quinta-feira, 27 de julho de 2023

Euribor reforçam sinais de que BCE pode parar de subir juros / Euribor reinforces signs ECB may stop raising rates

 


POLÍTICA MONETÁRIA

Euribor reforçam sinais de que BCE pode parar de subir juros

 

No meio de vários indicadores económicos mais negativos, reforçam-se as expectativas de aproximação do fim do ciclo de subidas de taxas do BCE, com as Euribor a darem sinais de estabilização em Julho.

 

Sérgio Aníbal

27 de Julho de 2023, 6:30

https://www.publico.pt/2023/07/27/economia/noticia/euribor-reforcam-sinais-bce-parar-subir-juros-2058289

 

A poucos dias de se fazer um ano desde que o Banco Central Europeu (BCE) deu início ao seu ciclo de subidas de taxas de juro, Christine Lagarde e os seus pares reúnem-se novamente em Frankfurt esta quinta-feira e deverão, com toda a probabilidade, colocar o custo do dinheiro na zona euro ainda mais acima, pela nona vez consecutiva. Desta vez, contudo, existem motivos mais fortes do que nas oito reuniões anteriores para acreditar que o banco central pode ficar por aqui, uma esperança que se reflecte na estabilização a que se tem assistido nas últimas semanas nas Euribor, as taxas de juro que servem de referência para o cálculo da maioria das prestações bancárias em Portugal.

 

Em relação à reunião desta quinta-feira, quase ninguém tem dúvidas sobre o que irá acontecer: uma subida das taxas de juro de referência do BCE em mais 0,25 pontos percentuais, colocando a taxa de depósito (a principal referência para os custos de financiamento na zona euro) em 3,75%, um valor que é 4,25 pontos percentuais mais elevado do que os -0,5% que se verificavam até 27 de Julho do ano passado, o dia em que os responsáveis do banco central decidiram começar a agir contra a subida da inflação na zona euro.

 

 

Tanto a presidente Christine Lagarde, como outros membros do conselho do BCE têm deixado claro desde a reunião do mês passado que uma nova subida de taxa de juro em Julho é um cenário “muito provável”, salientando que o esforço para trazer a inflação – que em Junho foi de 5,5% - para a meta definida pela própria instituição de 2% “ainda não chegou ao fim”.

 

Por isso, aquilo a que todos os observadores do BCE vão estar mais atentos no final desta reunião são os sinais que irão ser dados, seja no comunicado oficial, seja principalmente na conferência de imprensa de Christine Lagarde, relativamente àquilo que o banco central pode vir a fazer nas reuniões seguintes. O próximo encontro está agendado para 14 de Setembro e a verdade é que desta vez, ao contrário daquilo que tem acontecido ao longo do último ano, já se vêem possibilidades de o BCE parar de subir taxas de juro, optando por esperar para ver se o nível elevado a que já colocou as taxas de juro é suficiente para trazer a inflação na zona euro para o nível desejado.

 

Euribor mais estável

Nas últimas semanas, a esperança de que a subida pré-anunciada para Julho seja a última tem vindo a ganhar força.

 

Isso é evidente em indicadores de mercado como as taxas de juro Euribor. Estas taxas servem como referência na maioria dos empréstimos concedidos em Portugal e são fortemente influenciadas pela evolução das taxas de juro de referência do BCE. Não só a evolução já feita como aquela que é esperada nos mercados para os meses seguintes.

 

É por isso que, as taxas de juro Euribor, depois de estarem vários anos em terreno negativo, começaram a subir a partir de Março de 2022, antecipando desde logo o início da subida das taxas de juro por parte do BCE que apenas ocorreu quatro meses depois, em Julho.

 

Desde aí, a Euribor a seis meses tem-se mantido sempre acima da taxa de depósito do BCE, mas a verdade é que nos últimos meses, essa diferença tem vindo a diminuir, espelhando a convicção crescente de que o banco central se pode estar a aproximar do fim do seu ciclo de subidas de taxas.

 

Na véspera da reunião desta quinta-feira, a diferença entre a Euribor a seis meses e a taxa de juro de depósito, que chegou a estar em 1,5 pontos percentuais no final de 2022, está abaixo de 0,5 pontos, a primeira vez que tal acontece nas últimas nove reuniões do BCE.

 

De igual modo, olhando para o valor da Euribor, que tem sempre vindo a crescer desde Março do ano passado, é possível verificar que durante o mês de Julho, praticamente estabilizou, passando de 3,9% para 3,941%, num sinal de que a expectativa é a de que, depois da subida, se pode estar a chegar ao ponto em que os custos de financiamento exigidos às famílias e empresas portuguesas podem estar a estabilizar ao actual nível elevado.

 

Economia pede para BCE parar

Estas expectativas dos mercados são o resultado da evolução recente de alguns indicadores, nomeadamente os que dizem respeito ao ritmo de actividade económica na zona euro.

 

Na sua tentativa de travar a inflação com subidas de taxas de juro, aquilo que o BCE faz é limitar o acesso ao crédito, o que por sua vez provoca um desempenho mais fraco do consumo, do investimento, do emprego e dos salários.

 

Até este momento, a inflação na zona euro já baixou do máximo de 10,6% atingido no final do ano passado para os 5,5% de Junho (o valor de Julho será conhecido na segunda-feira), mas para terem a certeza que já fizeram o suficiente para trazer a inflação ainda mais para baixo, para a sua meta de 2%, a maioria dos membros do conselho do BCE querem ver um efeito claro das taxas de juro na economia.

 

Esse efeito tem sido notório em diversos indicadores esta semana. Tudo aponta para que, depois de uma estagnação no quarto trimestre de 2022 e no primeiro trimestre deste ano, que o Eurostat venha a revelar outro desempenho muito moderado do PIB da zona euro na próxima segunda-feira, quando der a conhecer os resultados do segundo trimestre.

 

E mesmo para o terceiro trimestre já há, principalmente para a Alemanha, indicadores que apontam para um prolongamento da estagnação ou mesmo para uma recessão. Esta semana, os indicadores de actividade PMI relativos a Julho voltaram a cair e para um valor que aponta para a existência de uma contracção da economia. E a confiança dos consumidores alemães calculada pelo instituto Ifo caiu para um mínimo dos últimos oito meses. É por causa de dados deste tipo que o Fundo Monetário Internacional (FMI) reviu esta semana em baixa a sua previsão de variação do PIB na Alemanha este ano de -0,1% para -0,3%.

 

Há também sinais de que o aperto do crédito incentivado pelo BCE com as suas subidas de taxas está agora a acontecer de forma muito significativa na zona euro. De acordo com os dados de um inquérito aos bancos europeus realizado trimestralmente pelo próprio banco central, a procura por empréstimos feita pelas empresas caiu, no segundo trimestre, de forma “substancialmente mais forte” do que o esperado, para “o nível mais baixo desde o início do inquérito em 2003”.

 

Tudo isto são argumentos fortes para aqueles que, dentro do BCE, têm defendido que é já altura do banco central parar de subir taxas de juro, esperando para ver se o nível já atingido produz efectivamente os efeitos desejados e não arriscando, com novas subidas, ir longe demais na descida da inflação e na contenção da economia.

 

Os olhos, esta quinta-feira, estarão postos em Christine Lagarde. Se no final da reunião de Junho e na sua visita a Sintra algumas semanas depois, deu a entender que, mesmo depois da subida de Julho, o BCE não deveria ficar por aqui, agora, perante a evolução dos dados económicos, o discurso pode tornar-se menos decidido, fazendo depender totalmente das novas previsões económicas que os técnicos do BCE irão publicar em Setembro, no dia da reunião, a decisão que virá então a ser tomada.


MONETARY POLICY

Euribor reinforces signs ECB may stop raising rates

 

Amid several more negative economic indicators, expectations are strengthened that the end of the ECB's rate hike cycle is approaching, with the Euribor showing signs of stabilisation in July.

 

Sérgio Aníbal

27 July 2023, 06:30

https://www.publico.pt/2023/07/27/economia/noticia/euribor-reforcam-sinais-bce-parar-subir-juros-2058289

 

With just days to go until a year has passed since the European Central Bank (ECB) began its cycle of interest rate hikes, Christine Lagarde and her peers meet again in Frankfurt on Thursday and are likely to push the cost of money in the eurozone even higher for the ninth time in a row. This time, however, there are stronger reasons than in the eight previous meetings to believe that the central bank can stop there, a hope that is reflected in the stabilization that has been seen in recent weeks in the Euribor, the interest rates that serve as a reference for the calculation of most bank installments in Portugal.

 

Regarding Thursday's meeting, almost no one has any doubts about what will happen: a rise in the ECB's reference interest rates by a further 0.25 percentage points, putting the deposit rate (the main reference for financing costs in the euro area) at 3.75%, a figure that is 4.25 percentage points higher than the -0.5% that was seen until 27 July last year,  The day central bank officials decided to start acting against rising inflation in the eurozone.

 

 

Both President Christine Lagarde and other members of the ECB's governing council have made it clear since last month's meeting that a further interest rate hike in July is a "very likely" scenario, stressing that the effort to bring inflation – which in June was 5.5% – to the institution's own target of 2% "has not yet come to an end".

 

Therefore, what all ECB observers will be most attentive to at the end of this meeting are the signals that will be given, either in the official communiqué or especially in Christine Lagarde's press conference, regarding what the central bank may do in the following meetings. The next meeting is scheduled for 14 September and the truth is that this time, contrary to what has happened over the last year, there are already possibilities for the ECB to stop raising interest rates, choosing to wait to see if the high level at which it has already set interest rates is enough to bring inflation in the euro area to the desired level.

 

More stable Euribor

In recent weeks, the hope that the pre-announced hike for July will be the last has been gaining momentum.

 

This is evident in market indicators such as Euribor interest rates. These rates serve as a reference for most loans granted in Portugal and are strongly influenced by the evolution of the ECB's reference interest rates. Not only the evolution already made but also what is expected in the markets for the following months.

 

That is why, Euribor interest rates, after being in negative territory for several years, began to rise from March 2022, anticipating from the outset the beginning of the ECB's interest rate hike that only occurred four months later, in July.

 

Since then, the six-month Euribor has consistently remained above the ECB's deposit rate, but the truth is that in recent months, that gap has been narrowing, mirroring the growing conviction that the central bank may be nearing the end of its cycle of rate hikes.

 

On the eve of Thursday's meeting, the gap between the six-month Euribor and the deposit interest rate, which stood at 1.5 percentage points at the end of 2022, is below 0.5 points, the first time this has happened in the last nine ECB meetings.

 

Similarly, looking at the value of Euribor, which has always been growing since March last year, it is possible to see that during the month of July, it practically stabilized, going from 3.9% to 3.941%, in a sign that the expectation is that, after the rise, it may be reaching the point where the financing costs required of Portuguese families and companies may be stabilizing at the current level high.

 

Economy asks ECB to stop

These market expectations are the result of recent developments in some indicators, in particular those concerning the pace of economic activity in the euro area.

 

In its attempt to curb inflation with interest rate hikes, what the ECB does is limit access to credit, which in turn leads to weaker performance of consumption, investment, employment and wages.

 

So far, inflation in the eurozone has already fallen from the high of 10.6% reached at the end of last year to the 5.5% in June (the July figure will be known on Monday), but to be sure that they have already done enough to bring inflation even lower, to their target of 2%,  most members of the Governing Council want to see a clear effect of interest rates on the economy.

 

That effect has been noticeable on several indicators this week. Everything points to the fact that, after a stagnation in the fourth quarter of 2022 and the first quarter of this year, Eurostat will reveal another very moderate performance of the eurozone GDP next Monday, when it announces the results of the second quarter.

 

And even for the third quarter there are already, especially for Germany, indicators that point to a prolongation of stagnation or even a recession. This week, PMI activity indicators for July fell again and to a value that points to the existence of a contraction of the economy. And German consumer confidence as calculated by the Ifo institute has fallen to an eight-month low. It is because of such data that the International Monetary Fund (IMF) this week revised down its forecast for the change in GDP in Germany this year from -0.1% to -0.3%.

 

There are also signs that the credit tightening encouraged by the ECB with its rate hikes is now happening very significantly in the euro area. According to data from a quarterly survey of European banks conducted by the central bank itself, demand for corporate loans fell in the second quarter "substantially stronger" than expected to "the lowest level since the survey began in 2003".

 

All these are strong arguments for those within the ECB who have argued that it is time for the central bank to stop raising interest rates, waiting to see whether the level already reached actually produces the desired effects and not risking, with further increases, going too far in lowering inflation and containing the economy.

 

The eyes will be on Christine Lagarde on Thursday. If at the end of the June meeting and in his visit to Sintra a few weeks later, he implied that, even after the July rise, the ECB should not stop here, now, in the face of the evolution of economic data, the discourse may become less decisive, making it totally dependent on the new economic forecasts that the ECB technicians will publish in September,  on the day of the meeting, the decision will then be taken.


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