quinta-feira, 30 de julho de 2020

Rio admite “conversar” com Chega, mas só se partido evoluir para “posição mais moderada” / Rui Rio e o caminho para um centrismo autoritário / Ventura convoca nova manifestação "para mostrar que Portugal não é racista"


OPINIÃO
Rui Rio e o caminho para um centrismo autoritário

Rio vê-se a si próprio como um homem numa missão; alguém que tem “a obrigação moral”, por “não pertencer à mobília”, de “credibilizar o Parlamento”.

JOÃO MIGUEL TAVARES
28 de Julho de 2020, 7:08

A imagem de Rui Rio que anda há dois anos a ser vendida na comunicação social — inclusive por mim — é esta: um líder do PSD muito coladinho a António Costa, a aparar as suas principais necessidades políticas, mais próximo do socialismo do que do liberalismo, disponível para inúmeras cedências em nome do “interesse nacional”, e aparentemente cheio de vontade de estabelecer uma versão século XXI do Bloco Central, dada a manifesta incapacidade de defenestrar o PS. Até à semana passada, era isto que eu pensava de Rui Rio. Até à semana passada, estava totalmente enganado.

Aquilo que se passou no Parlamento, com o PSD a dispensar as idas quinzenais do primeiro-ministro ao hemiciclo, mais as espantosas justificações de Rio para esse facto — utilizando uma retórica antiparlamentar quase tão velha como o Parlamento —, foi para mim uma verdadeira epifania. Finalmente, percebi Rui Rio e a sua estratégia. Rio não quer nenhum Bloco Central. A sua aposta é num governo liderado pelo PSD com André Ventura à pendura em 2023, ou mesmo um pouco antes disso, se a situação económica se agravar enormemente e o Governo não aguentar. Se até lá Ventura galgar para próximo dos 10%, roubando algum eleitorado ao PCP e à abstenção, e se Rui Rio conquistar sete ou oito pontos percentuais ao PS, bastar-lhe-ia chegar próximo dos 35% para um Governo de direita voltar a ser possível, tendo Rio como primeiro-ministro.

Sinto-me estúpido por não ter acreditado nisto antes, já que não eram necessárias grandes elucubrações para chegar lá — bastava acreditar naquilo que Rui Rio anda a dizer há muito. “O regime está profundamente desgastado e incapaz de responder às exigências da sociedade”, declarou ele ao Expresso em Julho de 2019, e desde então tem repetido a mesma ideia muitas vezes. É um erro pensar que se trata apenas de conversa. Como referiu na quinta-feira, Rio vê-se a si próprio como um homem numa missão; alguém que tem “a obrigação moral”, por “não pertencer à mobília”, de “credibilizar o Parlamento”. Quem diz o Parlamento diz a democracia; quem diz a democracia diz o regime: o líder do PSD, embora esteja na política há várias décadas, vê-se a si próprio como não fazendo parte da “mobília”, como uma criatura política singular, tal qual Cavaco Silva ou, já agora, Salazar.

Nós tendemos a ligar a palavra “autoritário” aos extremos políticos, mas o século XX português mostra-nos alternativas, tanto em democracia como em ditadura. Confundidos pela palavra “fascista” e pelo conservadorismo do Estado Novo, esquecemos que Salazar colocou os verdadeiros fascistas (Rolão Preto e os camisas azuis) na prisão. E a famosa “suspensão da democracia por seis meses” saiu da boca de Manuela Ferreira Leite, uma assumida centrista. Donde, existe uma enorme tentação para um autoritarismo de centro em Portugal, isto é, para a prossecução de políticas moderadas de forma musculada (vejam também o fascínio pelo “animal feroz”), que Rui Rio está agora a recuperar com uma retórica fortíssima.

Dir-me-ão: se Rio é dado a autoritarismos, porque é que ele apoiou tantas vezes o PS? É simples: porque Costa e Rio partilham a convicção de que a política é o primeiro de todos os poderes, ao qual justiça e imprensa devem subordinar-se, por carecerem de “legitimidade democrática”. A boa notícia para o PSD é que este discurso tem ressonância no país. A má notícia para um liberal é que este tipo de mudança é tudo aquilo que o país não precisa.




PSD
Rio admite “conversar” com Chega, mas só se partido evoluir para “posição mais moderada”

Presidente do PSD descarta essa possibilidade se o partido se mantiver “numa linha de demagogia e populismo”. Sobre o Novo Banco, Rui Rio avisa que pode estar a viver-se “uma situação semelhante à do BES” e insistiu na necessidade de uma investigação “a sério” do Ministério Público.

Lusa 30 de Julho de 2020, 0:53

Rui Rio voltou a dizer que Marcelo Rebelo Sousa será “provavelmente o candidato natural” do partido para as presidenciais LUSA/FILIPE FARINHA


O presidente do PSD admitiu conversações com o Chega com vista a entendimentos eleitorais apenas se o partido evoluir “para uma posição mais moderada”, dizendo descartar essa possibilidade se esta força política “continuar numa linha de demagogia e populismo”.

Na “Grande entrevista” conduzida pelo jornalista Vítor Gonçalves, transmitido na quarta-feira à noite na RTP3, Rui Rio foi também questionado se admitia apoiar uma candidatura autárquica a Oeiras do ex-militante do partido Isaltino Morais e, sem responder directamente, deixou a sua posição sobre o facto de o actual autarca já ter estado preso.

“Em Portugal, penso que não há prisão perpétua, foi condenado, cumpriu a pena, saiu, tem direito à vida. Não estou a dizer com isto que vem para o PSD”, frisou, dizendo que actualmente Isaltino Morais “é independente”, mas que até leu num jornal que Isaltino Morais lhe fez um elogio e que, se assim foi, “esteve bem”.

Na fase final da entrevista, Rio foi questionado se admitia entendimentos com o partido Chega para formar um eventual bloco de centro-direita para chegar ao poder.

“Não depende do PSD, depende do Chega. Se o Chega evoluir de uma tal maneira que – embora seja um partido marcadamente de direita, em muitos casos de extrema-direita, muito longe de nós que estamos ao centro –, se o Chega evoluir para uma posição mais moderada, eu penso que as coisas se podem entender”, afirmou.

Em contraponto, disse, “se o Chega continuar numa linha de demagogia, de populismo, da forma como tem ido, há aqui um problema, porque aí não é possível um entendimento com o PSD”.

Questionado se não descarta, então, essa possibilidade, Rio respondeu: “Face ao que o Chega tem sido, descarto. Espero é que o Chega possa evoluir para um plano um pouco mais moderado, então não estou a dizer que se faça, mas é possível conversar”.

O presidente do PSD voltou a dizer que Marcelo Rebelo Sousa será “provavelmente o candidato natural” do partido para as presidenciais se se recandidatar, e escusou-se a apontar qual a maior discordância que teve com o actual chefe de Estado, admitindo apenas que não esteve de acordo com tudo, “na acção e na omissão”.

Rio apontou, uma vez mais, como “reduzidíssima” a probabilidade de o PSD concordar com o Orçamento do Estado para 2021 “feito por PS, PCP e BE” e até disse estar “curioso” por saber como é que este documento será “sem austeridade”, conforme prometido pelos três partidos.

Ainda sobre a polémica do fim dos debates quinzenais com o primeiro-ministro, aprovada na semana passada por PS e PSD, Rio disse que já tinha essa posição desde “2009, 2010 ou 2011”, quando começou a ver os primeiros no tempo do Governo liderado por José Sócrates.

“O engenheiro Sócrates vem agora defender os debates quinzenais e bem, porque percebe-se que foi ali devidamente fiscalizado e antes dele e era tudo uma pouca-vergonha e uma rebaldaria. Com os debates quinzenais houve ali uma fiscalização a sério, a ele e ao seu Governo”, ironizou.

O líder do PSD reiterou a sua tese de que o modelo aprovado, que passa por debates mensais com o Governo (num mês sectorial e no outro sobre política geral), não significa diminuir a fiscalização do parlamento.

“Deixe-me explicar direito, se não vão achar que vem aí o fascismo e ditadura e não há fiscalização”, pediu, afirmando que “em 11 meses de plenário, o primeiro-ministro irá obrigatoriamente oito vezes e poderá ir até 13 vezes”.

À RTP, Rio apontou como três grandes discordâncias com o Governo a gestão dos dossiers do Novo Banco, da TAP e a forma como o executivo está a posicionar-se no futuro negócio sobre o hidrogénio. “São falhas de muitos milhões de euros”, disse.

Quanto ao Novo Banco, o líder do PSD alertou poder estar a viver-se “uma situação semelhante à do BES” - sendo verdade que a instituição emprestou dinheiro para que lhe comprassem imóveis -, e insistiu na necessidade de uma investigação do Ministério Público “a sério” e nas críticas ao Governo por não ter “conferido as facturas” antes de pagar.

“Se tudo isto for verdade, significa que o Novo Banco está a vender abaixo do preço de mercado e a perder dinheiro para beneficiar alguém, sendo que não perde nada, porque são os contribuintes portugueses que lhe devolvem esse dinheiro”, apontou.

Sobre a TAP, Rio reiterou que a empresa está tecnicamente falida e, questionado se a alternativa seria “deixar cair”, admitiu essa possibilidade, perante a falta de planos de negócio e de reestruturação credíveis.

“Depende, poderia deixar, venha o plano de negócios e de reestruturação, se for exequível, então talvez sim. Uma coisa mal-amanhada, sem grande coragem para reestruturar a empresa, para o contribuinte português mais vale deixar cair. Espero não ter razão, porque se não significa que, além desta factura, virão mais ao logo dos anos”, alertou.


Ventura convoca nova manifestação "para mostrar que Portugal não é racista"

JORNAL I
29/07/2020 19:17
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O encontro está marcado paar domingo, depois de se realizarem na sexta-feira e sábado manifestações antirracistas em homenagem ao ator Bruno Candé.

André Ventura anunciou, esta quarta-feira, a convocação de uma “contramanifestação” em Lisboa. O encontro, agendado para domingo, decorrerá depois das concentrações antirracistas em homenagem ao ator Bruno Candé, assassinado no sábado passado, que estão agendadas para sexta-feira, em Lisboa e Coimbra, e no sábado, no Porto e Braga.

“Esta vai ser uma manifestação para cumprir o que prometemos: sempre que a esquerda sair à rua para dizer que Portugal é um país racista, nós sairemos à rua com o dobro da força para mostrar que Portugal não é racista. As ruas são da direita desde o aparecimento do Chega”, afirmou, avançando que espera “várias centenas de pessoas” vindas de todo o país para “encher a Praça do Município”.

O líder do Chega considerou que “o caso trágico do ator assassinado nada tem a ver com racismo”. Em comunicado, a família do homem de 39 anos, de origem guineense, referiu que “o seu assassino já o havia ameaçado de morte três dias antes, proferindo vários insultos racistas”.

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