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EDITORIAL
Rio abraça o Chega
Com a extinção do CDS iminente, o PSD vira-se para o que
até hoje era inimaginável. Mas convém acordar e perceber que o “ticket” para as
próximas eleições é Rio/Ventura. Ao abrir esta porta, Rio faz o que na
realidade sempre sonhou: dar um pontapé no “sistema” e enterrar a história do
PSD.
ANA SÁ LOPES
1 de Agosto de
2020, 0:48
Entre a covid, a
crise financeira, as férias, aconteceu uma grande mudança no mapa político. Foi
ultrapassado um marco que até agora ninguém tinha tido coragem em ultrapassar:
o PSD decidiu fazer aquilo de que nunca o CDS se lembrou (ainda). Admitiu que o
Chega pode ser seu parceiro político “se mudar”. A notícia foi dada por Rui Rio
na entrevista que deu a Vítor Gonçalves, da RTP, e o facto marca um antes e um
depois na política portuguesa. Quebrou-se um consenso forjado em 1974 segundo o
qual a nossa direita era “civilizada” e a que não fosse “civilizada” seria
rejeitada pelo sistema, nomeadamente pelos representantes da própria direita –
isso acabou.
Portanto, o que
se passou agora assinala uma mudança de paradigma e radical. Se o Chega
“mudar”, se passar a ter “uma posição mais moderada”, Rui Rio está ali para os
abraços. Para já, enquanto o partido “continuar numa linha de demagogia e
populismo”, não. Não há memória de um político de direita “do sistema” se ter
entregue nos braços da extrema-direita da forma como Rio o fez. Ah, mas Rio diz
que não é do sistema… Ups. Talvez aqui esteja a explicação para tão grande
corte epistemológico com a história do PSD.
João Miguel
Tavares percebeu isto antes de nós, os que acreditaram que Rui Rio “falava
falava” mas na realidade não queria dizer “aquilo”. João Miguel tem razão:
bastava levar a sério as palavras de Rio contra o sistema, o Parlamento, o
poder judicial ou a comunicação social. Era um exercício simples. E no entanto,
relativamente a Rui Rio e a sua capacidade de acolher Ventura no colo entrámos
em “denial”. Não, o homem era um moderado, aos 20 anos tinha sido apoiante de
Francisco Pinto Balsemão. Pois era.
Escreveu João
Miguel Tavares: “Finalmente, percebi Rui Rio e a sua estratégia. Rio não quer
nenhum Bloco Central. A sua aposta é num governo liderado pelo PSD com André
Ventura à pendura em 2023, ou mesmo um pouco antes disso, se a situação
económica se agravar enormemente e o Governo não aguentar. Se até lá Ventura
galgar para próximos dos 10%, roubando algum eleitorado ao PCP e à abstenção, e
se Rio conquistar sete ou oito pontos percentuais ao PS, bastar-lhe-ia chegar
próximo dos 35% para um governo de direita voltar a ser possível, tendo Rio
como primeiro-ministro”.
Com a extinção do
CDS iminente, o PSD vira-se para o que até hoje era inimaginável. Mas convém
acordar e perceber que o “ticket” para as próximas eleições é Rio/Ventura. Ao
abrir esta porta, Rio faz o que na realidade sempre sonhou: dar um pontapé no
“sistema” e enterrar a história do PSD.
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