segunda-feira, 8 de janeiro de 2024

RECORDANDO : Cinema Londres em 2014 ... Salão de Jogos Monumental em 2006.

Depois do desaparecimento do “King”, e claro do famoso “Quarteto”, agora é a vez do antigo Londres’agora já completamente destroçado no seu interior, sucumbir ao fenómeno “Chindia”.
A decadência das antigas avenidas residenciais e respectiva “classe media/alta”, agora ela mesma destroçada pela crise, pode ser seguida num processo que se arrasta há muito tempo, com o desaparecimento do Império ( cinema ) a transformação de café com o mesmo nome, a Pastelaria Roma, a ameaçada Pastelaria Mexicana , etc ., etc.,
De relembrar a transformação do emblemático e classificado  Salão de Jogos Monumental, este na Av. Pedro Álvares Cabral, também transformado em Loja “Chindia”… ( em baixo)
Com visto “Gold” … ou sem … é o dinheiro que fala e determina …

António Sérgio Rosa de Carvalho.




O histórico Cinema Londres, em Lisboa, vai transformar-se numa loja de produtos chineses
INÊS BOAVENTURA 08/01/2014 - 22:32

Os proprietários do imóvel na Avenida de Roma confirmam o negócio. Já há dois abaixo-assinados, de um movimento de comerciantes da zona e de uma associação cívica, defendendo que o espaço deve continuar ao serviço da cultura.

O antigo Cinema Londres, na Avenida de Roma, em Lisboa, vai ser transformado numa loja de produtos chineses. O movimento de comerciantes da zona e o núcleo lisboeta da associação Mais Democracia não se conformam com a decisão e defendem que aquela que em 1972 foi apresentada pela comunicação social como “a mais luxuosa sala-estúdio de Lisboa” deve ser convertida num pólo cultural.

O cinema fechou as portas em Fevereiro de 2013, depois de a Socorama, que era à data o segundo maior exibidor de cinema em Portugal, ter entrado em processo de insolvência. Na altura a empresa chegou a dizer que o encerramento não era definitivo mas, cerca de um ano depois, os proprietários do espaço confirmaram ao PÚBLICO que já foi celebrado "um contrato de arrendamento comercial com uma Sociedade de Direito Português, mas com sócios de origem chinesa".

Um dos co-proprietários do Londres e representante dos restantes cinco, que pede para não ser identificado, explica que ao longo dos últimos meses "foram efectuadas diversas diligências e negociações no sentido de  arrendar de novo aquela fracção para actividade análoga à anterior, embora com características mais abrangentes". "Infelizmente, não foi possível concretizar nenhuma dessas hipóteses", afirma em esclarecimentos enviados por escrito, nos quais acrescenta que o referido contrato de arrendamento foi celebrado "à falta de outras alternativas".

Os donos do antigo cinema sublinham que "as instalações e os equipamentos estavam em estado de acentuada degradação". Situação que, acrescentam, se acentuou quando, "por decisão do Administrador Judicial de Insolvência, foi removido e vendido todo o recheio relativo ao cinema propriamente dito (cadeiras, écrans, projectores, instalação eléctrica, etc) e ao restaurante/snack-bar". Nessa altura, concluem, as instalações "ficaram completamente 'arrasadas'".

O Movimento de Comerciantes da Avenida Guerra Junqueiro, Praça de Londres e Avenida de Roma não se conforma com a decisão. Em meados de Dezembro, alguns dos seus elementos tiveram uma reunião com o representante dos proprietários do Londres, com o objectivo de encontrar uma solução que permitisse que o espaço continuasse a ter uma função cultural.

Mas os resultados desse encontro não foram animadores. “Foi-nos dito que não havia nada a fazer, que já se tinham comprometido”, explica o porta-voz do movimento. O empresário Carlos Moura-Carvalho critica o facto de este processo ter sido conduzido de forma “sigilosa”, não tendo havido qualquer publicitação de que o imóvel na Avenida de Roma estava para arrendar.

"Acordaram tarde", reage o representante dos proprietários do Londres, lembrando que passaram dez meses entre o encerramento do cinema e o pedido de reunião por parte dos comerciantes. "A ideia, que eu bem compreendia, morreu à nascença, em virtude da inércia revelada", afirma esta fonte, que questiona se os lojistas teriam "capacidade para suportarem o elevadíssimo custo das obras de recuperação do espaço e o encargo com a renda pretendida".

Apesar de a abertura de uma loja de produtos chineses lhes ter sido apresentada como “um facto consumado”, o Movimento de Comerciantes da Avenida Guerra Junqueiro, Praça de Londres e Avenida de Roma não baixou os braços e lançou a petição “O nosso bairro precisa de um polo cultural”, que pode ser assinada num conjunto de estabelecimentos comerciais da zona.

Nessa petição diz-se que “existe vontade e disponibilidade por parte de diversas entidades públicas e privadas, moradores e comerciantes, para encontrar uma solução conjunta que, em paralelo com uma opção comercial, garanta a manutenção de um polo cultural na freguesia do Areeiro”. Os autores do documento, que querem ver o assunto discutido na Assembleia Municipal de Lisboa, apontam como hipótese “a instalação de um cine clube, de uma livraria e de um ponto cultural de debate e participação”. 


Também o MaisLisboa, o núcleo lisboeta da associação cívica Mais Democracia, lançou, mas na Internet, um abaixo-assinado intitulado “Não queremos uma Loja dos 300 no Cinema Londres”. Ao fim da tarde de quarta-feira o documento, no qual se diz que a abertura desse negócio vai contribuir para a “degradação de uma das zonas comerciais mais diversificadas e históricas da cidade”, tinha cerca de 330 assinaturas.

“Naquela zona temos perdido, nos últimos anos, todos os cinemas de qualidade. Primeiro o Quarteto, depois o King e agora o Londres. Só restam os cinemas pipoqueiros”, constata Rui Pereira, autor do abaixo-assinado. A proposta do MaisLisboa, explica, é que o antigo cinema na Avenida de Roma seja explorado por “uma cooperativa”, formada por particulares e por entidades públicas, como “centro comunitário”, onde se realizem eventos culturais e onde associações sem sede possam desenvolver a sua actividade. 

Perdeu-se "a melhor sala-estúdio de Lisboa"

“O Londres foi a melhor sala-estúdio de Lisboa”, sintetiza a autora do livro Os Cinemas de Lisboa - Um fenómeno urbano do século XX. Margarida Acciaiuoli recorda que o espaço, inaugurado a 30 de Janeiro de 1972 com o filme Morrer de Amar, de André Cayatte, “foi pensado para ter três funções: ver cinema, jantar no snack-bar e conversar no Pub The Flag, que ficava ao lado”.

No livro, a professora catedrática do departamento de História da Arte da Universidade Nova de Lisboa sublinha que o Londres “afirmava-se como uma alternativa única no panorama dos cinemas da cidade”, tendo conseguido criar “um ambiente propício à apropriação dos filmes, permitindo que os espectadores permanecessem no local depois das sessões”.

“É extraordinário como conseguimos inventar o cinema, um equipamento que não existia noutros séculos, e depois desenvolvemo-lo, demolimo-lo e não fica nada para o século seguinte”, afirma Margarida Acciaiuoli. A professora diz que hoje em dia “as pessoas não vão ao cinema, vão a uma sala onde se passam filmes”. “Ir ao cinema não é como ir ao supermercado, é preciso tempo”, explica, enquadrando o fim do Cinema Londres naquilo que considera ser “uma regressão de civilização”.



“A classificação do Ippar(O Salão Monumental faz parte de um edifício classificado em 2002 como Imóvel de Interesse Público pelo Instituto Português do Património Arquitectónico (Ippar).)  abrange o interior do salão de jogos, "uma estrutura funcional marcada por um conjunto de plataformas e escadarias de grande riqueza espacial, que lhe conferem um carácter monumental", segundo se lê na ficha explicativa da protecção. A sala de cinema tinha algo de inovador: dispunha de uma esplanada que funcionava durante a projecção dos filmes.”


Salão de jogos Monumental transformado em loja chinesa
FRANCISCO NEVES 23/06/2006 - in Público
Sala mítica de bilhares
e videojogos na Av. Pedro Álvares Cabral
fecha dia 30

O salão de jogos Monumental, na Av. Pedro Álvares Cabral, em Lisboa, fecha as portas dia 30 para ao que tudo indica dar lugar a uma loja de venda de artigos chineses.
Local de grandes festas e bailes da sociedade lisboeta dos anos 30 e 40 do século passado e dotada de um arranjo interior raro, pelas suas plataformas e corredores a meia altura do salão, o Monumental foi também cenário de vários filmes portugueses, como a obra de José Fonseca e Costa Kilas, o Mau da Fita.
O Salão Monumental faz parte de um edifício classificado em 2002 como Imóvel de Interesse Público pelo Instituto Português do Património Arquitectónico (Ippar). O prédio modernista, com motivos de art déco na fachada, foi construído em 1930 segundo projecto do arquitecto Raul Martins, e compreende ainda o antigo Jardim Cinema - hoje alugado a uma produtora de programas televisivos - e a Garagem Monumental, proprietária do conjunto.
A classificação do Ippar abrange o interior do salão de jogos, "uma estrutura funcional marcada por um conjunto de plataformas e escadarias de grande riqueza espacial, que lhe conferem um carácter monumental", segundo se lê na ficha explicativa da protecção. A sala de cinema tinha algo de inovador: dispunha de uma esplanada que funcionava durante a projecção dos filmes.
Nem os empregados do salão nem a administração da Garagem Monumental - uma empresa familiar fundada por Clemente Vicente, um construtor civil oriundo de Tomar - quiseram ontem explicar ao PÚBLICO o futuro da casa de diversão, onde os bilhares do piso superior já foram desmontados.
O grande salão ocupa hoje cerca de uma dezena de pessoas, desde a funcionária da tabacaria ao pessoal que ainda toma conta das últimas 16 mesas de bilhar e snooker, das dezenas de máquinas de jogos de vídeo, mesas de pingue-pongue e matraquilhos. Vários deles são reformados que assim completam os vencimentos. Os sinais deste ocaso discreto notam-se logo à entrada. O quiosque deixa de aceitar jornais a partir de hoje e boletins de apostas só até sábado.

Ippar não inviabilizará
mudança de uso
Ontem ao fim da manhã, apenas quatro jovens se acotovelavam em torno de uma máquina de videojogos. Davam pouco que fazer aos dois empregados idosos, de calças pretas e camisa branca, manuseando papéis para anotação de partidas que ninguém encetara. A discrição da aparência era também a da fala. Nenhum sabe de nada, embora saibam que o emprego vai acabar.
O salão da Pedro Álvares Cabral ainda é frequentado por alguns jovens do ensino secundário e universitário. O vazio de quinta-feira, explica um dos funcionários, deve-se às férias. Mas já não há enchentes. A casa sofreu um grande abalo com a banalização dos jogos por computador, explicam.
"Chegou a vez dos chineses e vamos todos para a rua. Já andaram aí a ver se podiam deitar alguma coisa abaixo", disse um outro funcionário, que não se identificou.
A classificação do Ippar não permite, no entanto, que se deitem coisas abaixo no salão de jogos cujas características se pretendeu preservar. Aliás, dizia-se ontem no local, uma instituição bancária da mesma artéria terá abandonado a intenção de se instalar na casa de jogos devido à impossibilidade de mexer no interior do espaço.
Flávio Lopes, director regional de Lisboa do Ippar, disse que o instituto não recebeu nenhum pedido de obras ou de alteração do uso do salão. "O último pedido que deu entrada ocorreu em Abril de 2005. Referia-se à construção de uma escada dentro do edifício que melhorava a sua segurança e foi aprovado", referiu.
A mesma fonte adiantou que o instituto não inviabilizará à partida uma mudança de uso daquele espaço, mas que procurará que isso aconteça no respeito do seu valor arquitectónico. "Temos que admitir que a vida é uma mudança", comentou Flávio Lopes.
O PÚBLICO tentou ontem por duas vezes falar com os gestores do edifício sobre o assunto, mas estes não estiveram disponíveis.

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