quarta-feira, 24 de janeiro de 2024

Crescimento das forças populistas e eurocépticas põe fim à “grande coligação” que domina o Parlamento Europeu / Rise of populist and eurosceptic forces puts an end to the "grand coalition" dominating the European Parliament

 


EXCLUSIVO

UNIÃO EUROPEIA

Crescimento das forças populistas e eurocépticas põe fim à “grande coligação” que domina o Parlamento Europeu

Partidos de direita radical e extrema-direita lideram as sondagens na Áustria, França e Polónia e têm forte desempenho na Alemanha, Espanha, Portugal e Suécia.

 

Rita Siza , Bruxelas

24 de Janeiro de 2024, 0:01

https://www.publico.pt/2024/01/24/mundo/noticia/crescimento-forcas-populistas-eurocepticas-poe-fim-coligacao-domina-parlamento-europeu-2077852

 

As forças de direita radical e extrema-direita deverão conquistar entre 183 e 197 dos 720 lugares de eurodeputado na próxima legislatura, um resultado histórico e que lhes assegura uma representação de 25%, suficiente para romper os consensos necessários para a distribuição dos cargos de topo das instituições comunitárias e a aprovação de legislação, projecta o European Council on Foreign Relations, num estudo em que estima qual a composição do Parlamento Europeu após as eleições de Junho, divulgado esta quarta-feira.

 

“A composição do Parlamento Europeu vai deslocar-se acentuadamente para a direita nas eleições de Junho deste ano, o que poderá ter implicações significativas para a capacidade da Comissão Europeia e do Conselho da União Europeia de levar por diante os seus compromissos em matéria de política externa e ambiental, incluindo a próxima fase do Pacto Ecológico Europeu”, prevê Kevin Cunningham especialista em sondagens e co-autor do estudo, intitulado “Forte guinada à direita: previsão das eleições para o Parlamento Europeu de 2024”.

 

O crescimento das forças populistas e eurocépticas, que deverão “emergir como os principais vencedores das próximas eleições europeias”, inviabiliza uma repetição da maioria do centro-direita, centro-esquerda e partidos liberais que actualmente domina o Parlamento Europeu. Para Simon Hix, professor do Instituto Universitário Europeu de Florença, e co-autor do estudo, os partidos do chamado “mainstream” devem olhar para estes dados e ajustar as suas estratégias de campanha, se quiserem “salvaguardar e reforçar a posição da UE” nas eleições de Junho.

 

“Os partidos das correntes políticas dominantes têm de acordar e fazer um balanço claro das exigências dos eleitores, reconhecendo simultaneamente a necessidade de uma Europa mais interventiva e poderosa na cena mundial. As suas campanhas devem falar dos benefícios do multilateralismo e dar aos cidadãos razões para optimismo. E devem deixar claro que em matérias fundamentais como a democracia e o Estado de direito, são eles que estão em posição de proteger os direitos fundamentais europeus”, considera.

 

Por enquanto, os números mostram que essa mensagem não está a passar. Segundo a projecção do ECFR, um think tank europeu, a grande coligação “europeísta” que sustenta politicamente o executivo comunitário e garante os votos para aprovar os dossiers prioritários da agenda de Bruxelas — entre os quais o apoio à Ucrânia, o alargamento da União Europeia, o combate às alterações climáticas, e a dupla transição verde e digital — vai reduzir-se dos actuais 60% para pouco mais de metade dos lugares no PE.

 

A previsão é que as bancadas do Partido Popular Europeu, Socialistas & Democratas e Renovar a Europa representem 54% do futuro Parlamento Europeu, com a transferência de votos para as forças de direita radical e extrema-direita a penalizar principalmente o grupo dos liberais, onde têm assento os eurodeputados franceses do movimento lançado por Emmanuel Macron, e os holandeses do VVD, que está em negociações com o Partido da Liberdade (PVV) para viabilizar uma coligação de governo liderada por Geert Wilders.

 

Segundo o modelo estatístico usado pelo ECFR, os democratas-cristãos do PPE e os sociais-democratas do S&D vão ter menos cinco e dez eleitos, respectivamente, mas, apesar da quebra, continuarão a ser as duas maiores bancadas do PE. Já o grupo dos liberais vai perder 15 eurodeputados e deixar de ser a terceira maior bancada política no hemiciclo, que na próxima legislatura passará de 705 para 720 lugares.

 

Essa posição deverá ser ocupada pelo grupo de extrema-direita Identidade e Democracia (ID), que reúne partidos como a União Nacional de Marine Le Pen, a Liga de Matteo Salvini ou a Alternativa para a Alemanha. É a esta família política que pertence o Chega, que deverá contribuir com quatro eleitos para o fortalecimento do grupo dos actuais 58 para 98 eurodeputados.

 

Isto, se os eurodeputados do Fidesz da Hungria não se juntarem ao grupo eurocéptico dos Conservadores e Reformistas Europeus (ECR), que, segundo a projecção, cresce dos actuais 67 para os 85 lugares — ultrapassando o ID, com um total de 98 membros, se vier a acolher os 14 eleitos do partido de Viktor Orbán.

 

Independentemente de quem fique à frente, ID ou ECR, a representatividade da direita radical e extrema-direita ascenderá aos 25% dos eleitos para o Parlamento Europeu que poderão formar uma nova coligação “antiacção climática” e bloquear as iniciativas de apoio à Ucrânia, uma vez que vários destes partidos são pró-Rússia. No extremo oposto, prevê-se que o grupo d’A Esquerda também cresça, de 38 para 44 eurodeputados, mas continuará a ser a bancada com menos influência política do hemiciclo.

 

Hix e Cunningham não têm dúvidas de que esta alteração drástica no equilíbrio de forças no Parlamento Europeu vai ter um impacto imediato e directo no processo de tomada de decisões e produção de legislação em Bruxelas, com consequências significativas nas medidas do bloco para atingir a neutralidade climática ou nos esforços da UE para fazer cumprir o Estado de direito. Como se lê no estudo, esta mudança não só “traz ameaças significativas a pilares cruciais da agenda europeia”, como é “susceptível de influenciar e, potencialmente, servir de precursora de eleições nacionais em países como a Áustria, a Alemanha e a França, nos próximos tempos”.

 

As contas do ECFR assentam num modelo estatístico que pondera as indicações das sondagens sobre as intenções de voto nas eleições europeias nos 27 Estados-membros da UE e o desempenho dos partidos nacionais nas votações anteriores de 2009, 2014 e 2019 para o Parlamento Europeu. Nesta altura, os partidos que os autores classificam como de “direita populista antieuropeia” lideram as intenções de voto em nove países (Áustria, Bélgica, República Checa, Eslováquia, França, Hungria, Itália, Países Baixos e Polónia), e estão em segundo ou terceiro lugar noutros nove: é o caso em Portugal, e ainda na Bulgária, Espanha, Estónia, Finlândia, Alemanha, Letónia, Roménia e Suécia.


EXCLUSIVE

EUROPEAN UNION

Rise of populist and eurosceptic forces puts an end to the "grand coalition" dominating the European Parliament

Radical right and far-right parties lead the polls in Austria, France and Poland and are performing strongly in Germany, Spain, Portugal and Sweden.

 

Rita Siza, Brussels

24 January 2024, 0:01

https://www.publico.pt/2024/01/24/mundo/noticia/crescimento-forcas-populistas-eurocepticas-poe-fim-coligacao-domina-parlamento-europeu-2077852

 

The radical right and far-right forces are expected to win between 183 and 197 of the 720 MEP seats in the next legislature, a historic result that guarantees them a representation of 25%, enough to break the consensus necessary for the distribution of top positions in the EU institutions and the approval of legislation, projects the European Council on Foreign Relations.  in a study in which it estimates the composition of the European Parliament after the June elections, released this Wednesday.

 

"The composition of the European Parliament will shift sharply to the right in the elections in June this year, which could have significant implications for the ability of the European Commission and the Council of the European Union to take forward their foreign and environmental policy commitments, including the next phase of the European Green Deal," he said.  predicts Kevin Cunningham, polling expert and co-author of the study, entitled "Strong Shift to the Right: Prediction of the 2024 European Parliament Elections".

 

The growth of populist and eurosceptic forces, which are expected to "emerge as the main winners of the next European elections", makes it impossible to repeat the majority of the centre-right, centre-left and liberal parties that currently dominates the European Parliament. Simon Hix, a professor at the European University Institute in Florence and co-author of the study, said mainstream parties should look at this data and adjust their campaign strategies if they want to "safeguard and strengthen the EU's position" in the June elections.

 

"The dominant political parties must wake up and take clear stock of the demands of the voters, while recognising the need for a more interventionist and powerful Europe on the world stage. Their campaigns should talk about the benefits of multilateralism and give citizens reason for optimism. And they must make it clear that on fundamental issues such as democracy and the rule of law, they are the ones who are in a position to protect European fundamental rights."

 

For now, the numbers show that this message is not getting through. According to the projection of the ECFR, a European think tank, the "Europeanist" grand coalition that politically supports the EU executive and guarantees the votes to approve the priority dossiers on the Brussels agenda – including support for Ukraine, the enlargement of the European Union, the fight against climate change, and the twin green and digital transitions – will be reduced from the current 60% to just over half of the seats in the EP.

 

The European People's Party, Socialists & Democrats and Renew Europe are expected to represent 54% of the future European Parliament, with the transfer of votes to the radical right and far-right forces mainly penalizing the Liberal group, where the French MEPs of the movement launched by Emmanuel Macron, and the Dutch of the VVD sit.  which is in negotiations with the Freedom Party (PVV) to enable a coalition government led by Geert Wilders.

 

According to the statistical model used by the ECFR, the Christian Democrats of the EPP and the Social Democrats of the S&D will have five and ten fewer elected, respectively, but, despite the drop, they will remain the two largest groups in the EP. The Liberal Group, on the other hand, will lose 15 MEPs and cease to be the third largest political group in the chamber, which in the next legislature will increase from 705 to 720 seats.

 

That position is expected to be occupied by the far-right Identity and Democracy (ID) group, which brings together parties such as Marine Le Pen's National Union, Matteo Salvini's League or the Alternative for Germany. It is to this political family that Chega belongs, which should contribute with four elected representatives to strengthen the group from the current 58 to 98 MEPs.

 

That is, if Hungary's Fidesz MEPs do not join the eurosceptic group of European Conservatives and Reformists (ECR), which is projected to grow from the current 67 to 85 seats — overtaking ID, with a total of 98 members, if it welcomes the 14 elected from Viktor Orbán's party.

 

Regardless of who comes out on top, ID or ECR, the representativeness of the radical right and far-right will amount to the 25% of those elected to the European Parliament who will be able to form a new "anti-climate action" coalition and block initiatives in support of Ukraine, since several of these parties are pro-Russia. At the other end of the spectrum, the Left group is also expected to grow, from 38 to 44 MEPs, but will remain the group with the least political influence in the Chamber.

 

Hix and Cunningham have no doubt that this drastic shift in the balance of power in the European Parliament will have an immediate and direct impact on the decision-making process and the production of legislation in Brussels, with significant consequences for the bloc's measures to achieve climate neutrality or the EU's efforts to enforce the rule of law. As the study reads, this change not only "poses significant threats to crucial pillars of the European agenda", but is also "likely to influence and potentially serve as a precursor to national elections in countries such as Austria, Germany and France in the near future".

 

The ECFR accounts are based on a statistical model that weights poll indications on voting intentions in the European elections in the 27 EU member states and the performance of national parties in the previous 2009, 2014 and 2019 European Parliament votes. At this point, the parties that the authors classify as "anti-European populist right" lead the voting intentions in nine countries (Austria, Belgium, Czech Republic, Slovakia, France, Hungary, Italy, the Netherlands and Poland), and are in second or third place in nine others: this is the case in Portugal, and also in Bulgaria, Spain, Estonia, Finland, Germany, Latvia,  Romania and Sweden.


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