os outros governos da zona euro, as negociações estão a enfrentar outro tipo de complicações. De acordo com notícias publicadas pelo diário britânico Financial Times e pelo diário alemão Die Welt, existem também divergências entre o FMI e as autoridades europeias sobre aquilo que é preciso para que o desembolso das últimas tranches do empréstimo à Grécia seja feito.

O Fundo tem regras internas que o proíbem explicitamente de emprestar dinheiro a um país cuja dívida pública não seja considerada como sustentável. De acordo com o Financial Times, Poul Thomsen, o chefe da missão do FMI na Grécia, terá transmitido aos seus colegas da UE que os últimos desenvolvimentos económicos e orçamentais apontam para que a dívida grega esteja a seguir um rumo insustentável.

Por isso, para que possa libertar as últimas tranches do seu empréstimo (que representam cerca de metade dos 7200 milhões de euros que a Grécia espera receber da troika), exige que das duas uma: ou a Grécia adopta medidas de austeridade e reformas estruturais ainda mais drásticas para registar rapidamente excedentes orçamentais ou terá de ser concedido um perdão de dívida à Grécia por parte dos seus credores.

Como a dívida grega está agora, na sua quase totalidade, nas mãos dos países da zona euro, do FMI e do BCE, e os dois últimos recusam-se a aceitar um perdão, uma reestruturação teria de passar necessariamente pelos parceiros europeus da Grécia. Contudo, este cenário é visto como muito difícil de se concretizar nas actuais circunstâncias, já que os Governos dos diversos países teriam muita dificuldade em “vender” às suas populações a necessidade de perdoar dívida à Grécia.

Numa altura em que a Grécia tenta convencer os outros países do euro a suavizar as metas orçamentais e as reformas estruturais exigidas, o facto de o FMI estar agora a exercer mais pressão pelo outro lado pode tornar ainda mais complexa a obtenção de um acordo.

Apesar deste impasse (que já tem uma palavra para o definir, Grimbo, ou o limbo grego), o principal partido do Governo tem uma popularidade acima da oposição – 15 pontos percentuais de diferença para a Nova Democracia, segundo as últimas sondagens (36,9% contra 21,7%).


Se a permanência da Grécia no euro fosse a referendo – uma hipótese já mencionada por Tsipras –, 66,5% dos gregos preferem manter-se na moeda única e 55% mantêm esta opção mesmo que tenha de haver um novo memorando para um empréstimo.

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