POLÍTICA
MONETÁRIA
Lagarde voltou a subir taxas, mas agora já coloca a
hipótese de uma pausa
Depois de colocar as taxas de juro 0,25 pontos
percentuais acima, Christine Lagarde disse estar de “mente aberta” em relação
ao que irá acontecer na próxima reunião, em Setembro.
Sérgio Aníbal
27 de Julho de
2023, 16:57
A troca de uma só
palavra numa frase do comunicado emitido esta quinta-feira pelo Banco Central
Europeu simboliza a mudança de sentimento a que se está a assistir em
Frankfurt, reforçando as expectativas de que o ciclo de fortes subidas de taxas
de juro a que se tem assistido ao longo do último ano pode finalmente estar a
chegar ao fim.
Depois de, tal
como tinha acontecido na reunião de Junho, terem decidido voltar a subir as
taxas de juro de referência do BCE em 0,25 pontos percentuais, os responsáveis
do banco central decidiram alterar, no comunicado oficial da decisão, uma
palavra na frase em que sinalizam qual o rumo futuro das taxas de juro. Em vez
de dizerem, como aconteceu no comunicado de Junho, que as taxas de juro serão
“trazidas para um nível suficientemente restritivo”, passaram a afirmar apenas
que as taxas serão “definidas para um nível suficientemente restritivo”.
Pode parecer
apenas um pormenor, mas no mundo dos bancos centrais este tipo de detalhes faz
toda a diferença. Principalmente quando, na conferência de imprensa que se
seguiu ao anúncio da subida de juros, a própria presidente do BCE reconheceu
que a mudança de palavras feita no comunicado “não foi feita ao acaso, nem é
irrelevante”.
O que os
responsáveis do banco central fazem, ao deixar de dizer que as taxas de juro
serão “trazidas”, passando a dizer “definidas”, é deixar de colocar como
improvável que não haja uma mexida de taxas de juro na próxima reunião,
agendada para 17 de Setembro.
A subida de 0,25
pontos percentuais realizada esta quinta-feira nas taxas de juro – que colocou
a taxa de juro de depósito do BCE nos 3,75% - já era amplamente esperada,
depois de Lagarde e outros membros do conselho do BCE terem, no final da
reunião de Junho e ao longo das últimas semanas, repetido que esse era um
cenário “muito provável”.
A dúvida estava
em saber quais os sinais que iriam sair desta reunião relativamente ao futuro.
E a questão que se colocava era se Lagarde iria continuar a sinalizar a
necessidade de o BCE ainda ir mais longe na sua luta contra a inflação com mais
subidas de juros ou se, na sequência dos dados económicos mais negativos
conhecidos nas últimas semanas na zona euro, passaria a colocar a hipótese de
haver uma pausa, temporária ou permanente, no processo de endurecimento da
política monetária na Europa.
Quer o comunicado
quer as declarações de Lagarde apontam claramente para a segunda hipótese.
“Existe a possibilidade de uma subida [de taxas de juro na próxima reunião].
Existe a possibilidade de uma pausa. É um talvez decidido”, afirmou a
presidente do BCE, repetindo por diversas vezes a ideia de que a decisão do
banco central em Setembro dependerá da forma como evoluírem os indicadores
económicos nas próximas semanas.
Até 17 de
Setembro, irão ser conhecidos os dados da inflação da zona euro em Julho (já na
próxima segunda-feira) e de Agosto, assim como o ritmo de crescimento da
economia durante o segundo trimestre do ano.
No comunicado,
apesar de se repetir que “a inflação continua a cair mas ainda se espera que
permaneça demasiado alta durante demasiado tempo”, é também reconhecido que “as
subidas de taxas de juro já feitas continuam a ser transmitidas de forma
forte”. “As condições financeiras ficaram novamente mais apertadas e estão cada
vez mais a limitar a procura, o que é um factor importante para trazer a
inflação de volta ao objectivo”, escrevem os responsáveis do banco central.
Esta ideia de que
o esforço do BCE para controlar a inflação está a produzir frutos, podendo não
ser preciso ir ainda mais longe, foi ainda reiterada por Christine Lagarde:
“Sabemos que estamos cada vez mais perto.”
A reunião desta
quinta-feira em Frankfurt foi a nona consecutiva em que os membros do conselho
do BCE decidiram subir as taxas de juro. A taxa de juro de depósito do banco
central, a principal referência para os custos de financiamento na zona euro e
que há um ano se encontrava ainda em -0,5%, passou agora de 3,5% para 3,75%.
Uma notícia com impacto na situação financeira de muitos portugueses porque o
valor das taxas de juro de referência do banco central reflecte-se nas taxas de
juro Euribor, que são usadas como indexante na maioria dos empréstimos no país.
Ao subir as suas
taxas de juro, os responsáveis da autoridade monetária europeia procuram
precisamente limitar e encarecer o acesso ao crédito de particulares e
empresas, restringindo o investimento e o consumo, na expectativa de que tal
possa travar a subida dos preços dos bens e serviços. O objectivo do BCE é
trazer a taxa de inflação na zona euro, que superou a barreira dos 10% no final
de 2022 e que no passado mês de Junho se cifrou em 5,5%, para o objectivo de
médio prazo, definido pela própria instituição, de 2%.
Se, de facto, o
BCE acabar por se decidir por uma pausa no processo de subida de taxas que dura
já há um ano, as famílias e empresas portuguesas podem assistir nos próximos
tempos a uma estabilização dos seus custos de financiamento, algo que aliás já
vinha sendo sentido nas últimas semanas à medida que se reforçavam nos mercados
as expectativas de uma atitude menos agressiva por parte do banco central.
No entanto,
aquilo que dificilmente se pode esperar é um início para breve de um movimento
de descida dos juros. Christine Lagarde, à semelhança do que fazem os líderes
dos bancos centrais dos Estados Unidos e do Reino Unido, tem alertado que, para
fazer face à inflação alta persistente que se verifica na zona euro, a política
monetária seguida tem de ser ela também persistente. Isto é, depois de pararem
de subir, o mais provável é as taxas de juro manterem-se a um nível elevado
durante algum tempo.
Como refere o
comunicado desta quinta-feira, as taxas de juro serão “definidas a um nível
suficientemente restritivo pelo tempo que for necessário para atingir um
regresso atempado da inflação para o objectivo de médio prazo de 2%”. Nas
previsões realizadas em Julho, o BCE aponta para que a inflação se cifre ainda
em 3% no próximo ano e que chegue aos 2,2% em 2025.
Apenas um cenário
de recessão profunda da economia europeia, que conduzisse a um recuo mais forte
do que o esperado da inflação, poderia levar o banco central a reconhecer que
tinha ido longe de mais, invertendo o rumo das taxas de juro e trazendo os
custos de financiamento na zona euro novamente para baixo.
MONETARY
POLICY
Lagarde has raised rates again, but now she is
considering a pause
After putting interest rates 0.25 percentage points
higher, Christine Lagarde said she was "open-minded" about what would
happen at the next meeting in September.
Sérgio Aníbal
27 July 2023,
16:57
The
one-word exchange in a sentence of the statement issued on Thursday by the
European Central Bank symbolizes the shift in sentiment that is being witnessed
in Frankfurt, reinforcing expectations that the cycle of sharp interest rate
hikes that has been seen over the past year may finally be coming to an end.
After, as
had happened at the June meeting, decided to raise the ECB's reference interest
rates by 0.25 percentage points again, the central bank's officials decided to
change, in the official communiqué of the decision, a word in the sentence in
which they signal the future direction of interest rates. Instead of saying, as
happened in the June communiqué, that interest rates will be "brought to a
sufficiently restrictive level", they have only stated that rates will be
"set to a sufficiently restrictive level".
It may seem
like just a detail, but in the world of central banking this kind of detail
makes all the difference. Especially when, at the press conference that
followed the announcement of the rate hike, the ECB president herself acknowledged
that the change of words made in the statement "was not made at random,
nor is it irrelevant."
What
central bank officials do, by moving from saying interest rates will be
"brought" to "set," is to stop putting it as unlikely that
there won't be a stirring of interest rates at the next meeting, scheduled for
Sept. 17.
Thursday's
0.25 percentage point rise in interest rates – which put the ECB's deposit
interest rate at 3.75% – was already widely expected, after Lagarde and other
ECB board members repeated at the end of their June meeting and over the past
few weeks that this was a "very likely" scenario.
The
question was what signs would come out of this meeting for the future. And the
question was whether Lagarde would continue to signal the need for the ECB to
go even further in its fight against inflation with more rate hikes or whether,
following the most negative economic data known in recent weeks in the
eurozone, she would raise the possibility of a pause. temporary or permanent, in the process of
tightening monetary policy in Europe.
Both the
communiqué and Lagarde's statements clearly point to the second hypothesis.
"There is a possibility of a hike [in interest rates at the next meeting].
There is the possibility of a break. It's a decider," she said, repeatedly
repeating the idea that the central bank's decision in September will depend on
how economic indicators evolve in the coming weeks.
By 17
September, eurozone inflation data for July (as early as next Monday) and
August will be known, as well as the pace of growth of the economy during the
second quarter of the year.
In the
statement, despite repeating that "inflation continues to fall but is
still expected to remain too high for too long", it is also acknowledged
that "the interest rate hikes already made continue to be transmitted
strongly". "Financial conditions have again tightened and are
increasingly limiting demand, which is an important factor in bringing
inflation back to target," the central bank's officials write.
This idea
that the ECB's effort to control inflation is bearing fruit, and may not need
to go any further, was further reiterated by Christine Lagarde: "We know
that we are getting closer and closer."
Thursday's
meeting in Frankfurt was the ninth in a row that ECB board members decided to
raise interest rates. The central bank's deposit interest rate, the main
benchmark for borrowing costs in the euro area and which a year ago was still
at -0.5%, has now risen from 3.5% to 3.75%. A news with an impact on the
financial situation of many Portuguese because the value of the central bank's
reference interest rates is reflected in Euribor interest rates, which are used
as an index in most loans in the country.
By raising
their interest rates, the leaders of the European monetary authority are
precisely seeking to limit and make access to credit for individuals and
companies more expensive, restricting investment and consumption, in the hope
that this will halt the rise in the prices of goods and services. The ECB's
objective is to bring the inflation rate in the euro area, which surpassed the
10% barrier at the end of 2022 and which last June amounted to 5.5%, to the
medium-term objective, defined by the institution itself, of 2%.
If, in
fact, the ECB ends up deciding to pause the process of raising rates that has
lasted for a year, Portuguese households and companies may see in the near
future a stabilization of their financing costs, something that had already
been felt in recent weeks as expectations of a less aggressive attitude on the
part of the central bank were reinforced in the markets.
However,
what can hardly be expected is a brief start to a downward movement in interest
rates. Christine Lagarde, like the leaders of the central banks of the United
States and the United Kingdom, has warned that in order to cope with the
persistently high inflation in the euro area, the monetary policy followed must
also be persistent. That is, after they stop rising, interest rates are more
likely to remain at a high level for some time.
As
Thursday's statement said, interest rates will be "set at a sufficiently
restrictive level for as long as it takes to achieve a timely return of
inflation to the 2% medium-term objective." In its forecasts in July, the
ECB expects inflation to still be 3% next year and to reach 2.2% in 2025.
Only a
scenario of a deep recession in the European economy, leading to a
stronger-than-expected pullback in inflation, could lead the central bank to
acknowledge that it had gone too far, reversing the course of interest rates
and bringing financing costs in the eurozone back down.
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