JUSTIÇA
Vice de Gaia terá recebido 120 mil euros em luvas através
de intermediário
Presidente da câmara, Eduardo Vítor Rodrigues, é um dos
12 arguidos neste caso de corrupção centrado no urbanismo de Gaia. Terão sido
favorecidos vários projectos imobiliários no valor de 300 milhões.
Mariana Oliveira
16 de Maio de
2023, 23:29
O vice-presidente
da Câmara Municipal de Gaia, Patrocínio Azevedo, terá recebido mais de 120 mil
euros de “luvas” em dinheiro vivo pagas pelos dois empresários da construção
civil detidos esta terça-feira no âmbito da Operação Babel. Dois pagamentos, um
feito em Janeiro e outro em Junho de 2021, terão sido realizados através de um
advogado que possui escritório em Gaia e que a Polícia Judiciária e o
Ministério Público acreditam fazer a ponte entre os investidores e o autarca.
Os dois encontros
terão sido presenciados pelos investigadores que registaram ao pormenor como é
que na véspera de São João de 2021 o empresário Paulo Malafaia entregou numa
casa de banho do Norteshopping uma bolsa contendo 99.600 euros em dinheiro ao
advogado que fazia a ligação a Patrocínio Azevedo. No fim da transacção,
Malafaia, parceiro de negócios de Elad Dror, fundador do grupo israelita
Fortera - de quem tinha recebido as notas pouco antes – ainda se desloca a uma
loja para comprar umas colunas de 400 euros para dar ao advogado.
As entregas
acontecem enquanto na Câmara de Gaia se discutia a viabilidade do
empreendimento Alive Riverside, um conjunto de apartamentos com vista para o
Douro, perto da ponte da Arrábida, que implica um investimento de 110 milhões e
cuja conclusão está prevista para o Verão de 2025. “Ficará também a 200 metros
da futura linha de metro Rubi, que deverá ligar o Porto a Santo Ovídio em
2025”, lê-se no site do empreendimento do grupo Fortera.
A Polícia
Judiciária confirmou esta terça-feira ter feito sete detenções no âmbito da
chamada Operação Babel, referindo-se a “um titular de cargo político
[Patrocínio Azevedo], dois funcionários de serviços autárquicos, um funcionário
de Direcção Regional de Cultura do Norte, dois empresários e um profissional
liberal”. Dá conta ainda que foram constituídos 12 arguidos, sem indicar que do
rol fazia parte o presidente da câmara gaiense, Eduardo Vítor Rodrigues.
Adiantava ainda
que o caso se centrava “na viciação de normas e instrução de processos de
licenciamento urbanístico em favor de promotores associados a projectos de
elevada densidade e magnitude, estando em causa interesses imobiliários na
ordem dos 300 milhões de euros, mediante a oferta e aceitação de contrapartidas
de cariz pecuniário”.
Não dizia era que
em causa estavam três inquéritos independentes, um processo mãe (no âmbito do
qual está detido o vice da câmara de Gaia e mais quatro pessoas) e dois filhos,
um em que os detidos são dois funcionários que trabalharam no urbanismo do município
do Porto e outro sem presos.
O que liga os
dois casos com detidos são os empresários Paulo Malafaia e Elad Dror, que
mantinham negócios imobiliários nas duas cidades. Se num caso o suspeito de
corrupção passiva é o vice-presidente gaiense, no outro são os tais
funcionários que trabalhavam no urbanismo, um que ainda está na Câmara do Porto
e outro que já saiu. O facto de a PJ ter apreendido o telemóvel do vereador do
urbanismo, Pedro Baganha, e a um dirigente poderão fazer escalar as suspeitas,
mas para já não existem indícios contra estes responsáveis.
Enquanto uns
inspectores estavam na Gaiurb, outros encontravam-se no Departamento de
Urbanismo do Porto e outros ainda deslocavam-se à Metro do Porto. Aqui
recolheram informações sobre a nova Linha Rubi, cujo traçado chegou a originar
um parecer negativo da Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional do
Norte no âmbito do projecto do Alive Riverside. Esta linha, cujo projecto
implica um investimento de 435 milhões de euros financiados pelo Plano de
Recuperação e Resiliência, irá ligar a Casa da Música a Santo Ovídio, em Gaia.
Torre de 28 andares
Criada em 2015
para actuar no segmento imobiliário de luxo, a Fortera tem em curso a
construção da torre mais alta do país no futuro Centro de Congressos de Gaia,
com 28 andares e cem metros de altura, um dos empreendimentos que também terá
sido favorecido.
Situado na Rua do
General Torres, nas traseiras da Câmara de Gaia, o edifício terá 160 quartos de
hotel e 111 apartamentos com serviço, um terraço, uma piscina infinita, um
clube de bem-estar, bar, dois restaurantes e vista panorâmica.“Temos mais de
700 milhões de euros de projectos em curso para os próximos cinco anos”, refere
o site da Fortera.
Paulo Malafaia tinha sido detido em Janeiro passado no âmbito do inquérito que envolveu o então presidente da Câmara de Espinho, Miguel Reis, que entretanto renunciou ao cargo. Miguel Reis ficou a aguardar o desenrolar do caso com o nome Operação Vórtex em prisão preventiva, enquanto a Malafaia foi aplicada uma caução de 60 mil euros, que pagou sem recorrer. Não é por coincidência que o empresário está envolvido nos dois inquéritos. É que o Vórtex também teve na sua origem uma certidão do caso que envolve o vice da Câmara de Gaia. com Ana Henriques e Margarida Go
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