terça-feira, 6 de dezembro de 2016

How Italy became this century's 'sick man of Europe' / Com a queda de Renzi a Itália regressa ao “ano zero”


Com a queda de Renzi a Itália regressa ao “ano zero”
Renzi não percebeu, tal como David Cameron, que um ano depois da promessa do referendo o clima político-social pode ter mudado radicalmente.

JORGE ALMEIDA FERNANDES
6 de Dezembro de 2016, 6:54

Matteo Renzi somou vitórias sobre vitórias para perder a partida decisiva. São impressionantes os números da sua derrota no referendo: 19 pontos percentuais. Era, até há um ano, o político mais popular de Itália, com taxas de aprovação superiores a 60%. Foi ele quem escolheu o terreno do referendo para fazer passar “a reforma das reformas” e personalizou a consulta para obter uma investidura popular. Queria demolir o anquilosado sistema político italiano.

No domingo, assumiu pessoalmente a derrota, sem bodes expiatórios. Mas disse aos colaboradores: “Não acreditava que [os outros dirigentes partidários] me odiassem tanto.” Foi vencido por uma coligação de “todos contra Renzi”. O seu projecto era uma ameaça para quase todos os adversários.

A perplexidade que este desfecho possa suscitar foi ontem sublinhada no La Repubblica. “Jamais um governo tinha feito tantas reformas em tão pouco tempo, pouco mais de mil dias. Jamais um primeiro-ministro, desde 1948, tinha feito o seu partido superar o tecto dos 40% [nas eleições europeias de 2014]. Mas a categórica derrota de Matteo Renzi no referendo não é explicável sem o seu terceiro termo: jamais um homem político conseguiu fazer nascer tão rapidamente um sentimento transversal, profundo e multicolor, da extrema-direita à extrema-esquerda, um sentimento que acabou por partir em dois o seu próprio partido: o anti-renzismo.”

Renzi emergiu como figura nacional em 2010 — era então presidente de Florença — ao propor “mandar para a sucata” uma geração inteira dos dirigentes do Partido Democrático (PD), se a esquerda se quisesse livrar de Berlusconi. Exigia o rejuvenescimento da política. Conquistou a liderança do PD nas primárias de Dezembro de 2013 e, dois meses depois, assumiu pessoalmente a chefia do Governo, sem ter vencido eleições.

Erros
O activismo do jovem primeiro--ministro agradou aos italianos. Cultivava a velocidade e fazia dos obstáculos oportunidades. Personalizou a política e o partido. Bateu-se por um executivo forte, daí a necessidade de pôr termo ao bicameralismo perfeito e mudar as competências do Senado.

Cometeu entretanto um duplo erro. Ao ligar ao referendo o seu destino político, incentivou a união dos adversários. Ao elaborar uma lei eleitoral (Italicum) destinada a garantir ao partido vencedor uma maioria absoluta — produto de uma negociação com Berlusconi —, criou uma armadilha para si mesmo. A decadência de Berlusconi e a ascensão do Movimento 5 Estrelas, de Beppe Grillo, ao papel de segundo partido mudaram o tabuleiro. Chegou-se ao inimaginável cenário do “todos contra Renzi”, o que permitiria a Grillo bater o PD numa segunda volta das legislativas. Seria uma oportunidade dourada, e única, para se desfazerem do primeiro-ministro, num clima de caos.

Teria Renzi outro meio de realizar o seu projecto? Ou desistia, pela falta da maioria dos dois terços no Senado, após a ruptura do acordo por parte de Berlusconi, ou restava o referendo. Na altura, a revisão constitucional tinha a aprovação da grande maioria dos italianos. Mas não percebeu, tal como David Cameron, que um ano depois da promessa do referendo o clima político-social pode ter mudado radicalmente.

Renzi não foi derrotado por um projecto alternativo. O referendo suscitou uma coligação tipo “albergue espanhol”: a minoria de esquerda do PD, a extrema-esquerda, intelectuais e juristas que denunciavam a reforma como antecâmara da “ditadura”, a esquerda sindical furiosa com a nova lei laboral, a Força Itália, de Berlusconi, e a Liga Norte, de Matteo Salvini. E, como ponta-de-lança, os Cinco Estrelas. Renzi e as reformas foram derrotados pelo velho mas refinado establishment político.
Maurizio Molinari, director do La Stampa, chama a atenção para a outra face da moeda, o voto de protesto contra o Governo, já patente nas últimas eleições locais. “Votaram ‘não’ as famílias das classes médias descontentes, sem esperança de prosperidade e bem-estar para filhos e netos. Votaram os jovens sem trabalho, votaram os operários que se sentem ameaçados pelos imigrantes ou os empregados a quem o salário não chega.” O país permaneceu insensível não só às promessas, como às próprias realizações do Governo. Compara este voto com o que se passou no “Brexit” ou na eleição de Donald Trump.

O Il Sole 24 Ore acrescenta um elemento psicológico. “Não foi uma derrota de Renzi, mas a recusa de uma reforma mal conduzida. Renzi não devia fazer chantagem sobre os italianos. Inovar é bom, mas é outra coisa.”

Uma derrota tangencial deixaria a Renzi larga margem de manobra. Um desastre desta dimensão não apenas força a demissão do primeiro-ministro, como debilita a sua posição dentro do partido. Os seus adversários no PD jogam a sua sobrevivência política e a possibilidade de serem candidatos nas eleições de 2018. A guerra no PD não vai ser bonita de se ver.

Não haverá eleições sem nova lei eleitoral — a haver, votar-se-ia para o Senado com uma e para os deputados com outra. A política geral está sob efeito de uma tempestade perfeita. A “frente do não” não existe politicamente, não tem líder, nem coerência e depressa as suas várias componentes vão entrar em guerra entre si. Que reformas poderão ainda ser feitas?
Conclui na L’Espresso o jornalista Marco Damilano: “Devia ser, nos planos de Renzi, o dia de nascença da Terceira República, com um referendo de estilo gaullista. Chegou, ao contrário, o ano zero.”

jafernandes@publico.pt



How Italy became this century's 'sick man of Europe'
Larry Elliott
Joining the euro removed the country’s only means of overcoming economic troubles and restoring competitiveness

On New Year’s Day in 2002, Italians gathered in Rome to throw their lire into the Trevi fountain. There were celebrations as Italians took possession of the new euro notes and coins that became legal tender as the clocks struck midnight.

But hopes that the advent of the single currency would provide a fresh start for Italy’s economy were misplaced. The growth performance of the eurozone as a whole has been poor, but Italy’s has been dismal. Greece and Spain at least had booms before their painful busts; Germany and France have managed to claw back the ground lost in the deep recession of 2008-09.

But national output per head in Italy is only 4% higher than it was 15 years ago. The economy is still smaller than it was in 2008. Unemployment is at 11.6%, labour market participation is low, and its birthrate in 2014 was the lowest since the modern Italian state was founded in 1861. If there was a contest for the unwanted title of the sick man of Europe in the 21st century, Italy would walk it.

The eurozone’s third biggest economy has one central problem: the goods and services it produces are more expensive than those of its rivals. This lack of competitiveness means that it has suffered the biggest drop in export market share of any developed country.

There are three reasons for this. Firstly, Italy’s manufacturing sector has traditionally been dominated by small companies, many of them family-owned. These businesses have been reluctant to invest, poor at innovation, and were slow to take advantage of the the new information technology when it came on stream in the 1990s. Productivity has increased less rapidly than in Germany or France.

Secondly, Italy has tended to specialise in low-cost manufactured goods, a segment of the global economy that has been dominated by China since it gained membership of the World Trade Organisation in 2001.

Italy’s competitiveness problem is not new. Since the second world war, it has tended to have higher costs and higher inflation than rival countries. But up until it joined the euro, Italy was able to restore competitiveness by devaluing the lire, which made exports cheaper. With that option no longer available, Matteo Renzi has been trying a different approach: structural reforms of Italy’s labour market.


These, though, have proved unpopular, and explain why Renzi’s constitutional changes were heavily defeated in the referendum.

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