quarta-feira, 17 de maio de 2023

Vice de Gaia terá recebido 120 mil euros em luvas através de intermediário

 



JUSTIÇA

Vice de Gaia terá recebido 120 mil euros em luvas através de intermediário

 

Presidente da câmara, Eduardo Vítor Rodrigues, é um dos 12 arguidos neste caso de corrupção centrado no urbanismo de Gaia. Terão sido favorecidos vários projectos imobiliários no valor de 300 milhões.

 


Mariana Oliveira

16 de Maio de 2023, 23:29

https://www.publico.pt/2023/05/16/sociedade/noticia/vice-gaia-tera-recebido-120-mil-euros-luvas-atraves-intermediario-2049945

 

O vice-presidente da Câmara Municipal de Gaia, Patrocínio Azevedo, terá recebido mais de 120 mil euros de “luvas” em dinheiro vivo pagas pelos dois empresários da construção civil detidos esta terça-feira no âmbito da Operação Babel. Dois pagamentos, um feito em Janeiro e outro em Junho de 2021, terão sido realizados através de um advogado que possui escritório em Gaia e que a Polícia Judiciária e o Ministério Público acreditam fazer a ponte entre os investidores e o autarca.

 

Os dois encontros terão sido presenciados pelos investigadores que registaram ao pormenor como é que na véspera de São João de 2021 o empresário Paulo Malafaia entregou numa casa de banho do Norteshopping uma bolsa contendo 99.600 euros em dinheiro ao advogado que fazia a ligação a Patrocínio Azevedo. No fim da transacção, Malafaia, parceiro de negócios de Elad Dror, fundador do grupo israelita Fortera - de quem tinha recebido as notas pouco antes – ainda se desloca a uma loja para comprar umas colunas de 400 euros para dar ao advogado.

 

As entregas acontecem enquanto na Câmara de Gaia se discutia a viabilidade do empreendimento Alive Riverside, um conjunto de apartamentos com vista para o Douro, perto da ponte da Arrábida, que implica um investimento de 110 milhões e cuja conclusão está prevista para o Verão de 2025. “Ficará também a 200 metros da futura linha de metro Rubi, que deverá ligar o Porto a Santo Ovídio em 2025”, lê-se no site do empreendimento do grupo Fortera.

 

A Polícia Judiciária confirmou esta terça-feira ter feito sete detenções no âmbito da chamada Operação Babel, referindo-se a “um titular de cargo político [Patrocínio Azevedo], dois funcionários de serviços autárquicos, um funcionário de Direcção Regional de Cultura do Norte, dois empresários e um profissional liberal”. Dá conta ainda que foram constituídos 12 arguidos, sem indicar que do rol fazia parte o presidente da câmara gaiense, Eduardo Vítor Rodrigues.

 

Adiantava ainda que o caso se centrava “na viciação de normas e instrução de processos de licenciamento urbanístico em favor de promotores associados a projectos de elevada densidade e magnitude, estando em causa interesses imobiliários na ordem dos 300 milhões de euros, mediante a oferta e aceitação de contrapartidas de cariz pecuniário”.

 

Não dizia era que em causa estavam três inquéritos independentes, um processo mãe (no âmbito do qual está detido o vice da câmara de Gaia e mais quatro pessoas) e dois filhos, um em que os detidos são dois funcionários que trabalharam no urbanismo do município do Porto e outro sem presos.

 

O que liga os dois casos com detidos são os empresários Paulo Malafaia e Elad Dror, que mantinham negócios imobiliários nas duas cidades. Se num caso o suspeito de corrupção passiva é o vice-presidente gaiense, no outro são os tais funcionários que trabalhavam no urbanismo, um que ainda está na Câmara do Porto e outro que já saiu. O facto de a PJ ter apreendido o telemóvel do vereador do urbanismo, Pedro Baganha, e a um dirigente poderão fazer escalar as suspeitas, mas para já não existem indícios contra estes responsáveis.

 

Enquanto uns inspectores estavam na Gaiurb, outros encontravam-se no Departamento de Urbanismo do Porto e outros ainda deslocavam-se à Metro do Porto. Aqui recolheram informações sobre a nova Linha Rubi, cujo traçado chegou a originar um parecer negativo da Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional do Norte no âmbito do projecto do Alive Riverside. Esta linha, cujo projecto implica um investimento de 435 milhões de euros financiados pelo Plano de Recuperação e Resiliência, irá ligar a Casa da Música a Santo Ovídio, em Gaia.

 

Torre de 28 andares

Criada em 2015 para actuar no segmento imobiliário de luxo, a Fortera tem em curso a construção da torre mais alta do país no futuro Centro de Congressos de Gaia, com 28 andares e cem metros de altura, um dos empreendimentos que também terá sido favorecido.

 

Situado na Rua do General Torres, nas traseiras da Câmara de Gaia, o edifício terá 160 quartos de hotel e 111 apartamentos com serviço, um terraço, uma piscina infinita, um clube de bem-estar, bar, dois restaurantes e vista panorâmica.“Temos mais de 700 milhões de euros de projectos em curso para os próximos cinco anos”, refere o site da Fortera.

 

Paulo Malafaia tinha sido detido em Janeiro passado no âmbito do inquérito que envolveu o então presidente da Câmara de Espinho, Miguel Reis, que entretanto renunciou ao cargo. Miguel Reis ficou a aguardar o desenrolar do caso com o nome Operação Vórtex em prisão preventiva, enquanto a Malafaia foi aplicada uma caução de 60 mil euros, que pagou sem recorrer. Não é por coincidência que o empresário está envolvido nos dois inquéritos. É que o Vórtex também teve na sua origem uma certidão do caso que envolve o vice da Câmara de Gaia. com Ana Henriques e Margarida Go

Sem comentários: