quinta-feira, 1 de fevereiro de 2024

PJ sobre Madeira: “Não podemos ter medo de fazer o nosso trabalho” / PJ on Madeira: "We can't be afraid to do our job"

 


MADEIRA

PJ sobre Madeira: “Não podemos ter medo de fazer o nosso trabalho”

 

Director nacional da PJ, Luís Neves, procurou defender a instituição das críticas que lhe têm sido feitas.

 

Ana Henriques

30 de Janeiro de 2024, 15:29 actualizado a 30 de Janeiro de 2024, 16:35

https://www.publico.pt/2024/01/30/sociedade/noticia/pj-madeira-nao-podemos-medo-trabalho-2078639

 

"A PJ viajou sozinha para a Madeira, sem Ministério Público e sem jornalistas", esclareceu Luís Neves

 

O director nacional da Polícia Judiciária, Luís Neves, deu esta terça-feira uma conferência de imprensa sobre a megaoperação realizada na Madeira há perto de uma semana. Não para fornecer mais detalhes sobre a investigação mas para defender a instituição que dirige das críticas que lhe têm sido feitas, quer ao nível da quebra da confidencialidade quer no que respeita à data escolhida para levar a cabo as buscas.

 

O principal responsável da Judiciária disse que, tendo a operação policial começada a ser preparada no final de Setembro, depois das eleições regionais e antes da Operação Influencer, não havia como interromper a dinâmica desencadeada para que as buscas pudessem ter lugar nesta altura. "Não podemos ter medo de fazer o nosso trabalho", declarou Luís Neves, acrescentando que, fosse qual fosse a ocasião escolhida, seria sempre passível de críticas, por aquilo ou por aqueloutro.

 

Garantindo que a PJ já não se confronta com a falta de meios humanos de que sofreu até 2018, o mesmo dirigente mostrou-se incapaz de antecipar um horizonte para o término destas investigações, não tendo também sido capaz de adiantar quantos arguidos existem neste momento. "Tudo faremos para que isto não se prolongue ad aeternum", limitou-se a dizer, tendo garantido que os 140 inspectores idos do continente em aviões da Força Aérea para participar nas buscas não deram boleia a nenhum jornalista. Recorde-se que houve profissionais da comunicação social que desembarcaram no Funchal na véspera da operação.

 

"A PJ viajou sozinha para a Madeira, sem Ministério Público e sem jornalistas. O transporte dos investigadores foi preparado pela PJ dias antes e pelo Estado-Maior da Força Aérea em total sigilo", reforçou Luís Neves, garantindo ter sido por sua decisão que não foi atribuído um nome à operação, como é habitual acontecer. O que não disse o director nacional da Judiciária, mas o PÚBLICO apurou, foi que de facto a operação esteve para ser baptizada com o nome Zarco, numa referência ao descobridor da ilha de Porto Santo. Mas a ideia acabou por ser abortada.

 

O recurso à Força Aérea foi justificado pela necessidade de transportar em sigilo e depressa não só uma quantidade considerável de inspectores como também cerca de uma tonelada de equipamento informático para usar nas buscas.

 

Estão a ser investigadas várias dezenas de adjudicações em concursos públicos envolvendo centenas de milhões de euros, no pressuposto de que membros do governo regional foram corrompidos por grupos empresariais privados aos quais entregaram negócio. No centro desta teia estão, para o Ministério Público, do mais importante grupo empresarial do arquipélago, o AFA, de Avelino Farinha, e o grupo bracarense Socicorreia, de Custódio Correia. Ambos os empresários se encontram detidos preventivamente, juntamente com o até aqui presidente da Câmara do Funchal, Pedro Calado, que antes de se tornar vice-presidente do governo regional tinha tido um cargo de topo no grupo AFA.

 

Suspeita-se que as sociedades visadas tivessem conhecimento prévio de projectos e dos critérios definidos para as adjudicações, bem como acesso privilegiado às propostas e valores apresentados pelas suas concorrentes directas nos concursos, o que lhes terá possibilitado a apresentação de propostas mais vantajosas. Terá mesmo havido concursos fabricados à medida das empresas de Avelino Farinha, cujos requisitos só elas preenchiam.

 

O presidente do governo regional, Miguel Albuquerque, foi constituído arguido e acabou por pedir a demissão depois de ter dito que não o iria fazer. Foi indiciado por oito crimes, incluindo corrupção activa e passiva. É-lhe assacada intervenção em vários negócios, como o da instalação de um teleférico no Curral das Freiras, concessão do transporte rodoviário de passageiros em parte da ilha da Madeira e a construção de um projecto imobiliário na praia Formosa, numa zona defronte do mar em que o Plano Director Municipal do Funchal não permitia edificações. Diz o Ministério Público que o projecto previsto para terrenos do grupo Pestana e do grupo AVA não terá sido precedido da devida avaliação de impacte ambiental. Os apartamentos dos sete prédios de nove andares autorizados para o Formosa Bay Pestana Residences & CR7 já estão à venda há um ano, em planta.

 

Sob investigação, após as autoridades terem recebido denúncias nesse sentido, está igualmente a venda, por Miguel Albuquerque, de uma propriedade sua, a Quinta do Arco, a um fundo imobiliário que depois a arrendou ao grupo Pestana, ao qual viria a ser entregue a concessão da zona franca da Madeira. O negócio importou em 3,5 milhões de euros, desconfiando os investigadores que o próprio presidente do governo regional tivesse participação no referido fundo.


PJ on Madeira: "We can't be afraid to do our job"

 

The PJ's national director, Luís Neves, sought to defend the institution from the criticism that has been leveled at it.

 

Ana Henriques

30 January 2024, 15:29 updated on 30 January 2024, 16:35

https://www.publico.pt/2024/01/30/sociedade/noticia/pj-madeira-nao-podemos-medo-trabalho-2078639

 

"The PJ travelled alone to Madeira, without a Public Prosecutor's Office and without journalists," Luís Neves clarified

 

The national director of the Judiciary Police, Luís Neves, gave a press conference on Tuesday about the mega-operation carried out in Madeira almost a week ago. Not to provide more details about the investigation, but to defend the institution he heads from the criticism that has been made of him, both in terms of the breach of confidentiality and in terms of the date chosen to carry out the searches.

 

The head of the Judiciary said that, as the police operation began to be prepared at the end of September, after the regional elections and before Operation Influencer, there was no way to interrupt the dynamics unleashed so that the searches could take place at this time. "We can't be afraid to do our job," said Luís Neves, adding that, whatever occasion he chose, he would always be subject to criticism, for this or that.

 

Assuring that the PJ is no longer confronted with the lack of human resources from which it suffered until 2018, the same leader was unable to anticipate a horizon for the completion of these investigations, and was also unable to say how many defendants there are at this time. "We will do everything so that this does not go on ad aeternum," he limited himself to saying, having assured that the 140 inspectors who had gone from the mainland on Air Force planes to participate in the search did not give a lift to any journalist. It should be recalled that there were media professionals who landed in Funchal on the eve of the operation.

 

"The PJ travelled alone to Madeira, without a Public Prosecutor's Office and without journalists. The transport of the investigators was prepared by the PJ days before and by the Air Force General Staff in total secrecy," said Luís Neves, assuring that it was by his decision that the operation was not named, as is usually the case. What the national director of the Judiciary did not say, but PÚBLICO found, was that in fact the operation was about to be baptized with the name Zarco, in reference to the discoverer of the island of Porto Santo. But the idea was eventually aborted.

 

The use of the Air Force was justified by the need to transport in secrecy and quickly not only a considerable number of inspectors but also about a ton of computer equipment to use in the searches.

 

Several dozen public tenders involving hundreds of millions of euros are being investigated, on the assumption that members of the regional government were corrupted by private business groups to which they handed over business. At the center of this web are, for the Public Prosecutor's Office, the most important business group in the archipelago, AFA, owned by Avelino Farinha, and the Braga group Socicorreia, owned by Custódio Correia. Both businessmen are in preventive detention, along with the former mayor of Funchal, Pedro Calado, who before becoming vice-president of the regional government had held a top position in the AFA group.

 

It is suspected that the offeree companies had prior knowledge of projects and the criteria defined for awards, as well as privileged access to the tenders and values submitted by their direct competitors in the tendering procedures, which would have enabled them to submit more advantageous tenders. There were even tenders made to measure by Avelino Farinha's companies, whose requirements only they fulfilled.

 

The president of the regional government, Miguel Albuquerque, was made an arguido and ended up resigning after saying he would not do so. He was indicted on eight felonies, including active and passive corruption. He was involved in several businesses, such as the installation of a cable car in Curral das Freiras, the concession of road passenger transport in part of the island of Madeira and the construction of a real estate project on Formosa beach, in an area facing the sea where the Funchal Municipal Master Plan did not allow buildings. The Public Prosecutor's Office says that the planned project for land belonging to the Pestana group and the AVA group was not preceded by the proper environmental impact assessment. The apartments of the seven nine-storey buildings authorized for the Formosa Bay Pestana Residences & CR7 have already been for sale for a year, in plan.

 

Under investigation, after the authorities received complaints to that effect, is also the sale, by Miguel Albuquerque, of one of his properties, Quinta do Arco, to a real estate fund that then leased it to the Pestana group, to which the concession of the Madeira free zone would be delivered. The deal amounted to 3.5 million euros, and investigators suspect that the president of the regional government himself had a stake in the fund.


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