Tejo da discórdia: Agricultores avisam que desvio do
caudal para partes de Espanha e Portugal vai matar o ‘pomar da Europa’
Por Pedro Zagacho
Goncalves 18:24, 20 Abr 2023
A falta de água
em Espanha está a ganhar contornos mais distinguíveis de uma guerra política,
que, tal como o Tejo, aqui o centro da discórdia, acabará também por ‘desaguar’
em Portugal. O plano do Governo de Pedro Sánchez de aumentar o caudal principal
do rio, que abastece depois várias regiões em Espanha e Portugal, incluindo
Madrid e Lisboa, está a gerar polémica e os agricultores espanhóis alegam que a
medida vai matar quele que é considerado o ‘pomar da Europa’.
Ao longo de mais
de 40 anos que a água do Tejo e desviada, através de uma série de túneis e
aquedutos, para o rio Segura, no sudeste, permitindo nessa região um amplo
cultivo de frutas e vegetais. Mas, com o plano de Sánchez para reforçar o
caudal principal do Tejo, o fornecimento de água ao Segura vai ser
drasticamente reduzido.
O tema tem
motivado políticos e agricultores a protestos e tornou-se numa das grandes
dores de cabeça para o Governo, antes das eleições marcadas para maio.
A decisão surge
depois de uma série de tribunais decidirem que o nível de água do Tejo tem de ser
aumentado para cumprir as determinações da União Europeia (UE), sendo que o
caudal terá de aumentar de 3 metros cúbicos por segundo para 8,7 metros cúbicos
por segundo, até 2027.
“Claro que, se
temos de garantir que há um nível correto no Tejo, a quantidade disponível que
é transferida para áreas mais secas de Espanha provavelmente vai ser cada vez
menor. Queremos antecipar soluções para algo que já é uma realidade. Temos
menos água devido às alterações climáticas”, defende ao Político Teresa Ribera,
ministra da Transição ‘verde’ de Espanha. A governante que é inevitável que se
verifique queixas “das pessoas que esperavam ter sempre a mesma quantidade” de
água disponível.
è na região que
será mais afetada, onde ficam cidades como Múrcia, Almería ou Alicante que são
cultivadas a maioria das exportações de fruta para a UE, pelo que é considerada
o ‘Pomar da Europa’. Representa 70% de todas as exportações de vegetais, e 25%
das de frutos, segundo as associações espanholas de agricultores.
Para compensar a
falta de chuvas e a situação de seca dos últimos anos, são cada vez mais os
agricultores desta zona que dependem da água desviada do Tejo. “Sem ela,
teríamos uma paisagem tão seca quanto a lua”, aponta Juan Guillén, agriultor.
Mais de 100 mil
empregos dependem da agricultura nas regiões que serão afetadas, e onde esta
atividade representa uma fatia de 3 mil milhões de euros do PIB espanhol, todos
os anos.
O caso está a
causar divisão entre as várias regiões administrativas, e deverá ser usado em
Valência, Múrcia e Castilha-La Mancha, que terão eleições em maio, como arma
política.
Por exemplo, em
Múrcia, uma sondagem revelou que a escassez de água é a segunda maior
preocupação entre os residentes, logo atrás do desemprego.
“Precisamos de
considerar que tipo de agricultura é feita a médio-termo, porque os cenários
que temos mostram-nos uma grande quebra nos recursos de água disponíveis. A
atividade agrícola está a ser mantida de uma forma que é desproporcional em
termos hidrológicos”, alerta Salvador Sanchez, investigador do Conselho
Nacional de Investigação de Espanha, avisando que o Tejo vai mesmo perder 15%
do seu volume de água nos próximos 20 a 30 anos.
“Este conflito
precisa de ser resolvido. Há cada vez menos água e cada vez mais pressão na
quantidade disponível. Por isso temos que ser inovadores nas estratégias de
gestão”, termina.
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