sábado, 20 de junho de 2015

A Dinamarca virou à direita com subida do partido anti-imigração


A Dinamarca virou à direita com subida do partido anti-imigração

Helle Thorning-Schmidt deixa de ser primeira-ministra. Provável chefe do governo é o liberal Lars Lokke Rasmussen. Partido anti-imigração é agora a maior força do bloco de direita

Lars Lokke Rasmussen parte para a formação do governo numa posição de fraqueza. Pode ter de fazer mais concessões do que aquilo que estaria à espera

João Manuel Rocha / 20-6-2015 / PÚBLICO

A Dinamarca virou à direita nas eleições legislativas de quinta-feira. O provável futuro primeiro-ministro, Lars Lokke Rasmussen, viu o seu partido ser ultrapassado pelo Partido Popular Dinamarquês, força populista hostil à imigração, que conseguiu o apoio de um quinto dos votantes e se tornou no segundo do país.
Os sociais-democratas da primeiraministra cessante, Helle ThorningSchmidt, foram os mais votados, com 26,3%. Mas isso não fez dela uma vencedora, devido às características do sistema político: a soma de deputados do “seu” bloco de centroesquerda, o Bloco Vermelho, foi inferior à do bloco de direita de Rasmussen: 89 mandatos contra 90.
Thorning-Schmidt, que há quatro anos se tornou a primeira mulher a chefiar um governo na Dinamarca, apresentou a demissão à rainha Margarida II e anunciou também a demissão da liderança partidária.
Embora tenha tido resultados decepcionantes, Rasmussen, líder do liberal Venstre, tradicional força preponderante do bloco de direita, o chamado “Bloco Azul”, assumiu a intenção de formar governo e voltar ao cargo que ocupou entre 2009 e 2011. O seu partido ficou-se pelos 19,5%, atrás não só dos sociais-democratas, como do Partido Popular Dinamarquês (DF), que teve um resultado histórico de 21,1%.
O DF liderado desde 2012 por Kristian Thulesen Dahl, que sucedeu a Pia Kjaersgaaed, mantém as posições anti-imigração, mas deu maior expressão no seu discurso à defesa dos desfavorecidos, o que explicará o salto dos 12,3% de há quatro anos para o resultado das eleições antecipadas de quinta-feira, em que superou as sondagens que lhe eram mais favoráveis e se tornou no partido mais votado do Bloco Azul.
Rasmussen, que há quatro anos perdeu a chefia do Governo para Helle Thorning-Schmidt, não tem pela frente uma tarefa fácil, depois de o seu partido ter perdido um quarto dos assentos parlamentares. “Não tivemos um bom resultado”, reconheceu. “Os próximos dias vão permitir dizer se é possível encontrar uma maioria para um programa [de governo] que ponha a Dinamarca na direcção certa”, disse, citado pela AFP.
O jornal de esquerda Information considera que os resultados de quinta-feira são “o pior ponto de partida imaginável” para Rasmussen, que parte para a tentativa de formar governo numa posição de fraqueza.
Já quando liderou o executivo, o líder liberal precisou do apoio do DF. Mas desta vez o cenário é mais complexo. O partido de extrema-direita ainda não decidiu como actuará. Kristian Dahl fez saber que não reclama a possibilidade de formar governo, mas disse à agência Ritzau que “não tem medo” de o integrar.
O partido reclama para si o papel de defensor da “herança cultural dinamarquesa” e apoiou governos conservadores na década passada, a troco de políticas restritivas de imigração. Mas tem-se mantido à margem da governação, procurando antes influenciá-la.
Marie Serup, jornalista política, escreveu no seu jornal, o BT, que “os eleitores de extrema-direita disseram ao Partido Popular Dinamarquês que deve assumir responsabilidades”. Na sua opinião, reproduzida pela AFP, o DF “não pode continuar a esquivarse”, porque “isso significaria trair os seus eleitores”.
Mas o partido populista tem sérias discordâncias de outras forças de direita em matérias como questões europeias e protecção social. Para além dos partidos de Rasmussen e de Dahl, o bloco inclui a Aliança Liberal, o Partido Conservador do Povo e os democratas-cristãos.
Soren Espersen, vice-presidente do DF, identificou à Reuters as “linhas vermelhas” do partido — em matéria europeia são a defesa da realização de um referendo sobre a permanência na União Europeia, embora só depois do britânico; e uma reforma do “clube” a que quer continuar a pertencer.
As outras duas são de natureza puramente migratória: reintrodução de controlos fronteiriços abolidos pelo acordo de Schengen; e a adopção de políticas de imigração mais restritivas, ainda que, neste campo, o partido se declare favorável a um aumento da despesa pública nesta área para valores superiores aos defendidos pelos sociais-democratas.


Fique ou não no governo, o partido anti-imigração está em posição de força para influenciar as políticas — elegeu 37 deputados, mais três do que o Venstre e mais 15 do que há quatro anos. Os sociais-democratas elegeram 47. Rasmussen pode ter de fazer mais concessões do que aquilo que estaria à espera para liderar o governo.

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