sexta-feira, 12 de junho de 2015

Um activo tóxico chamado José Sócrates / Ana Kotowicz


Um activo tóxico chamado José Sócrates
Ana Kotowicz
ana.kotowicz@ionline.pt
12/06/2015

Quando em 2007 começámos a ouvir falar da crise do subprime, José Sócrates era primeiro-ministro. O nosso vocabulário nunca mais seria o mesmo e quem não sabia aprendeu à força o que era o subprime, o que eram activos tóxicos e que Fannie Mae e Freddie Mac não eram nomes de personagens de sitcoms americanas. Depois foi tudo muito rápido. Lehman Brothers, Merrill Lynch, AIG... A crise financeira tornou-se sistémica e espalhou-se pela economia como um vírus. Por cá, Sócrates via-se a braços com a polémica da sua licenciatura, que hoje sabemos ser a ponta de um icebergue de escândalos.

Ao mesmo tempo que a crise crescia, a sombra sobre Sócrates tornava-se mais escura. #E percebia-se que os créditos que trouxera para o PS – como a primeira maioria absoluta da história dos socialistas – não eram tão seguros como se pensava. As polémicas acumulavam-se e o seu nome aparecia associado aos casos Freeport e Face Oculta. A economia portuguesa degradava-se e o nosso vocabulário aumentava: dívida soberana, ratings, outlooks negativos. À velocidade com que tudo sucedia, era normal (seria?) que também os PEC fossem I, II, III. Não chegaram ao IV – Sócrates demitia-se, isolava-se em Paris e o PS suspirava de alívio. Podia descolar-se de uma imagem gasta e de um activo sobrevalorizado.

Mas o destino traiu os socialistas e principalmente António Costa. O novo líder socialista tinha tudo a seu favor para vencer a próxima corrida eleitoral. Até Sócrates acabar detido em Évora. Assim como os activos tóxicos transmitiram a crise do imobiliário americano ao sistema financeiro mundial, uma parte do PS tem estado encarcerada com o recluso 44.


E Sócrates não parece preocupado com essa contaminação. Se estivesse, não teria esperado pelo fim da convenção socialista para anunciar que nunca aceitaria ir para casa com pulseira electrónica, decisão que estava tomada desde a véspera. Mas o pior ainda está para vir, quando o juiz tiver de reavaliar a manutenção da prisão preventiva, daqui a três meses, em plena campanha eleitoral. Ou quando a acusação for conhecida e a roupa suja estiver espalhada por toda a comunicação social. Nessa altura, as manchetes voltarão a ser sobre José Sócrates e, por muito que Costa queira, não conseguirá “despoluir”, como ele próprio disse, a campanha. A coligação PSD/CDS nem vai ter de sujar as mãos e levar o nome do antigo PM para as caravanas eleitorais. Ele próprio fará isso. E se isso custar uma derrota eleitoral ao PS, paciência. O escorpião não muda de natureza.

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