Opinião
17 dezembro
2024 às 01:27
Não há
“guerra” entre a PSP e a PJ. Há a investigação de um crime e violação do
segredo de justiça
Cada vez que
se noticiam “guerras” entre polícias é mais uma pedrada na autoridade que só
pode interessar a quem as quer descredibilizar.
Os primeiros
responsáveis são quem alimenta estes conflitos, semeando fugas cirúrgicas, sem
perceber que não está a prestar um bom serviço público e, da parte de quem
escreve as notícias, sem pensar que interesse é que polícias em “guerra” pode
ter para os cidadãos em geral. Acredito que nenhum.
Da investigação criminal à morte de Odair Moniz,
cidadão cabo-verdiano de 43 anos, morador no Bairro do Zambujal, na Amadora,
que foi baleado por um agente da PSP na madrugada de 21 de outubro, no bairro
da Cova da Mouras, têm sido divulgados dados em segredo de justiça e que
colocam em causa a versão que a PSP apresentou em comunicado oficial, logo no
dia seguinte ao ocorrido.
Segundo esta
força de segurança, o homem pôs-se “em fuga” de carro depois de ver uma viatura
policial e despistou-se na Cova da Moura, onde, ao ser abordado pelos agentes,
“terá resistido à detenção e tentado agredi-los com recurso a arma branca”.
Citando a
investigação da Polícia Judiciária(PJ) e do Ministério Público (MP), a CNN/TVI
revelou que o auto de notícia não foi escrito pelo agente que baleou a vítima,
uma vez que quando o documento foi elaborado, horas depois do incidente, nas
instalações da PSP, o polícia em causa estava a ser interrogado na sede da PJ
em Lisboa.
Outra das
contradições avançadas pela imprensa é a de que o agente da PSP terá
reconhecido, nas declarações à PJ, que não tinha sido ameaçado com uma faca por
Odair, ao contrário do que vinha escrito no comunicado da PSP.
É , pois,
natural que não tivesse caído bem na PSP que se esteja a pôr em causa a sua
versão e é também natural que possam ter havido alguns elementos mais proativos
a soprar para órgãos de comunicação social que isto era uma “guerra” da PJ
contra eles. O que, como já referi, não traz qualquer valor acrescentado.
Escrevo
sobre Segurança Interna há mais de 20 anos e ainda noticiei algumas “guerras”
entre polícias. Até concluir que em nada de construtivo resultava. Até porque
isso desviava a atenção do que era e é realmente importante. Era apenas a
espuma.
Neste caso o
que interessa é realmente saber porque e como foi morto Odair Moniz. Saber o
que levou o agente da PSP a disparar. Se houve falsificação do auto de notícia
e provas “plantadas” além dos crimes em causa, certamente que merecerá ação
disciplinar firme da direção da PSP.
Não vejo que
a PJ tenha qualquer interesse em provocar conflitos com esta força de
segurança. Há uma investigação criminal e, sem surpresa, houve fugas de
informação. Tudo terá de ser provado no final.
Esteve bem o
diretor nacional na PSP, Luís Carrilho, ao afirmar que “o único documento
formal que existe, em termos de comunicação social, foi o comunicado que a PSP
entendeu por bem fazer na altura”, acrescentando “em Portugal, ninguém está
acima da lei, não está a polícia, não estão os cidadãos, e devemos deixar as
instituições funcionarem”.
Carrilho
sabe que pode confiar na PJ e no MP. E saberá tirar consequências do resultado
da investigação.
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