PSP diz que testemunhas da morte de Bruno Candé afastam
motivação racista
Família do actor denunciou o “carácter premeditado e
racista” do crime. Para já, a PSP diz não ter provas de motivações racistas.
Esquerda pede justiça, Chega desvaloriza “ladainha”.
José Volta e
Pinto
José Volta e
Pinto 26 de Julho de 2020, 20:46
Bruno Candé BRUNO
SIMAO
A morte Bruno
Candé Marques, o actor alvejado mortalmente no sábado, em plena Avenida de
Moscavide, Loures, por um homem com cerca de 80 anos, é atribuída pela família
da vítima a motivações raciais, mas a Polícia de Segurança Pública (PSP) diz
não ter, até ao momento, qualquer informação que comprove a acusação.
A família do
actor, negro, adiantou no sábado que o presumível homicida, branco, já o havia
ameaçado de morte três dias antes, “proferindo vários insultos racistas” a
Bruno Candé e aos seus familiares. “Face a esta circunstância fica evidente o
carácter premeditado e racista deste crime hediondo”, escreveu a família em
comunicado.
Em declarações ao
PÚBLICO, o comissário do Comando Metropolitano de Lisboa (COMETLIS) da PSP,
Luís Santos, esclareceu que, “da inquirição das testemunhas todas do local,
ninguém fala de actos racistas”. O comissário diz que há relato de “diálogos ou
confrontos que podem estar por detrás do incidente, mas não falaram nunca em
questões racistas”.
O comissário
salvaguarda, no entanto, que “há muita coisa que agora se poderá desenvolver”
durante a investigação. Por se tratar de um homicídio, o caso foi entregue à
Polícia Judiciária (PJ). O PÚBLICO tentou obter mais informações junto da PJ,
mas sem sucesso até ao momento.
Luís Santos
acrescentou ainda que o presumível autor do homicídio está sob custódia da PSP
num dos departamentos do Comando Metropolitano de Lisboa, e que vai ser
presente a um juiz esta segunda-feira.
No entanto, e com
base nas afirmações da família de Bruno Candé, a possibilidade de o crime de
sábado ter tido motivações racistas tem sido mencionada por responsáveis
políticos e organizações cívicas. O director executivo da Amnistia
Internacional Portugal, Pedro Neto, sublinha que “tudo leva a crer, e a família
da vítima assim o diz, que foi um crime com motivação racista”.
“O racismo existe
de forma quotidiana e, pelos vistos, alegadamente e infelizmente, teve aqui um
expoente máximo que causou ódio e a morte de alguém”, lamentou Pedro Neto, que
aproveitou para criticar “algumas forças políticas e grupos da sociedade negam
a existência de racismo”. “Talvez porque não o sentem”, acrescentou.
Pedro Neto instou
ainda o Estado português a “cumprir e fazer cumprir” o compromisso que tem da
defesa dos direitos humanos, pondo em prática iniciativas que acabem com os
“crimes e a violência gerados pelo racismo”.
Também o SOS
Racismo caracterizou o homicídio de sábado como “um crime com motivações de
ódio racial”, pedindo “justiça” e que “o assassinato de Bruno Candé Marques não
seja mais um sem consequências”.
BE e Joacine
pedem justiça, Ventura critica “ladainha"
O Bloco de
Esquerda de Loures reagiu no domingo ao homicídio em Moscavide, exigindo “que
todos os pormenores e motivações do crime sejam devidamente apurados”.
“O assassinato de
Bruno Candé Marques choca-nos profundamente e obriga-nos a todos, enquanto
sociedade, a reflectir sobre como foi possível acontecer em plena luz do dia no
centro de Moscavide”, escreve o BE de Loures em comunicado.
Beatriz Gomes
Dias, deputada do BE, considerou através das redes sociais que o crime de
Moscavide “choca-nos profundamente e interpela-nos enquanto comunidade”.
“Somos convocados
a combater, intransigentemente, o muro de silêncio que cerca o racismo”,
escreveu a deputada bloquista.
Também nas redes
sociais, a deputada não-inscrita Joacine Katar-Moreira escreveu que se perdeu
“um filho nas malhas do racismo que é todos os dias alimentado por muita
gente”.
“Não à custa do
sangue da juventude negra. Não à custa das nossas vidas. Racismo é crime e a
justiça será feita”, declarou.
Por seu turno, o
deputado e líder do Chega, André Ventura rejeitou e criticou a leitura de que
se está perante mais um crime de contornos racistas. “Não há neste caso um
pingo de racismo”, escreveu rede social Twitter, considerando que a morte de
Bruno Candé “é uma tragédia, como seria o assassinato de um branco ou de um
chinês”.
“Acabem lá com
essa ladainha habitual do racismo. Não somos um país racista! Nada neste
homicídio aponta para crime de ódio racial”, escreveu no Twitter, acusando
ainda o Bloco de Esquerda de aproveitamento do caso para “espalhar a suas
habituais distorções ideológicas”.
Este domingo,
também o ministro da Administração Interna, Eduardo Cabrita, repudiou o
homicídio de Bruno Candé Marques e defendeu a acção das forças de segurança.
“Houve uma intervenção da PSP, que deteve de imediato o alegado responsável”,
disse, acrescentando que “as autoridades judiciárias tomarão as suas decisões”
perante um crime que o Governo repudia “vivamente”.
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