LISBOA
Aos 190 anos, a Confeitaria Nacional é monumento de
interesse público
Centenária confeitaria da baixa lisboeta recebeu
classificação, assim como o Liceu Maria Amália e o complexo da Companhia União
Fabril (CUF), no Barreiro.
Cristiana Faria
Moreira
Cristiana Faria
Moreira 19 de Outubro de 2020, 13:22
É um
reconhecimento para o estabelecimento, mas também o é para o comércio
tradicional e histórico de Lisboa, que vive, por esta altura, dias difíceis: a
quase bicentenária Confeitaria Nacional é já um monumento de interesse público.
Segundo o
despacho da secretária de Estado adjunta e do Património Cultural, Ângela
Carvalho Ferreira, publicado em Diário da República esta segunda-feira, a
classificação abrange o “piso térreo e primeiro andar, incluindo o património
móvel integrado”, entre a Praça da Figueira, 18-A a D e na Rua dos Correeiros,
238.
A casa abriu
portas em 1829, no rescaldo da Guerra Civil entre Liberais e Absolutistas, pela
mão de Balthazar Rodrigues Castanheiro, que conseguiu “rapidamente, transformar
o espaço - único no seu género - num dos lugares de eleição das elites
lisboetas. Manteve-se sempre na mesma família e é ainda hoje reconhecida pelo
famoso bolo-rei, uma receita que um confeiteiro terá trazido de Paris.
Já em 1920, a
então quase centenária Confeitaria Nacional, inaugurou uma sala de chá ao lado
da loja, o que permitiu estender a actividade da confeitaria à pastelaria.
“Apesar de terem sido realizadas remodelações posteriores, o património
integrado dessa época permaneceu no estabelecimento tendo sido muito valorizado
pela intervenção realizada entre 1999 e 2002, quando foi iniciada a actividade
de restauração no primeiro andar. Encontram-se também preservados o mobiliário
e as pinturas que decoram o tecto da loja desde o século XIX”, lê-se no
despacho de classificação.
O procedimento de
classificação foi aberto em 2017. Para esta classificação pesou o facto de este
centenário estabelecimento ser “testemunho notável de vivências ou factos
históricos”, mas também o seu “valor estético, técnico ou material intrínseco
do bem e a concepção arquitectónica e urbanística”.
Em Novembro, a
dias de celebrar o 190.º aniversário, correram pela cidade rumores de um
possível encerramento. Que foi prontamente desmentido pelos seus responsáveis.
“Vamos ficar no mesmo sítio, esperamos que por muitos anos”, garantiu então ao
PÚBLICO Fernanda Vicente, uma responsável da empresa.
CUF e Liceu Maria
Amália também distinguidos
O antigo Liceu
Feminino de Maria Amália Vaz de Carvalho foi também esta segunda-feira
classificado como monumento de interesse público. Instituído por decreto régio
de 1906, foi o primeiro liceu feminino do país. Foi o arquitecto Miguel Ventura
Terra o responsável por projectar o edifício da Rua de Rodrigo da Fonseca, 115,
"com algumas alterações introduzidas por António do Couto de Abreu”, tendo
clara influência dos modelos franceses dos Lycée.
“Para além de
manter a sua vocação educativa, o imóvel conserva ainda quase intacto o programa
arquitectónico original, bem como um importante acervo de mobiliário, arquivos
documentais e fotográficos, a colecção de instrumentos científicos dos
laboratórios de Física e Química, e os espaços dedicados a Geografia e
História, onde se conserva diversa cartografia, e a Biologia-Geologia,
incluindo o depósito de Geologia e Mineralogia”, lê-se no despacho de
classificação.
Classificado como
conjunto de interesse público está também o conjunto de imóveis ligados à
actividade industrial e à obra social da Companhia União Fabril (CUF), no
Barreiro, um dos maiores conjuntos industriais portugueses, que trabalhou quase
um século. Instalada na ínsula do Barreiro desde 1907, a CUF “representa para
Portugal o pioneirismo e gigantismo no seio das indústrias químicas nacionais,
tendo criado sinergias para o desenvolvimento de fábricas congéneres.”.
Foi ali
localizada para aproveitar a proximidade ao rio Tejo e à estação de
caminho-de-ferro do Sul, cuja ligação era fundamental para receber a maioria
das matérias-primas provenientes das minas de pirite do Alentejo. “A CUF
revolucionou a indústria em Portugal, na terceira geração da industrialização
(indústria química), e representa para Portugal um exemplo paradigmático de
industrialização, desenvolvendo e construindo uma verdadeira cidade industrial
para acolher os milhares de trabalhadores que entretanto iam chegando ao
Barreiro”, refere o documento.
“O complexo da
CUF mantém ainda hoje arquitecturas autênticas e de relevante valor histórico e
cultural e social, testemunhando diversas fases de produção e de laboração de
um dos maiores complexos industriais europeus e dos mais significativos
enquanto património industrial português e inclui, ainda, toda uma série de
equipamentos de natureza social.”
A classificação
como conjunto de interesse público abrange a Casa-Museu Alfredo da Silva;
antigo Posto da GNR; Edifícios da Primeira Geração Stinville (1907-1917);
Edifícios da Antiga Central a Vapor; Armazém de Descarga e Moagem de Pirites;
Bairro Operário de Santa Bárbara; antiga sede do Grupo Desportivo da CUF;
Mausoléu de Alfredo da Silva; Silo de Sulfato de Amónio (1952); Silo de Enxofre
(1960); e Museu Industrial e Centro de Documentação (antiga Central Diesel,
1928-1937).
Com esta
classificação, qualquer intervenção que seja feita nos imóveis ficará sujeita
às restrições previstas na lei e depende da aprovação prévia da Direcção-Geral
do Património Cultural (DGPC).



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