quarta-feira, 17 de maio de 2023

Risco elevado de “corrupção urbanística”

 


 EDITORIAL

Risco elevado de “corrupção urbanística”

 

Existe a oportunidade, existe quem a aproveite e, pelo que se percebe, as autarquias não se diferenciam muito na capacidade que têm de estabelecer mecanismos que evitem a corrupção

 

David Pontes

16 de Maio de 2023, 23:14

https://www.publico.pt/2023/05/16/opiniao/editorial/risco-elevado-corrupcao-urbanistica-2049923

 

“Corrupção urbanística” é um crime que não está tipificado, mas, com alguma ironia, bem que o poderia ser, tal é a regularidade com que as divisões de urbanismo das autarquias e os responsáveis políticos que as tutelam são alvo de suspeição e, em muitos dos casos, são mesmo objecto de julgamento e condenação.

 

Ontem, o principal alvo da justiça foi um dos municípios mais importantes do país, Vila Nova de Gaia, não só pela dimensão, mas pela posição de relevo que ocupa o seu presidente, Eduardo Vítor Rodrigues, presidente da Área Metropolitana do Porto e presidente da Federação Distrital do PS. Foi o principal, mas não foi o único, já que tanto o município do Porto como a empresa do metro foram também alvo de buscas e, no caso do município portuense, dois funcionários foram detidos.

 

O que liga estas instituições são os empresários imobiliários detidos, um deles também investigado num outro caso recente, aquele que levou à prisão do presidente da Câmara de Espinho e à suspensão de mandato do deputado do PSD Joaquim Pinto Moreira. E o que isto denota é que é espúrio pensar que são só umas tantas maçãs podres entre 308 municípios que dão mau nome aos autarcas.

 

O que a transversalidade de muitos destes casos, envolvendo várias autarquias, revela é que o urbanismo continua central no orçamento de muitos municípios e os milhões que representa são uma enorme tentação para o crime. Existe a oportunidade, existe quem esteja disponível para a aproveitar, empresários e autarcas, e, pelo que se percebe, as autarquias não se diferenciam muito na capacidade que têm de estabelecer mecanismos que evitem a corrupção. É um problema que revela características sistémicas, o que deveria provocar a indignação e acção bastante mais firme de todos os autarcas que não pretendam ver uma das maiores conquistas da democracia, o poder local, para sempre manchada pelos fumos de corrupção.

 

E o volume do problema ainda se pode tornar bem maior quando percebemos que o país deverá continuar a registar uma subida nos índices de construção motivada pela crescente procura de habitação e por uma indústria do turismo pujante. Ou seja, as oportunidades não vão faltar e o problema não é só o crime que a corrupção representa. É que quem paga e quem recebe por baixo da mesa não dá qualquer garantia de estar a construir as cidades e os municípios de que os cidadãos precisam, mas só simplesmente aquelas que o dinheiro dos corruptores pode pagar.

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