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EDITORIAL
O Novo Banco é o novo banco mau
A investigação do PÚBLICO desta terça-feira demonstra que
nem os depositantes do Novo Banco podem manter a sua confiança nem a
estabilidade do sistema financeiro pode ser garantida com este padrão de
gestão.
AMÍLCAR CORREIA
DIRECTOR-ADJUNTO
28 de Julho de
2020, 5:59
O Novo Banco
vendeu mais de 13 mil imóveis a um fundo anónimo sediado nas ilhas Caimão,
emprestou dinheiro a quem os comprou, registou prejuízos daquele que foi o
maior negócio imobiliário dos últimos anos em Portugal, e o segundo maior da
Península Ibérica, e ainda recebeu compensação pelas perdas de centenas de
milhões através do Fundo de Resolução. Não se sabe quem comprou os imóveis e
ninguém escrutinou quem eram os compradores.
Helena Roseta
tinha toda a razão quando, no seu último discurso na Assembleia da República,
se referiu ao “fundo abutre” ao qual o Novo Banco estava a vender “activos
imobiliários não estratégicos, ao desbarato e com grandes perdas”. A pergunta
da então deputada tinha toda a pertinência: “Já que, directa ou indirectamente,
somos todos chamados a pagar para manter a confiança dos depositantes e a
estabilidade do sistema financeiro, já que a nacionalização do Novo Banco foi
descartada, porque não há de o imobiliário não estratégico do novo banco ficar
na posse do Estado?”
A investigação de
Paulo Pena nas páginas do PÚBLICO desta terça-feira demonstra que nem os
depositantes do Novo Banco poderão manter a sua confiança nem a estabilidade do
sistema financeiro poderá ser garantida com este padrão de gestão. As casas e
os terrenos alienados foram comercializadas por um preço (364 milhões de euros)
muito abaixo do valor pelo qual foram avaliadas (631 milhões), pelo que foi o
Fundo de Resolução, a pedido do banco, a colmatar as perdas.
A divisão do BES
em dois teve o extraordinário efeito de criar dois bancos maus, sendo que o
banco que vende pechinchas, como lhes chamou Roseta, pedincha por isto e por
aquilo porque sabe que o Fundo de Resolução se compromete a injectar dinheiro
sempre que as suas contas o reclamem. Assim, é muito fácil e lucrativo gerir um
banco: a remuneração dos gestores da Lone Star aumentou 75% nos dois últimos
exercícios e o fundo ao qual o seu chairman esteve ligado anteriormente comprou
activos da instituição com 70% de desconto.
Estamos perante
uma impunidade que não pode ser ignorada, sob pena de o Novo Banco se
transformar num “abutre” do erário. António Costa pediu ao Ministério Público a
suspensão de venda de activos do banco até à conclusão da autoria, esta
sexta-feira, e disse no Parlamento que, quando for conhecida a auditoria em
curso à instituição, caso se revelem “falhas de gestão”, o Estado teria toda a
“legitimidade” para recuperar o dinheiro que não devia ter desembolsado. Já não
é só uma questão de legitimidade. É um dever.
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