sábado, 9 de maio de 2015

A Política SMS : O poder é LOL (Louco Ou Lerdo) / RUI CARDOSO MARTINS


A Política SMS
: O poder é LOL (Louco Ou Lerdo)
RUI CARDOSO MARTINS / 10 / 5/2015 / PÚBLICO

Um “não assunto” tem a característica esquizofrénica de ser um bom assunto. Basta um político ser obrigado a dizer publicamente que o é. Aliás, que o não é. António Costa diz que não é assunto, ou melhor, que é “um não assunto” o facto ter enviado a um director adjunto do jornal Expresso, por mensagem privada de telemóvel, o seguinte assunto, ai, o não assunto (decidam-se, raios):

“Senhor João Vieira Pereira. Saberá que, em tempos, o jornalismo foi uma profissão de gente séria, informada, que informava, culta, que comentava. Hoje, a coberto da confusão entre liberdade de opinar e a imunidade de insultar, essa profissão respeitável é degradada por desqualificados, incapazes de terem uma opinião e discutirem as dos outros, que têm de recorrer ao insulto reles e cobarde para preencher as colunas que lhes estão reservadas. Quem se julga para se arrogar a legitimidade de julgar o carácter de quem nem conhece? Como não vale a pena processá-lo, envio-lhe este sms para que não tenha a ilusão que lhe admito julgamentos de carácter, nem tenha dúvidas sobre o que penso a seu respeito. António Costa.”

É este o longo assunto do não assunto do adjunto directivo.

No entanto, até um bêbedo a dormir percebe que Costa ficou fulo com o jornalista e que lhe passou uma coisinha má pelo carácter dos olhos.

Tudo motivado por um texto no Expresso de João Vieira Pereira, datado do 25 de Abril (data que ainda vai mantendo o seu assunto). Nele, acusava o PS de “falta de coragem” e de “ausência de pensamento político consistente”, por causa das propostas do grupo de economistas independentes. Uma semana depois, o sms (short message service), a mensagem curta de telemóvel, apareceu impressa no jornal do dia 1 de Maio (que é ainda, já agora, assunto vasto).

E depois disso tem-se passado esta coisa de — pouco a pouco — toda a gente falar do assunto, uns porque estão indignados por ser assunto, outros por ter sido não assunto no princípio, e outros porque…

… Atenção leitores, não fujam já desta seca que o assunto vai mudar! Para ir direito ao não assunto, a mensagem sms é a nova rainha da política portuguesa. Os longos meses antes das eleições vão decidir-se em mensagens curtas. E já apanhámos alguns exemplos, sms apanhados com as antenas especiais da imaginação.

Sms de preso 44 para secretário-geral:

“To Costa dsclp tar a escrever num tlm velho s touch s acentos mas aqui em evora  tive de comprar um na candonga veio nas botas gostei tua sova jornalista de m… armado mete nojo devias ter partido os cornos ao gajo eu tb me passava c as mentiras do freepor e da univ independente se queres fala com o zeinal bava da pt q ele faz contrato para partir um tlm por semana contra parede qd um gajo se passa c esses reles cobardes q mentem e nos fazem perseguicoes bom tou vigiado vem um guarda boa sorte tchau do teu ze que foi teu 1 ministro  hoje preso politico do regime.”

Sms do secretário-geral para preso 44:

“Caro amigo Zé (sem qualquer outra conotação que não essa, a da simples amizade). Agradeço a atenção ao não assunto. Ser candidato a primeiro-ministro é uma profissão respeitável, só às vezes degradada por desqualificados, incapazes de ter uma opinião e discutir as dos outros, que têm de recorrer ao insulto reles e cobarde para preencher as eleições que lhes estão reservadas. Dito isto, sem pôr em causa o teu carácter, peço-te que tenhas em conta que comparações dessas não são agora bem-vindas (isso é o que o PSD e CDS estão a fazer comigo e certa pessoa). Na verdade, eu é que me sinto uma espécie de ‘preso político’, aprisionado no silêncio, sempre que sai na imprensa uma carta tua com mais explicações tão plausíveis sobre amizades e dinheiro.”

Sms de spin doctor do PS para secretário-geral:


“Assunto do não assunto. Caro dr. António: não leve a mal, não me chame desqualificado, não me processe, ouça apenas o que lhe peço: stop aos sms! Devem ser usados só em demissões irrevogáveis do Paulo Portas, bufadas por Passos Coelho. Este começou a construir a imagem de jovem paizinho da pátria, e o líder do PS faz papel de filho adolescente que corta relações com a namorada por sms. Sugiro derradeira sms ao Expresso: ‘Senhor João Vieira Pereira. Saberá que, em tempos, o jornalismo foi uma profissão de gente séria, informada, que informava, culta, que comentava. E olhe, ainda bem que assim continua.’ Sei que lhe isto lhe custa, mas pode ser?”

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